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Kraftwerk: Mais uma aula de um dos pais da música pop contemporânea

Resenha - 3D The Catalogue - Kraftwerk

Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 06 de junho de 2017

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Semana passada comemorou-se com merecido foguetório o cinquentenário do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, que irrigou parte do pop contemporâneo, especialmente uma vertente que amo, o rock progressivo. Parabéns aos Fab Four pela conquista, mas passei a semana ouvindo os Beatles da música eletrônica, o Kraftwerk.

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Infinitamente menos conhecidos do grande público, o quarteto germânico virou o cromossomo K do genoma da música pop eletrônica. Não há subgênero que escape à influência de Ralf Hütter, Florian Schneider, Karl Bartos e Wolfgang Flür, que se espraia também pelo punk e várias subdivisões da música negra, como o hip hop. Não é exagero dizer que não passa mês sem que a batida de Tour de France ou Numbers seja sampleada. Decerto há jovem fazendo electro meio sem saber quem é o Kraft, mas usando suas inovações tecnológicas e/ou samples.

Em semana tão simbólica para o cancioneiro pop, escutar os alemães ao invés dos veneráveis/venerados britânicos não foi birrinha infantil ou desejo de fazer heresia cultural. É que o Kraftwerk lançou dia 26 de maio uma supercaixa em vários formatos, chamada Kraftwerk 3-D: The Catalogue.

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Da formação clássica resta apenas Ralf Hütter, quem dá as cartas pra Henning Schmitz, Fritz Hilpert e Falk Grieffenhagen. Homem de negócios de primeira e cônscio de que o Karftwerk é instituição, Hütter decidiu que entre 2012-16, tocariam a discografia completa em respeitosos museus, óperas e centros culturais ao redor do globo. Duas observações:

a) Por completa, entenda-se que a banda há décadas desconsidera Kraftwerk I (1970) e II (1972) e Ralf und Florian (1973), assim a discografia oficial inicia-se em 1974, com Autobahn. Nem sei se os 3 LPs rejeitados encontram-se em catálogo.

b) Por completa, entenda-se que Hütter reduziu o tempo de faixas e fundiu outras, porque se tratava de encaixar o material em shows.

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Foram séries de espetáculos elogiados como extravagâncias tecnológico-visuais em 3-D, em locais badalados como o MoMA (Nova York), o Tate Modern Turbine Hall (Londres), as óperas de Sydney e Oslo, a Fundação Louis Vuitton (Paris) e a Neue National Galerie (Berlin). No repertório, os álbuns: Autobahn (1974), Radio-Activity (1975), Trans Europe Express (1977), The Man-Machine (1978), Computer World (1981), Techno Pop (1986), The Mix (1991) and Tour De France (2003). O material realmente seminal corresponde ao período de 74-81, quando os reservados teutônicos influenciavam até o Camaleão do Rock.

Caso você não tenha paciência para ver shows, pode optar pelo formato de 8 CDs, com 42 faixas. Poderiam ser menos CDs, uma vez que o mais longo não passa de 38 minutos, mas certamente a banda desejou manter a simbologia dos álbuns individuais. E o departamento comercial da Parlophone, cobrar mais.

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Puristas sonoros, as reações da plateia foram eliminadas das gravações, inclusive aplausos, então é como se fosse um ao vivo no estúdio. Melhor, a tecnologia mais avançada de hoje permite algumas filigranas e efeitos impossíveis à época dos álbuns. Além disso, algumas canções estão com arranjos distintos; outras mesclam a versão original com a constante no álbum The Mix, caso de Radioactivity; outras mais rápidas, como Airwaves.

Fãs mais idosos poderão estranhar um bocadinho os vocais, que tentam soar como os originais, mas mesmo bem parecidos, diferem um pouco, mas qual trabalho ao vivo soa idêntico? Isso é procurar pelo em ovo, porém, porque tudo que amamos está lá: as vozes robotizadas; aquelas lambadas agudas de sintetizador fustigando deliciosamente o tímpano; a percussão seca e eletrônica, mas com o sangue quente africano; o rigor inexorável metalizado da música simulando trem; as minissinfonias eletrônicas; a repetição hipnótica de arranjos minimalistas ou complexos; contadores Geiger e estática alçados à condição de música e, sobretudo, aquela visão, hoje fracassada, de como soaria um futuro atômico-espacial de metrópoles de neon.

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Kraftwerk 3-D: The Catalogue é necessário e pertinente companheiro diversificador para os álbuns originais. Serve como catálogo de bolso pela redução dos tempos de execução; serve como introdução para as gerações desconhecedoras da Luz e da Verdade da Usina de Força.

Serve, porque é Kraftwerk.

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Sobre Roberto Rillo Bíscaro

Roberto Rillo Bíscaro é professor universitário e edita o Blog do Albino Incoerente desde 2009.
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