O hit furioso do rock nacional criado após apoio de Roberto Carlos a censura de filme
Por Mateus Ribeiro
Postado em 07 de março de 2025
Um dos grandes nomes da história do rock nacional, Nando Reis foi baixista e vocalista da banda Titãs por duas décadas. Enquanto fez parte do grupo, ele escreveu algumas canções que fizeram bastante sucesso, como "Os Cegos do Castelo", "Marvin" (releitura de "Patches") e "Pra Dizer Adeus".
Embora não seja tão famosa quanto as canções citadas no parágrafo anterior, "Igreja" é outra música interessante composta por Nando Reis. Faixa de "Cabeça Dinossauro" (terceiro disco dos Titãs, lançado em 1986), essa composição critica a censura imposta pela Igreja Católica.
"Igreja" começou a ser escrita a partir de um telegrama que Roberto Carlos enviou para José Sarney, presidente do Brasil entre 1985 e 1990. A carta, divulgada pelo portal Uol, diz o seguinte: "Cumprimento Vossa Excelência por impedir a exibição do filme ‘Je Vous Salue Marie’, que não é obra de arte ou expressão cultural que mereça a liberdade de atingir a tradição religiosa de nosso povo e o sentimento cristão da humanidade. Deus abençoe Vossa Excelência. Roberto Carlos Braga".

Nando contou a história por trás da controversa canção em vídeo publicado em seu canal do Youtube. Confira abaixo as palavras do artista.
"Essa ideia surgiu a partir de um artigo, artigo esse escrito por Roberto Carlos na Folha de São Paulo, na página dois da Folha de São Paulo, se não me falha a memória [Nota: quem escreveu um artigo para a Folha foi Caetano Veloso, que criticou a atitude de Roberto Carlos e chamou o veto de "vergonha política"]. Roberto, naquele artigo, saía em defesa do apoio que a Igreja estava dando à censura do filme ‘Je vous salue, Marie’, do Godard. Um filme que é uma versão, que conta a história da Virgem Maria (...) de uma forma pouco ortodoxa assim, ou digamos, eclesiástica.
Esse filme foi censurado e o Roberto Carlos apoiou a censura do filme, pois ele é um homem muito religioso, devoto de Nossa Senhora.
Mas eu, no alto dos meus 23 anos sempre fui muito reativo, digamos até muito indisposto com a ideia mesmo de religião e especialmente da Igreja Católica (...). Fui batizado e tudo mais, mas nunca tive nenhuma afinidade, nenhuma identificação, nem mesmo uma simpatia com a religião, no caso a religião católica né? E me enfureci com aquela posição de censura. Embora possa haver discordância, a censura é inadmissível e inaceitável, você não pode cercear."
Adiante, Nando afirmou que "Igreja" causou um certo barulho. O músico afirmou que dois parceiros de banda não queriam a gravar, mas no fim das contas, a democracia falou mais alto.
"Por essa razão, resolvi extravasar toda a minha indignação direcionada à Igreja Católica Apostólica Romana. E eu fiz, me lembro que peguei num violão da minha mãe, fiz rapidamente a música. Escrevi os versos, não me lembro a ordem, mas eu lembro que fiz naquela assim, em minutos (...).
Levei ela [a música], como era de costume, para escolher o repertório do disco. Você sabe, Titãs é uma banda numerosa, muitos compositores, muitos cantores e a gente fazia o processo de seleção, de escolha, através de votação. Mostrávamos as músicas, provavelmente tocando no violão.
E lembro exatamente. Estávamos no apartamento do Branco [Mello], que era no Conjunto Nacional (...), e mostrei a música. Ela gerou uma celeuma. Arnaldo [Antunes] e Paulo [Miklos] falaram: 'Não, não quero gravar sua música, sou contra'. Votaram 'não', porque não se identificavam, não queriam estar compactuando com aquilo que dizia a música. Democracia é assim, né? A gente aceita o voto da maioria, e a maioria ganhou [por] 6 a 2. Gravamos a música. Fizemos a demo e depois entramos em estúdio para gravar."
No mesmo vídeo, Nando afirma que gosta de "Igreja". No entanto, ele faz uma ressalva.
"Eu gosto da música, ela diz, e dizia como com mais acuidade no momento onde eu a escrevi e gravei, algo que é meu, essa diferença com as religiões, essa impossibilidade minha de acreditar em Deus. Mas eu acho ela um pouco (...). Ela tem uma certa arrogância, assim, que hoje eu não tenho mais, porque de certa maneira ela desenha um pouco com a crença das outras pessoas, e isso eu acho tolo. O que não invalida meu ponto de vista, de não gostar, de não entrar e tudo mais. Mas de qualquer maneira, a canção foi gravada, chamou muito a atenção, era um um ponto alto do show."
A letra de "Igreja" apresenta trechos pesados, como "Eu não gosto de Cristo" e "Eu não gosto do Papa". Veja abaixo o que Nando canta na música que surgiu a partir do telegrama enviado por Roberto Carlos.
"Eu não gosto de padre
Eu não gosto de madre
Eu não gosto de frei
Eu não gosto de bispo
Eu não gosto de Cristo
Eu não digo amém
Eu não monto presépio
Eu não gosto do vigário
Nem da missa das seis
Não!
Não!
Eu não gosto do terço
Eu não gosto do berço
De Jesus de Belém
Eu não gosto do Papa
Eu não creio na graça
Do milagre de Deus
Eu não gosto da igreja
Eu não entro na igreja
Não tenho religião
Não! Não!"
Histórias do Rock Nacional
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