Ricardo Cesar: quando todos os dias pareciam ser um dia longo e distante
Resenha - Just Another Day - Ricardo Cesar
Por Gerson Boaventura
Postado em 27 de abril de 2020
Nota: 8
Quando recebi as faixas da obra Just Another Day, estávamos bem no meio da quarentena por conta da pandemia de COVID-19 (não sei quando você, leitor, vai ler esta matéria). Baixei tudo pra ouvir no celular, pois ia ter que sair pra fazer supermercado. E foi assim a primeira vez que o escutei, noite escura de cidade deserta. Um clima de tensão e melancolia, raríssimos transeuntes mascarados a evitar qualquer contato e o som onírico deslizando dos fones de ouvido pra dentro da mente.
Aviso logo que pra entender bem a descrição que vou fazer você tem que ouvir pelo menos a faixa que recebeu um clipe oficial (ao fim do texto).
Just Another Day foi feito, acredito eu, para ser escutado todo de uma vez só. A primeira faixa, de 2 minutos e 14 segundos, bem poderia ser a faixa final de um álbum ou de um filme. Mas é justamente por isso que é a primeira. Ela marca o fim de um dia e o começo de um novo. Nessa despedida de sorriso melancólico, já é preparado o clima para a seguinte, You Trip Me Up. Um sonho de afeto e saudade. É uma música estranhamente feliz e sombria ao mesmo tempo. Aliás, é isso que o álbum todo é, uma obra estranhamente sombria e feliz, alguém que encontra paz dentro da melancolia. Quando os ouvidos se acostumam aos efeitos fantasmagóricos, encontram faixas bem animadas. Parece que se está a folhear um álbum de fotografias muito antigas, de tempos mais leves. Já Inner Light, a sexta faixa, é uma faixa de transição, de repetições de efeitos em contraponto à voz enebriada. Na faixa seguinte, Walk, voltamos ao clima mais pesado da primeira faixa, mas com a cadência constante das cordas que vão marcando os passos.
Together at Heart já tem outro estilo, quase destoante do todo. A obra, um dia estranho, se aproxima da conclusão.
The Garden é uma música de começos. É o fim da obra, mas o começo de um novo dia . Talvez apenas mais um dia. Um contraponto evidente com a primeira faixa.
Os efeitos utilizados nas faixas fazem com que se sinta um distanciamento enquanto se escuta, mas não exatamente da obra. É como se a experiência levasse a nos observarmos de fora, um terceiro olhar. Não é um disco fácil, precisa que o ouvinte estabeleça um pareamento emocional para poder apreciá-lo completamente. Uma aposta ousada do artista.
Ricardo Cesar é também baixista d'Os Intrusivos e do Anum Preto, ambas de Fortaleza-CE.
É um bom álbum, mas muito denso e nada fácil. Escute em dias introspectivos com uma bebida na mão e meia luz apenas.
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