A canção constrangedora que o Led Zeppelin não faria nos dias de hoje; "Tenho pena delas"
Por Bruce William
Postado em 18 de outubro de 2025
Led Zeppelin passou 12 anos no topo como poucos: tirou os Beatles do centro das atenções no fim dos 60, derrubou "Abbey Road" e "Let It Be" do nº 1 com "Led Zeppelin II" (1969) e "Led Zeppelin III" (1970), e ainda quebrou o recorde de público do Shea Stadium com 57 mil pessoas em Tampa (1973). Como se não bastasse, esses álbuns são clássicos absolutos do rock.
Musicalmente, a lenda costuma vir sem "poréns". Mas existe um, e ele atende por "Sick Again". Lançada em "Physical Graffiti" (1975), a faixa nasceu do olhar de Robert Plant para as chamadas "L.A. Queens", meninas que, ainda muito novas, rodeavam hotéis da banda em busca de proximidade com os integrantes. O vocalista chegou a dizer: "Tenho pena delas". A intenção pode ter sido a de comentar um ambiente tóxico; o resultado, porém, soa hoje assustador.


O problema está nas imagens e no tom: a letra observa, descreve, quase faz uma crônica da cena dos bastidores com uma frieza que hoje incomoda. Em vez de distanciamento crítico, o texto escorrega para um registro que normaliza o excessivo. Se o tema fosse tratado hoje, o recorte provavelmente seria o oposto: abertamente crítico, denunciando a dinâmica de exploração e poder. Em 1975, aquilo podia soar como retrato "cru" da estrada; em 2025, a percepção mudou, e a música carrega um peso ético difícil de ignorar.

Não se trata de demonizar o catálogo (que é monumental), nem de revisar toda a obra com régua moral de hoje. Mas, entre os raros tropeços de uma discografia robusta, "Sick Again" se destaca justamente por não sobreviver bem ao tempo: é a lembrança de um meio que romantizou o que deveria causar repulsa.
Se existe uma faixa de que Plant poderia se arrepender, é esta; não pelo riff (ótimo), mas pelo retrato que escolhe fazer. O próprio "tenho pena delas" indica que ele enxerga a fissura. Dá para reconhecer que aquilo foi escrito dentro de outro contexto - sem anacronismo - e, ainda assim, admitir que hoje o enquadramento seria diferente: menos crônica de bastidor, mais crítica explícita às assimetrias. Em resumo, o possível arrependimento não seria da música em si, mas de como o tema foi abordado. Talvez falte à canção o que a banda sempre teve de sobra no palco: consciência do impacto.

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