O álbum que fez Clapton e Elton John concordarem; "um dos maiores de todos"
Por Bruce William
Postado em 11 de outubro de 2025
É raro ver duas lendas com trajetórias tão diferentes apontarem para o mesmo farol. Um vem do blues elétrico, mão pesada, riff na veia. O outro, do piano que passeia entre o lirismo pop, o rock teatral e a canção clássica. E, ainda assim, ambos olham para um mesmo disco quando o assunto é elevar a régua do pop.
Antes de falar o nome (segura a ansiedade), vale lembrar o contexto: meados dos anos 1960, a corrida de estúdio virou esporte de primeira divisão. Guitarristas, produtores e arranjadores passaram a tratar cada faixa como um pequeno laboratório. A pergunta não era só "o que tocar?", mas "como fazer soar?". O pop deixou de ser "apenas" refrão e virou arquitetura.


É nesse cenário que um compositor obcecado por harmonia e texturas decide fazer seu "filme sem câmera": canções sobre amor, insegurança e ternura, embaladas por arranjos que misturam sopros tímidos, cordas discretas, percussões insuspeitas e um coral de vozes que parece vir de algum lugar entre a praia e o céu.
Quando o disco chegou aos ouvidos do homem de "Slowhand", a reação foi direta. Eric Clapton cravou: "Eu considero 'Pet Sounds' um dos maiores LPs pop já lançados. Ele reúne tudo que sempre me arrebatou e coloca isso num pacote só." A fala, resgatada pela Far Out, é reveladora: para além do blues que o formou, Clapton reconhece a mão de um autor usando o estúdio como instrumento.

Elton John, por sua vez, ouviu e traduziu a sensação com precisão de pianista: "'Pet Sounds' é um marco. Dizer que eu fiquei maravilhado é pouco. Eu nunca tinha ouvido sons tão mágicos, tão incrivelmente gravados. Sem dúvida, mudou a maneira como eu - e incontáveis outros - passei a encarar a gravação", numa clara confissão de influência.
O segredo, claro, está na escrita de Brian Wilson. As melodias têm doçura imediata, mas é nos encadeamentos harmônicos - aqueles atalhos que fogem do óbvio - que o disco abre portas. Você reconhece a canção na primeira audição e, ao mesmo tempo, descobre camadas novas na décima. É pop, mas é engenharia emocional.
E tem o coração batendo alto. Entre arranjos que hoje parecem parte do DNA da música popular, surgem declarações de amor que dispensam dramatização: a pureza quase sussurrada de "Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder)" e a beleza desarmante de "God Only Knows", que consegue soar íntima e universal no mesmo verso. Outro detalhe que explica a devoção de gente tão diferente: o disco combina sofisticação com uma ingenuidade juvenil que não foi apagada pelo capricho de estúdio. É como se a praia caísse dentro da sala de gravação, mas sem areia nenhuma, só a luz. A técnica não esmaga o sentimento; amplifica.

No fim, dá para discutir listas, décadas e "maiores de todos os tempos" até o próximo ano, mas o ponto que une Clapton e Elton é simples: esse é o álbum em que o pop aprende a ser profundo sem perder o abraço do refrão. E quando dois titãs olham na mesma direção, a gente pelo menos precisa ir lá ver o que há.
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