Deep Purple: A história de "Mary Long"
Por Fernando Portelada
Fonte: Classic Rock Magazine
Postado em 11 de fevereiro de 2014
Por Geoff Barton e Neil Jeffries
Se há algo mais provável de irritar Ian Gillan mais do que um guerreiro da moral com um ponto de vista totalmente oposto ao seu, é uma dupla destas. Em 1972, com o Mark 2 do DEEP PURPLE no pico de sua fama e turnês em divulgação de "Machine Head", esse dueto sacro era composto por Mary Whitehouse e Lord Longford.
Whitehouse, uma comprometida cristã, em seu papel auto assumido como guardiã da moral da Grã Bretanha, liderou a campanha "Clean Up TV", protestando contra qualquer um que ousasse falar um simples ‘bloody’ na televisão. Ela ficou chocada pelo personagem de Alf Garnett na sitcom "Till Death Do Us Part", de Johnny Speight (que Gillan adorava), assim como os comediantes Dave Allen e Benny Hill, e também com todo o resto que fazia humor.
Então, enquanto o PURPLE estava para começar suas sessões para aquilo que viria a se tornar "Who Do We Think We Are", chegaram as notícias que o ex-ministro do trabalho, e Cavaleiro da ordem da Jarreteira, Lord Longford, estava fazendo campanha para o lançamento da assassina de Moors, Myra Hindley.
Quase quatro décadas depois, Gillan relembra: "Mary Whitehouse e Lord Longford eram particularmente figuras importantes na época, com atitudes contundentes. Em contrapartida, é até injusto, porque a geração anterior – no período pós-guerra, era extremamente generosa conosco, mas é natural se rebelar.
"Mary Long cresceu da ideia de ter que lidar com pessoas imaginárias. Era sobre os padrões da geração passada, toda esta moldura moral, vandalismo intelectual, todas estas coisas que atravessam gerações."
"Eu tive vários problemas com religião enquanto crescia, mas como eu descobri depois, estes problemas existem em todas as religiões, então Mary Whitehouse e Lord Longford tornaram-se uma pessoa – fazendo uma fusão – para representar a hipocrisia que eu via o tempo inteiro."
"Então lá estava eu, atirando uns nomes e os acusando de todos os tipos de coisa – atos covardes e ocorrências vis! A ideia era que nós somos jovens, estamos nus, e, portanto, falamos a verdade. Eu nunca conheci um jovem de 20 anos que não ache ser imoral e que não tenha opinião sobre algo – era esse tipo de tempo."
Também era uma época bem infeliz na vida do vocalista. Sua relação com o guitarrista Ritchie Blackmore – que até hoje ele se refere somente como o ‘Tocador de banjo’ – havia ido por água abaixo. O baixista Roger Glover também se lembra disto como um período triste, com Blackmore tornando-se cada vez mais distante da banda, completado pelo baterista Ian Paice e então pelos teclados de Jon Lord.
"Chegou a um ponto onde Ritchie não estava interessado em fazer ideias de outra pessoa. Eu lembro em particular de chegar com uma sequência de acordes que eu pensei ser bem interessante para uma música. Eu escrevi aquilo em um pedaço de papel – quatro ou cinco acordes, ou algo assim, nada de mais, e um certo ritmo. Eu disse para Paicey: ‘Comece esse ritmo, neste tempo.’ Jon Começou a tocar, Eu comecei a tocar, mas Ritchie fiava olhando por cima dos meus ombros para este pedaço de papel e não colocou seus dedos no instrumento em nem uma vez – então essa jam rapidamente se esvaiu."
"Ao invés disso ele começou a tocar outro riff. Pode ter sido Mary Long ou talvez outro – algo em meio tempo – muitos dos riffs que fazíamos estavam começando a soar iguais, todos variações em G..."
Parte do problema era a pressão do trabalho. A banda voou para os EUA quatro vezes nos últimos seis meses de 1972, assim como algumas datas na Europa. O que quer que seja a causa as coisas começaram a ficar ruins quando o PURPLE achou tempo para interromper sua quase incansável sequência de turnês em julho – para sessões de gravação em uma vila perto de Roma – Blackmore recusou-se a ficar na casa com os outros e frequentemente não aparecia.
Gillan: "Eu lembro da alegria do vinho tinto do local, dos campeonatos de mergulho na piscina e nas frustração de tentar tocar com a banda com 20% a menos de seus membros."
Estas sessões produziram somente duas músicas em três semanas - "Patético!", admite Glover – Woman From Tokyo e Painted Horse, e esta última foi algo que Blackmore decidiu que odiava e barrou do álbum.
A banda voltou à estrada, primeiramente visitando o Japão em meados de agosto. Os três shows, um em Tóquio e dois em Osaka, foram gravados e – ironicamente – viram a banda compilar seu álbum "Made In Japan Live", que foi lançado em dezembro 1972.
Mary Long foi gravada mais cedo, em Outubro, usando a unidade móvel do ROLLING STONES, estacionada do lado de fora dos estúdios em Waldof Nord, perto de Frankfurt. A banda raramente estava junta como um quinteto. Pior, Blackmore estava nutrindo planos de recrutar Paul Rodgers para substituir Gillan e lançar um trio chamado ‘Baby Face’, que tinha algumas demos com Phil Lynott e Ian Paice.
Glover se lembra que as ideias para Mary Long estavam escancaradas em sua cara: "Nós tínhamos jornais ingleses entregues no estúdio, para acompanharmos as notícias e estas pessoas estavam bem em frente ao nosso nariz. Parecia que tudo estava recebendo muita censura e boa vontade."
A suposta abstinência de Whitehouse produziu uma fonte de inspiração extra, quando os tabloides noticiaram sua gravidez. Glover: "Ian chegou com uma grande frase: ‘Nós nunca realmente soubemos que isto estava em você’ – Sempre o mestre do duplo sentido."
Então a combinação dos dois nomes foi uma tentativa de evitar processos por difamação?
Gillan: "Não, claro que não! Eu sempre gostei do impressionismo em letras e senti pena de outras pessoas por ligarem seus valores políticos e atitudes sociais desta forma. Este não sou eu."
"Mary Long era de sua época, mas ainda é relevante nos dias de hoje. - como nosso próximo ex-governo vai descobrir."
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