A banda brasileira que abriu tantos shows gringos que virou alvo de antipatia
Por Gustavo Maiato
Postado em 24 de abril de 2025
Não é raro ver uma banda nacional abrir shows internacionais no Brasil. Mas quando essa mesma banda aparece repetidamente no palco antes de gigantes como Metallica, Linkin Park, Foo Fighters e, agora, System of a Down, a visibilidade ganha um peso inesperado — o da antipatia.
Esse é o caso da Ego Kill Talent, grupo paulistano fundado em 2014, que, após anos tocando nos bastidores da indústria, virou alvo de críticas por estar em "demasiados" line-ups de abertura. Nas redes sociais, parte do público acusa a produtora 30e de privilegiar sempre os mesmos nomes. Um comentário irônico, mas simbólico, dizia que a EKT seria chamada até para abrir o show da Lady Gaga em Copacabana.


Para os integrantes, as críticas dizem mais sobre a fragilidade da cena do rock no Brasil do que sobre a própria banda. "Não foi um ‘hate’ pessoal. É mais sobre uma dor de não ver o rock nacional avançar como poderia", afirmou Cris Botarelli, baixista recém-integrada ao grupo, em entrevista à Folha de S. Paulo.

A carreira da Ego Kill Talent foi construída passo a passo, muito antes dos grandes palcos. Theo Van der Loo, fundador e multi-instrumentista, relembra: "Muita gente só vê o resultado. Mas a gente rala há muito tempo." A formação original inclui ex-integrantes do Sepultura e de outras bandas da cena pesada nacional. Ainda no início, o grupo chamou atenção por revezar os instrumentos ao vivo, criando uma dinâmica incomum no palco.
O reconhecimento internacional começou ainda nos primeiros anos, com convites para festivais na Europa. A amizade com o System of a Down surgiu antes mesmo da existência oficial da banda, quando Van der Loo e Raphael Miranda trabalhavam como produtores e conheceram os músicos armênios em 2011.

Essas conexões, somadas ao profissionalismo, levaram a EKT a abrir turnês de artistas consagrados. Em muitos casos, os próprios artistas internacionais escolhem a banda de abertura — como foi com o Foo Fighters e o Metallica. "Essa ideia de que a gente está ali por indicação ou favor é um erro", diz Van der Loo. "As bandas grandes escolhem quem vai dividir o palco com elas."
Com a entrada de Emmily Barreto nos vocais, ex-Far From Alaska, e de Botarelli no baixo, a banda passou também a enfrentar críticas machistas. O novo single, Reflecting Love, trata da experiência pessoal de Barreto ao contar para a família que é lésbica. A música marca uma virada estética, com visuais mais coloridos e sonoridade mais pop. A mudança, no entanto, desagradou parte dos fãs antigos.

"A galera nem ouviu o som e já estava criticando. O problema não é a música — é o fato de eu ser mulher", disse Barreto. Ao mesmo tempo, o grupo ganhou novos ouvintes vindos justamente da base de fãs da Far From Alaska.
Com trajetória sólida, agenda cheia e repertório em evolução, a Ego Kill Talent mostra que seu espaço foi conquistado — mesmo que parte do público ainda prefira não enxergar o caminho até ali. "Não estamos aqui por acidente. Trabalhamos muito para isso", resume Van der Loo.

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