A superbanda com membros da Finlândia e Argentina que conta com vocalista do Evergrey
Por Gustavo Maiato
Postado em 24 de janeiro de 2025
O mundo da música continua a provar que as fronteiras geográficas são cada vez menos relevantes quando se trata de criatividade. É nesse espírito que surge o Full Nothing, uma superbanda formada pelo argentino Nicolás Marcos, pelo finlandês Juha Kylmänen e por uma série de artistas convidados de peso. Desde 2012, o grupo aposta em misturar elementos de metal gótico, progressivo e alternativo, conquistando fãs ao redor do globo.
Em 2024, o Full Nothing lançou dois álbuns: "Our Legacy" e "The Perfect Animal", este último contando com participações de artistas renomados, como Tom Englund, do Evergrey. Nesta entrevista exclusiva com o vocalista Juha Kylmänen, conduzida pelo jornalista Gustavo Maiato, o músico compartilha bastidores do projeto, suas inspirações e os desafios de unir culturas tão distintas.
1. Como você descreveria o som do Full Nothing para quem ainda não conhece a banda? E como começou sua jornada com o grupo?
Juha: "O som do Full Nothing é hipergrande, natural e profundo. Cada instrumento dá tudo de si para pintar essa paisagem épica que caracteriza o som da banda. Minha história com o Full Nothing começou em 2014 ou 2015, quando recebi um convite para participar do primeiro álbum. Normalmente, não aceito novos projetos com facilidade, mas fiquei impressionado com as músicas que me enviaram. Trabalhei inicialmente com Guillermo de Medio, o mago produtor e tecladista da banda, mas logo entrei em contato com Nicolás Marcos, o mastermind do Full Nothing. Nos conectamos tão bem que, após a primeira sessão, percebemos que queríamos criar mais música juntos. Foi então que viajei a Buenos Aires e fizemos mais música."
2. Um dos grandes diferenciais de "The Perfect Animal" é o equilíbrio entre guitarras pesadas e melodias sombrias, além da presença de vários vocalistas. Como é fazer parte de uma banda com essa proposta?
Juha: "Desde o início, ficou claro que o Full Nothing teria vários vocalistas e músicos convidados. Cada álbum é como uma ópera, uma história maior do que qualquer banda tradicional. Isso exige os melhores músicos e recursos para fazer as músicas tão grandiosas quanto merecem ser. "The Perfect Animal" é um ótimo exemplo de como trabalhar com os melhores músicos para cada faixa. É algo característico do Full Nothing.
Mesmo assim, sinto que emocionalmente pertenço à banda, mesmo quando não estou cantando em algumas músicas. É incrível ter a oportunidade de trabalhar com músicos e vocalistas tão talentosos ao redor do mundo."
3. Como você avalia o trabalho de Tom Englund no álbum? Alguma música da carreira dele, no Evergrey ou Ayreon, marcou você?
Juha: "Ele é um músico incrivelmente talentoso, e seu trabalho no álbum foi brilhante. Não consigo escolher músicas específicas, mas o Evergrey é uma lenda que influenciou muitos músicos da nossa geração. É sempre inspirador trabalhar com alguém desse calibre."
4. O Full Nothing tem uma forte conexão com a América Latina, graças a Nicolás Marcos. Como foi para um finlandês se adaptar à convivência com um argentino? Algum choque cultural interessante?
Juha: "Quando conheci o Nicolás, percebi instantaneamente que ele é uma pessoa extraordinária. Ele é o cérebro por trás do Full Nothing e uma máquina criativa multifuncional, além de estar muito ciente tanto da história quanto do presente. Isso transparece na ideologia da banda.
Como indivíduos, vivemos em mundos e culturas muito diferentes, mas, emocionalmente e espiritualmente, nos conectamos imediatamente. Minhas viagens à Argentina foram incríveis. Quanto aos choques culturais, hahah, eles existem, claro, mas também há semelhanças. Por exemplo, crescemos ouvindo os mesmos tangos lendários. Além disso, como adoro churrasco e vinho tinto, me adaptei bem. Não sou obcecado por horários, então consigo ‘quase’ lidar com o famoso ‘mañana’ argentino."
5. Como você avalia sua participação no álbum "A Virgin and a Whore", do Eternal Tears of Sorrow (ETOS)? Qual foi a importância desse trabalho para sua carreira?
Juha: "Teve um grande impacto na minha trajetória musical. As sessões do ETOS me aproximaram de Altti Veteläinen, o que acabou levando ao For My Pain. Embora eu já estivesse em atividade com o Reflexion, esse foi meu primeiro projeto com uma banda que tinha contrato de gravação. Foi algo enorme para mim."
6. O álbum "Fallen", do For My Pain, sempre foi visto como um projeto paralelo. Como foi trabalhar nele?
Juha: "O For My Pain começou como um projeto, mas logo evoluiu para algo maior. Criamos o FMP como uma espécie de ‘terapia’, e, para mim, foi exatamente isso. Durante aquele período, eu estava em um lugar muito escuro, lidando com sérios problemas de saúde. As sessões do "Fallen" foram uma forma de enfrentar meus medos. Aquele álbum é uma história genuína do que eu sentia na época. Mas, como sempre no For My Pain, nunca esquecemos do humor negro para sobreviver a essa jornada de coincidências infinitas e desventuras incontroláveis que chamamos de vida."
7. Quando o For My Pain anunciou seu retorno, houve grande emoção dos fãs. Como foi revisitar esse repertório?
Juha: "Decidimos fazer ensaios para ver como nos sentiríamos tocando as músicas novamente e, felizmente, o som e a sensação ainda estavam lá. Foi como acordar um amigo querido de um sono eterno… um beijo na bela adormecida – ou na fera, talvez.
Os fãs pareciam muito conectados às novas músicas, mas faixas clássicas como "Rapture of Lust", "Killing Romance" e "Dancer in the Dark" ainda têm um impacto incrível no público."
8. Como foi trabalhar com Tuomas Holopainen (Nightwish) no Fallen? Alguma música se destacou para você?
Juha: "Os trabalhos no ‘Fallen’ aconteceram pouco antes do Nightwish se tornar um fenômeno global. Tuomas é uma pessoa incrível e humilde, com um talento musical excepcional. Se você pensar em uma música como ‘Broken Days’, é quase irreal como o riff de piano flutua na faixa. Tuomas consegue criar riffs básicos e fazê-los voar como anjos… ou demônios."
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