Ian Anderson cita brasileiros ao explicar canção; "acho isso incrivelmente rude"
Por Bruce William
Postado em 08 de fevereiro de 2025
Ian Anderson, líder do Jethro Tull, revelou que parte da inspiração para a canção "Puppet And The Puppet Master", do próximo álbum da banda, "Curious Ruminant", veio de sua relação com o público durante os shows. Em entrevista ao Classic Album Review, ele comentou sobre como a interação da plateia pode ser algo positivo, mas também uma interferência, dependendo do contexto. Segundo Anderson, há lugares onde o público tem uma postura mais volátil, e ele citou o Brasil como um dos exemplos. A transcrição é do Blabbermouth.
"Eu quero estar livre da sensação de que, de alguma forma, preciso atender aos desejos e exigências das outras pessoas. E, aliás, quanto mais exigente for uma plateia, menos eu aproveito, porque há ocasiões em que você se depara com um público volátil devido a tendências culturais em determinados lugares. Posso citar o Brasil, por exemplo, onde o público acha que é aceitável assobiar, gritar, vaiar e berrar os nomes das músicas que quer ouvir. Quero dizer, eu acho isso incrivelmente rude e realmente não gosto. Não acontece em todos os shows que fiz no Brasil, mas encontrei isso algumas vezes no ano passado, quando estive em turnê por lá, e é assim que eles são. Há outros estereótipos nacionais onde as pessoas também agem dessa maneira. Você encontra isso às vezes nos Estados Unidos, onde acham que está tudo bem gritar e assobiar. Não está."
Ian explica que há um motivo para que ele se sinta assim: "Estou tentando me concentrar em tocar músicas que às vezes são bastante difíceis, e não gosto de ser interrompido. Gosto de ter a liberdade para fazer isso. Então, se o público tenta, de alguma forma, manipular ou influenciar sua maneira de tocar, isso não é bom. Para mim, é absolutamente suficiente ver sorrisos nos rostos e alguém aplaudindo no momento apropriado ao final de uma música. Isso significa tudo para mim. Não quero ser interrompido enquanto estou me apresentando."
Em seguida ele conta que se resigna com isso, embora tente mudar as coisas: "Não estou reclamando. As coisas são como são. Se você é um músico se apresentando, assim como acontece com um Primeiro-Ministro respondendo perguntas no Parlamento, você tem que aceitar que vai lidar com algum mau comportamento e com exigências manipulativas de certos grupos. É assim que as coisas funcionam. Temos que aceitar. Mas, às vezes, como nesse caso, isso se torna o tema de uma música, de forma um pouco irônica, e certamente não se aplica apenas a mim. Isso pode acontecer com um bailarino, um cantor de ópera ou um ator no meio de uma peça shakespeariana. Acontece com todos nós. Estamos no controle, mas, de certa forma, também somos controlados.
"E talvez, de um jeito meio sadomasoquista, nós - ou pelo menos alguns de nós - até gostemos disso", teoriza. "Talvez gostem da sensação de ter que trabalhar dentro das expectativas do público e sintam a necessidade de satisfazê-las, especialmente em grandes produções mais populares. Provavelmente, eles ficam um pouco irritados se a plateia não está pulando, balançando os braços no ar, tirando selfies e fazendo outras coisas do tipo. Eles podem até sentir que estão sendo ignorados de alguma forma ou que o público não está reagindo. Mas, desde 1969, quando comecei a tocar em teatros no Reino Unido, adotei uma abordagem diferente.
Ian então explica como ele gostaria que fossem as coisas: "Prefiro um silêncio respeitoso e relativo até o final da música. Aí sim, é hora de aplaudir. Algumas pessoas podem ter dificuldade em entender isso ou simplesmente não gostarem, mas é assim que eu sempre fui. E da mesma forma, nas raras ocasiões em que vou a um show, eu não vou começar a assobiar, gritar e pedir músicas que quero ouvir. Ou vaiar. Qual é o sentido disso? Se for assim, é melhor simplesmente sair do local e ir direto para o bar.
Robinson, por sua vez, comentou que muitas de suas experiências recentes em shows foram "completamente arruinadas pelo mar de iPhones que se levantam no ar assim que o show começa", e Anderson emendou: "A primeira vez que vi isso, me veio à mente um flashback de quando toquei em um anfiteatro de concreto no meio do mato, no que era a antiga Alemanha Oriental, um lugar que havia sido construído para comícios nazistas. E eu pensei que devia ser algo parecido com aquilo. De repente, um mar de braços se ergue no ar e você percebe que há celulares na ponta deles."
Anderson reitera que eles vem tentando tornar as coisas mais próximas do que gostaria: "Mas, há alguns anos, temos feito anúncios educados pedindo que as pessoas evitem o uso de câmeras e iPhones até o encore, e consigo uma taxa de adesão de cerca de 95%, o que me deixa grato. Às vezes chega a 100%. No Brasil, foi cerca de 50%. Então, mesmo com a tradução para outros idiomas e tentando abordar a questão de forma mais leve, sem parecer uma imposição, a maioria das pessoas respeita. Normalmente, até aplaudem quando escutam minha voz pedindo isso, porque muitas pessoas se sentem da mesma forma. Elas não pagaram um bom dinheiro para ver um show só para ter que olhar para a tela do celular da pessoa à sua frente."
Ele então finaliza essa parte contando uma experiência pessoal: "Uma vez, fui a um show e fui embora antes do final, acho que depois da quarta música, porque simplesmente não conseguia suportar o que estava acontecendo. Foi constrangedor, pois eu havia ganhado os ingressos do próprio artista que estava se apresentando, mas eu não conseguia ficar sentado ali assistindo aquelas pequenas figuras na tela, sem poder ver o que realmente estava acontecendo no palco por causa de todos aqueles braços levantados. Então, sim, acho isso particularmente irritante."
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