O álbum do Black Sabbath em que o produtor tentou fazer a banda "soar como o Nirvana"
Por André Garcia
Postado em 13 de março de 2025
O Black Sabbath é uma das pouquíssimas bandas cujo poder de influência sobre as demais pode ser comparado ao dos Beatles. Quando o assunto é rock pesado e metal, a influência do Sabbath é unânime. Até mesmo gêneros como o stoner rock, punk rock e grunge foram muito influenciados pelos primeiros discos deles.
Kurt Cobain não escondia a admiração que tinha pelo Sabbath. O que ele infelizmente não chegou a saber foi que o Nirvana acabou influenciando um álbum do Black Sabbath. Mais especificamente o "Forbidden" (1995), lançado um ano após sua morte. Infelizmente se trata de um dos trabalhos menos bem-quistos de sua discografia por conta da controversa produção de Ernie C, na época famoso pela banda Body Count com sua mistura de rap e rock pesado.


Conforme publicado pela Alternative Nation, em entrevista para o The OG Mike Show, Ernie relembrou como foi produzir o "Forbidden":
"Em primeiro lugar, [o Black Sabbath] não queria que eu produzisse o disco — a escolha não foi deles. Miles Copeland, que dirigia a gravadora, foi quem quis que eu produzisse. Eu entrei como o cara da gravadora [risos]! Por mais absurdo que isso pudesse parecer para mim. Tony [Iommi] foi muito legal comigo, um verdadeiro gentleman inglês."

Em seguida, ele revelou como o Nirvana acabou influenciando (pena que negativamente) o disco:
"Eu estava tentando secar o som da banda. [Naquela época o som deles ainda] tinha muito eco, aquele som grandioso dos anos 80. Eu queria deixar o som deles mais seco, para soar mais como o Nirvana. Não tentei fazer eles soarem como o Nirvana, só queria deixar com menos eco. [Só que] eles não queriam mudar…"
E foi nessa do produtor querer uma coisa e a banda querer outra que quem pagou o preço foi a sonoridade do álbum.
Iommi na época já se aproximava dos 50 anos de idade, e não estava mais disposto a ser espremido até a exaustão no estúdio. Portanto, ele estabeleceu para si mesmo um horário de expediente e era inflexível quanto a isso:
"Eram 20 horas, e eu disse 'Vamos gravar outro take', e Tony respondeu 'Ah, não. Já são 20 horas, vou para casa jantar. Vejo você amanhã às 11'. […] Ele dizia: 'Tudo que eu poderia tocar hoje, posso tocar amanhã. Prefiro dormir um pouco e tocar amanhã'."

"[Teve uma vez que] Tony estava fazendo um solo de guitarra, aí entraram Jeff Beck e Brian May, juntos [no estúdio]. Tony me perguntou 'Ernie, o que você achou desse [solo]?' E eu respondi 'O que eu achei? Pergunta Jeff Beck e Brian May [risos]!'"
Assim como os álbuns de estreia do Queen e o Judas Priest, "Forbidden" é um desses discos cuja sonoridade desagradava à banda, e que foi relançado recentemente remixado para soar como ela gostaria que tivesse soado desde o começo. No caso de "Forbidden", Tony Iommi cuidou da remixagem ele mesmo:
"Não gostamos do que Ernie tinha feito [na produção do disco]. Ernie faz o que faz com Ice T [no Body Count], o que é ótimo, e nós o respeitamos, mas não funcionou para nós."

"Quando o ouvimos [o resultado final], ele simplesmente não soa bem. Tem coisas que [foram gravadas, mas que] não entraram no disco… Mas agora não dá para fazer muita coisa em relação a isso, não dá para simplesmente sair regravando tudo. Então, tivemos que manter como era, e tentar aprimorar a sonoridade"
Se você sempre deixou o "Forbidden" de lado pelo fato de que nem mesmo o próprio Tony Iommi gostava, vale a pena dar uma chance à nova versão. Agora ele está soando mais próximo aos melhores trabalhos do Black Sabbath pós-"Mob Rules", como o seu antecessor, "Dehumanizer" (1992).

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