Frank Zappa: downloads contra a pirataria... em 1989
Por Invisible Kid
Postado em 06 de junho de 2010
Frank Zappa reservou algumas páginas de sua autobiografia a uma idéia que anteciparia a reinvenção da indústria musical em pelo menos 15 anos. Na visão dele, a tecnologia dos anos 1980 já possibilitava o compartilhamento remoto de arquivos - não entre usuários, mas a partir de uma central de distribuição.
"Consumidores de música gostam de consumir música…
não pedaços de vinil embrulhados em pedaços de papelão"
The Real Frank Zappa Book [1989]
O gênio revolucionário queria pôr fim à troca de fitas caseiras entre os fãs de música, ou "consumidores". Ironicamente ignorado, o sistema parecia ser o sonho de qualquer gravadora: só elas fornecem, o público compra sem sair de casa e a cobrança é automática.
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Com a palavra, Frank Zappa:
"Nossa proposta é aproveitar os aspectos positivos de um sistema de troca nocivo que vem afligindo a indústria hoje: gravações caseiras, em fita cassete, de material lançado em vinil…
Em primeiro lugar, é preciso perceber que a gravação de álbuns [em fita] não é motivada somente pela 'pão-durice'… Hoje em dia, as pessoas curtem música mais do que nunca, e gostam de levá-la consigo para onde forem. Elas conseguem ouvir a diferença entre áudio bom e ruim… elas se importam com essa diferença, e estão dispostas a enfrentar certas complicações e arcar com determinados custos para ter 'áudio portátil' de alta qualidade e usá-lo como 'papel-de-parede de seus estilos de vida'.
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Propomos adquirir os direitos de duplicação e armazenamento digital do catálogo de cada gravadora, juntar tudo num centro de processamento e tornar esse material acessível por telefone ou TV a cabo, que podem ser diretamente acoplados aos aparelhos de gravação do usuário. As opções seriam: transferência digital direta para o F-1 (codificador de fita digital da Sony de uso doméstico), Beta Hi-Fi, ou fita cassete analógica comum (necessário instalar um conversor no aparelho telefônico… o chip custa cerca de 12 dólares).
Toda a contabilidade do pagamento de royalties, cobrança ao cliente, etc. seria automática, embutida no software inicial do sistema.
O consumidor tem a opção de assinar uma ou mais Categorias de Interesse, pagando uma taxa mensal, independente da quantidade de músicas que ele ou ela decidir gravar.
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Fornecer essa quantidade de material com custo reduzido poderia diminuir o intuito de duplicar e armazenar, já que tudo estaria disponível a qualquer hora do dia ou da noite.
A vantagem da TV a cabo é que uma visualização da arte da capa, incluindo letras das músicas, ficha técnica etc., poderia ser exibida durante a transmissão, conferindo ao projeto ares do merchandising original agregado ao álbum, já que muitos consumidores têm o fetiche de manipular carinhosamente a embalagem enquanto a música toca. Dessa forma, o Potencial de Manipulação Carinhosa e Fetichista é preenchido, sem o custo de transportar toneladas de papelão por aí.
Requisitamos uma grande quantidade de dinheiro e os serviços de uma equipe de mega-hackers para desenvolver o software para este sistema. A maioria dos equipamentos está, mesmo enquanto você lê isto, disponível prontamente, só esperando para serem plugados uns aos outros para que possam pôr fim à indústria de discos como conhecemos hoje".
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Riffola
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