O grande problema do nome do álbum "O Papa é Pop", segundo Humberto Gessinger
Por Gustavo Maiato
Postado em 10 de outubro de 2025
Quando o Engenheiros do Hawaii lançou o álbum "O Papa é Pop", em 1990, o Brasil vivia um momento de efervescência cultural e política. O rock nacional, então no auge, buscava novas formas de se comunicar com o público, e o título provocativo escolhido por Humberto Gessinger parecia sintetizar o espírito da época - questionador, irônico e direto. Décadas depois, porém, o próprio compositor admite que talvez tenha ido longe demais na escolha do nome que marcaria uma das fases mais emblemáticas de sua banda.
Em entrevista ao canal Music Es Un Voyage, Gessinger refletiu sobre o impacto do título e revelou que hoje o vê com outros olhos. "Tem coisas de que eu me arrependo, assim, de título. O Papa é Pop é uma delas", afirmou. "Eu não colocaria aquele nome hoje. Ficou muito o que já tava ali, sabe? A música já estava ali." O músico explicou que o tema pretendido era secundário - uma discussão sobre o equilíbrio entre arte e popularidade -, mas o título acabou dominando o álbum e se sobrepondo ao conteúdo.
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Humberto Gessinger e "O Papa é Pop"
Gessinger comparou o caso a uma confusão comum entre "tema" e "locação" em obras de arte: "Vi um diretor falando sobre um filme da Segunda Guerra. O entrevistador disse: 'O assunto é a guerra'. E ele respondeu: 'Não, a locação é a guerra. O assunto é a solidão'. Acho que O Papa é Pop podia ser a locação dessa canção, não o assunto principal." Para ele, o título acabou tomando um protagonismo que nunca foi a intenção inicial, ofuscando parte da sutileza da mensagem.

Em outro momento da entrevista, o músico falou sobre "Guantánamo", composição mais recente, e a canção "Refrão de Bolero", destacando o processo criativo por trás dos títulos. "Guantánamo veio depois, como uma lista de perguntas. O refrão dizia: 'cara, eu não sei a resposta, não adianta'. O nome surgiu depois, e tira a música do aspecto pessoal - eu e minhas dúvidas existenciais - e coloca num contexto maior, mundial, de gente que é torturada pra responder coisas que às vezes nem sabe por que está ali", explicou.
Já sobre "Refrão de Bolero", ele afirmou que o nome foi decisivo para que a faixa existisse: "Não gravaria essa música se não fosse com esse nome. Refrão de Bolero é fundamental, porque se fosse só uma balada, seria 'mais uma balada'. O nome dá essa ironia, porque bolero, pra minha geração, sempre foi coisa de velho, careta e dramática."

Confira a entrevista completa abaixo.

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