A incrível proeza do Nirvana que o Secos & Molhados conseguiu realizar dezoito anos antes
Por Bruce William
Postado em 14 de março de 2025
"Viralizar" é uma das coisas que mais buscamos nos dias de hoje. Seja a pessoa que faz uma dancinha, posta uma foto ou até mesmo escreve uma matéria sobre rock'n'roll, o objetivo sempre é ter muitas visualizações e curtidas, afinal, é disso que muitos vivem(os).
E, vez por outra, acontece de algo inesperado "bombar", deixando todos perplexos, tentando entender o que levou aquele conteúdo específico a ser tão acessado. Mas isso não é algo que surgiu apenas com a internet. Mesmo décadas atrás, muito antes de alguém pensar em mandar áudios de "gemidão" no WhatsApp, fenômenos inesperados já ocorriam.


Em 24 de setembro de 1991, a Geffen Records lançava um álbum de rock alternativo chamado "Nevermind", do Nirvana. A expectativa inicial era bastante modesta: 46 mil cópias enviadas para lojas nos EUA, e 35 mil para o Reino Unido, conforme relata a wikipedia. A gravadora previa que o álbum levaria quase um ano inteiro para atingir 250 mil cópias vendidas, se tudo corresse muito bem.

No entanto, o impensável aconteceu: o disco, impulsionado pelo sucesso estrondoso da faixa "Smells Like Teen Spirit", derrubou Michael Jackson do topo das paradas da Billboard, vendendo em pouco tempo mais de 300 mil cópias - por semana! Era o viral analógico dos anos 90, sendo hoje um dos discos mais vendidos da história do rock, com mais de 35 milhões de exemplares.
Mas dezoito anos antes, no Brasil, algo semelhante já havia acontecido, com dimensões igualmente surpreendentes para a época. Em agosto de 1973, o Secos & Molhados lançou seu primeiro álbum homônimo, sem imaginar o impacto que causaria. A gravadora Continental prensou apenas 1.500 cópias do LP, esperando que elas fossem suficientes por pelo menos um ano inteiro. Porém, bastou uma semana para que todas fossem vendidas, gerando um caos na produção, pois faltava matéria-prima para fabricar mais discos e atender a uma demanda completamente inesperada.

Como relatou Ney Matogrosso anos depois, em fala registrada na wikipedia: "A gravadora achou que venderia 1.500 em um ano. Vendeu em uma semana. Como o mercado vivia uma crise de vinil, a gravadora começou a pegar os discos que não estavam vendendo e derreter para fazer o nosso."
As vendas continuaram aceleradas, tendo superado 300 mil cópias em apenas 60 dias. Músicas como "Sangue Latino", "O Vira" e "Rosa de Hiroshima" dominaram rádios e TVs, tornando o Secos & Molhados um fenômeno popular absoluto, quebrando recordes, desbancando Roberto Carlos do topo e vendendo mais de 1 milhão de cópias em menos de um ano, número absolutamente impensável para uma banda iniciante em seu primeiro trabalho.

Assim como "Nevermind" surpreendeu a indústria fonográfica norte-americana quase duas décadas depois, o álbum do Secos & Molhados rompeu todas as expectativas no Brasil em 1973, mostrando que fenômenos inesperados sempre existiram. E mesmo antes da era digital e das redes sociais, já era impossível prever com exatidão qual disco, música ou artista iria "viralizar", conquistando rapidamente milhares ou até milhões de fãs.

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