Ben Harper: Álbum aborda o racismo de forma forte e necessária
Por Ricardo Seelig
Postado em 19 de abril de 2016
"Call It What It Is" é o primeiro álbum de Ben Harper com o The Innocent Criminals em quase uma década - "Lifeline", última parceria do norte-americano com a melhor banda que já teve ao seu lado, saiu em 2007. Os excelentes "The Will to Live" (2004) e "Burn to Shine" (1999) são outros belos frutos desta relação, presente também nos demais discos de Harper através do comparecimento de músicos que fazem parte dos Innocent Criminals nos line-ups de álbuns como "Both Sides of the Gun" (2006), "Diamonds on the Inside" (2003) e "Fight For Your Mind" (1995).
Décimo-terceiro álbum de Ben Harper, "Call It What It Is" tem a produção assinada por todos os músicos, em um trabalho conjunto que reflete na sonoridade do disco como um topo. Os timbres são orgânicos, vivos e com uma certa dose de sujeira que combina perfeitamente com o seu conteúdo.
O trabalho é um dos mais políticos da carreira de Harper, com letras que criticam de forma aberta e direta o racismo e outras chagas da sociedade norte-americana. O sensacional primeiro single e música que dá nome ao álbum, por exemplo, fala da brutalidade da polícia em relação aos negros, citando os casos marcantes ocorridos com Rodney King e Michael Brown.
O próprio Harper viveu essa experiência na pele, tanto em sua adolescência durante a década de 1980 quanto mais tarde, já músico. Em 1999, o vocalista e guitarrista estava indo para o estúdio gravar a canção "Steal My Kisses" quando um helicóptero da polícia começou a segui-lo pelas ruas e avenidas californianas. Os policiais haviam recebido um telefonema informando sobre um caminhão azul que tinha sido roubado. O carro de Harper era da mesma cor. E, claro, era um negro dirigindo. Resultado: Ben Harper no chão, algemado e cercado por quinze policiais e mais uma dezena de atiradores esperando a ordem para finalizar o trabalho. A confusão foi esclarecida e o capitão da operação em pessoa foi pedir desculpas para Ben, mas o estrago estava feito e é mais um exemplo do racismo onipresente na sociedade norte-americana. Hoje todo mundo conhece Ben Harper e ela não passa mais por situações como essa, certo? Errado: há oito meses ele e sua esposa foram seguidos por policiais por várias milhas, até que um deles encostou o carro ao lado do veículo de Harper, reconheceu o músico e a perseguição foi encerrada.
Ser negro na América, como se vê, não é fácil, nem em tempos de Obama. Situação semelhante à que vivemos no Brasil, mas com uma diferença gritante: nos Estados Unidos os cidadãos sabem que existem milhares de racistas pelo país, tanto em organizações como a Ku Klux Klan quanto em grupos que pregam a supremacia branca. No Brasil, fazemos de conta que isso não existe, ignoramos esse problema, tapamos o sol com a peneira.
Musicalmente, "Call It What It Is" é um disco imprevisível, que reflete o seu processo de gravação, realizado durante vários meses e em diferentes estúdios. Mas, mesmo assim, trata-se de um álbum brilhante, como há bastante tempo Ben Harper não entregava aos seus admiradores. Onze canções fortíssimas e cheias de momentos marcantes, tocadas com sangue nos olhos e abordando temas que precisam sempre estar em pauta. E, como cereja do bolo, Harper dando umas filosofadas sobre o envelhecimento - ele está com 46 anos - e não faz a menor questão de disfarçar os efeitos da passagem do tempo em sua voz.
Discão. Discaço. Do caramba. Pra ouvir todo dia. E por toda a vida.
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