A lenda do rock nacional criticada: "Você faz churrasco melhor do que sola guitarra"
Por Gustavo Maiato
Postado em 29 de abril de 2025
Por décadas, o Roupa Nova marcou a trilha sonora de milhões de brasileiros com arranjos sofisticados, letras românticas e sonoridade elegante. No coração dessa lenda do pop rock nacional está Kiko, guitarrista do grupo desde sua formação. Em recente entrevista ao podcast Corredor 5, o músico relembrou um dos episódios mais curiosos — e bem-humorados — de sua carreira: o dia em que David Gates, vocalista da banda norte-americana Bread, disse a ele que seu churrasco era melhor do que seu solo de guitarra.
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O encontro entre Roupa Nova e David Gates ocorreu durante uma colaboração especial para a gravação de "De Ninguém (The Guitar Man)", faixa interpretada originalmente pelo Bread e que, anos depois, ganhou versão brasileira com o grupo carioca. Gates veio ao Brasil para participar do clipe da música, gravado em General Severiano, no Rio de Janeiro, onde tudo foi meticulosamente preparado: piano montado, cenário romântico e uma recepção à altura da lenda do soft rock.
Kiko, responsável pelo solo da faixa, se dedicou à gravação e preparou uma interpretação inspirada, com a melodia na ponta dos dedos. Após registrar a primeira versão do solo, Gates, que assistia ao processo sentado calmamente no estúdio, se aproximou do guitarrista e disparou, em tom leve e sincero: "Você está tocando muito bem, mas você faz churrasco muito melhor."

A provocação arrancou risos, mas também veio seguida de elogios verdadeiros ao solo que, de fato, entrou na versão final da música. Kiko conta que Gates havia comido um churrasco preparado pela equipe da banda pouco antes da gravação e, aparentemente, ficou impressionado com os dotes culinários do brasileiro tanto quanto com sua performance na guitarra.
Kiko e a guitarra brasileira
A conversa no Corredor 5 também mergulhou em reflexões sobre técnica musical. Kiko revelou que, apesar da experiência e da precisão que o público associa a seu estilo, nunca estudou música formalmente. Ao ser surpreendido por um guitarrista italiano de jazz durante uma sessão de estúdio, foi confrontado com uma pergunta direta: "Você sabe o que você fez aí? Quais escalas percorreu?" A resposta de Kiko foi simples: "Eu não sei. Eu fiz com o coração." O músico europeu, então, respondeu com algo ainda mais marcante: "Então tá. Não aprenda, não. Deixa assim."

Kiko diz ter tentado compreender os chamados "modais", harmonia funcional e outras estruturas complexas, mas reconhece que nunca conseguiu se encaixar no mundo teórico da música: "Esses modais todos são muito complicados. Cléberson e o Fegal sabem tudo… eu não sei porra nenhuma."
Kiko também contou que se inspira em grandes cantoras para construir seus solos como se fossem melodias vocais. Whitney Houston e Mariah Carey são referências que ele cita com reverência, destacando a forma como ambas interpretam a melodia com emoção e precisão, quase como se cantassem de olhos fechados. "Eu tento fazer igual a elas… a Whitney, por exemplo, ela sabe a melodia, sabe a letra, aí ela fecha os olhos e canta com a alma. Eu tento fazer isso com a guitarra."

O papo ainda passou por bastidores de gravação, brincadeiras com os colegas da banda, como Cleberson Horsth, e improvisos de última hora que se transformaram em clássicos. Kiko reforçou que, apesar de hoje os processos serem mais rápidos — e às vezes pressionados —, ele ainda prefere dar tempo à criação. "Tudo tem seu tempo. Não adianta querer correr. Às vezes, eu preciso de um instante pra achar o caminho. Quando acho, aí sim, posso interpretar de verdade."
Confira a entrevista completa abaixo.

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