Como o sucesso do Secos e Molhados deu origem ao álbum mais raro e caro do Brasil
Por Bruce William
Postado em 01 de abril de 2025
Quando o Secos & Molhados lançou seu primeiro álbum em agosto de 1973, o sucesso foi imediato. Vendendo mais de trezentas mil cópias em 60 dias, o disco revolucionou a música brasileira com hits como "O Vira", "Sangue Latino" e "Rosa de Hiroshima". A gravadora Continental, surpresa com a enorme demanda, rapidamente enfrentou um problema inesperado: não havia matéria-prima suficiente para produzir novos discos e atender às vendas explosivas do trio que tinha Ney Matogrosso no vocal.
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Na mesma época, outro artista da Continental, o arranjador e maestro Arthur Verocai, vivia situação totalmente inversa. Seu álbum de estreia autointitulado havia sido lançado alguns meses antes, trazendo uma sofisticada mistura de jazz, bossa nova e experimentalismo. Apesar da qualidade musical, o disco foi rejeitado pelo público, vendendo pouquíssimas cópias. Logo, centenas de LPs de Verocai ficaram acumulados nas prateleiras das lojas, encalhados e quase esquecidos.

Foi então que a gravadora Continental tomou uma decisão prática, mas cruel para a obra de Verocai e de vários outros artistas de seu cast: todos os discos não vendidos do maestro foram recolhidos das lojas e derretidos, com o objetivo de produzir mais cópias do álbum do Secos & Molhados. "A gravadora achou que venderia 1.500 em um ano. Vendeu em uma semana. Como o mercado vivia uma crise de vinil, a gravadora começou a pegar os discos que não estavam vendendo e derreter para fazer o nosso", disse Ney Matogrosso em uma entrevista de 2003, conforme a wikipedia. O sucesso avassalador de Ney e seus parceiros levou, ironicamente, à quase total extinção do álbum de Arthur Verocai.
Porém, décadas depois, essa decisão da gravadora gerou um efeito inesperado: com pouquíssimas cópias originais sobrevivendo ao massacre, uma edição original do álbum de Verocai tornou-se um dos mais raros e valorizados discos brasileiros de todos os tempos. A escassez fez com que cada exemplar fosse disputado por colecionadores em todo o mundo, chegando a ser vendido por milhares de dólares em leilões internacionais. Hoje, o disco de Arthur Verocai é mais raro e valioso do que "Louco Por Você" do Roberto Carlos, tendo se juntado a outros álbuns cobiçados em suas edições originais, tais como "Paêbiru" de Lula Côrtes e Zé Ramalho, "Spectrum" do Geração Bendita" e "Estrelando Embaixador" do Tribo Massáhi.
Além disso, a história deu uma guinada impressionante nos anos 2000, quando produtores musicais norte-americanos descobriram o álbum e passaram a usar samples das suas músicas em gravações de hip-hop, conforme relatou uma longa e interessantíssima matéria da BBC. Artistas como MF Doom, Ludacris e Little Brother ajudaram a impulsionar o interesse internacional pelo maestro brasileiro, transformando uma obra rejeitada e esquecida em uma referência cult admirada mundialmente.
Assim, o sucesso explosivo dos Secos & Molhados acabou gerando, involuntariamente, a obra que é hoje um verdadeiro tesouro da música brasileira. Arthur Verocai, antes esquecido, agora é celebrado como um dos artistas mais influentes e respeitados pela nova geração. O disco que ninguém queria virou uma lenda, provando que, na música, às vezes é necessário fracassar para se tornar eterno.
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