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Angra: "Secret Garden" é o disco mais sombrio da banda

Resenha - Secret Garden - Angra

Por Luiz Felipe Lima
Postado em 23 de janeiro de 2015

Nota: 8 starstarstarstarstarstarstarstar

O dia 25 de setembro de 2011 teve um gosto amargo para muita gente. Esse foi o dia em que o Angra fez o seu fatídico show no Rock in Rio, uma apresentação que só não foi pior do que toda a repercussão posterior. Desde membros da banda entrando em conflito com a mídia até a saída de Edu Falaschi, para muitos a banda estava morta - e eu me incluo neste grupo.

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Matéria originalmente publicada no site DELFOS

http://www.delfos.jor.br

Acontece que o tempo passou e não só a banda trouxe novos membros como parece ter ganho vida nova. Fabio Lione e Bruno Valverde entraram, a banda arranjou um novo empresário e após o DVD de comemoração do disco Angels Cry (que inexplicavelmente não saiu em blu-ray por aqui), eles anunciaram um novo disco de inéditas. E como você já deve ter percebido pelo título da resenha, este disco já saiu e se chama Secret Garden.

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Algum tempo atrás, eu fiz uma matéria aqui no DELFOS a respeito de o que esperar do Secret Garden, e é claro que essa matéria aqui fará um paralelo com a anterior, então recomendo ler aquela antes. Além disso, aqui eu vou responder o que a nação delfiana quer saber...

COMO FICOU O NOVO DISCO?

A resposta para a pergunta do último parágrafo, a meu ver, seria que este disco está mais sombrio e misterioso do que qualquer um dos que o Angra já lançou. Digo isso porque, para além de todos os outros elementos novos e velhos que aparecem no disco, a maioria das músicas possui uma aura mais misteriosa. O fato, contudo, é que a mudança foi bem profunda, e isso pode causar um grande estranhamento à primeira ouvida.

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Na matéria anterior eu dizia que esperava que este disco fosse mais pesado, seria um tanto restrito no uso de elementos brasileiros e que provavelmente usaria muitos vocais de ópera. A primeira previsão eu acertei: este disco está mais pesado do que os anteriores justamente por ser mais sombrio do que qualquer um deles. Contudo, eu errei feio na parte de vocais de ópera: o Lione só usa de fato seus dotes de ópera em um trecho muito curto de uma música, Black Hearted Soul.

No que tange ao uso de influências brasileiras, é importante destacar que elas ainda estão aqui, mas bem mais escondidas do que costumavam ser. A maior parte dos elementos brasileiros se encontra na harmonia da música, e é algo que se você não prestar atenção, acaba passando batido. É seguro dizer que nesse disco você não encontrará nada tão explícito como era no Holy Land.

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A PROPOSTA DO ANGRA

Entre os elementos novos, por exemplo, eu diria que o grande destaque é o guitarrista Rafael Bittencourt assumindo os vocais em algumas faixas, o que funciona surpreendentemente bem. Nota-se um grande avanço na técnica e expressão vocal do guitarrista, principalmente se comparado ao seu primeiro disco-solo, o Brainworms I.

Dos outros elementos novos, eu aqui dou destaque à maior presença do baixo e da bateria, e principalmente a algo que se repetiu tantas vezes que me surpreendeu: uma influência forte de música pop. Sabe o que Violet Sky, Final Light e Crushing Room têm em comum? Versos dançantes. Todas as três possuem versos de ritmo contagiante, e que provavelmente vão fazer você balançar a cabeça menos como um headbanger e mais como um cachorrinho de brinquedo.

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É importante destacar a reciclagem de elementos antigos. Vou tomar como exemplo Silent Call, que é uma balada curiosa por, ao mesmo tempo, ser e não ser algo que a banda costuma fazer. Ela possui uma estrutura e até uma melodia que remete às baladas anteriores da banda - principalmente as da fase Andre Matos -, mas o fato de ter sido toda feita em voz e violão a torna uma música única na cada vez mais extensa discografia do Angra.

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Este exemplo deixa bem claro como a banda traz elementos antigos e os adequa à nova sonoridade. Storm of Emotions, por exemplo, tem todos os elementos que uma música como Heroes of Sand já tinha - inclusive a subida de tom no final -, mas é construída de forma tão distinta que isso acaba sendo irrelevante.

DOIS CASOS À PARTE

Um caso à parte que merece ser citado é o da faixa-título, Secret Garden. Ela é uma música cuja energia se encaixa muito bem na proposta do álbum, mas que não parece ter sido tão bem trabalhada quanto as outras. Secret Garden conta com a participação de Simone Simons (com bacon!), do Epica, que canta durante toda a música.

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Isso provavelmente explica o porquê de ela não ter sido bem finalizada - a banda não tem uma vocalista de plantão que pode trabalhar as melodias vocais por quanto tempo for necessário como, por exemplo, Lione e Rafael puderam. Obviamente o dueto com Doro Pesch em Crushing Room não teve esse problema, pois uma participação especial é muito mais fácil de ser feita do que uma música inteira.

Já Upper Levels é uma música que possui influências bem fortes de bandas como Dream Theater e Rush, com compassos quebrados e melodias intrincadas. É um tipo de música que a banda já havia tentado fazer no Aqua com Hollow, e que, se naquela ocasião não tinha conseguido atingir um bom resultado, nesta a banda se saiu melhor. Contudo, fiquei com a impressão de que a música, ainda que seja melhor do que Hollow, ainda assim é fraca se comparada às outras do disco. Eu pessoalmente a classificaria como uma música-nada.

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AS DUAS BOLAS FORAS DO DISCO

Lembra que lá nos primeiros parágrafos eu falei que a maioria das músicas possuía um clima sombrio e misterioso? Pois é. Me refiro à maioria porque pelo menos umas duas músicas não seguem esse padrão, o que para mim faz com que o disco não seja tão coeso quanto poderia ser. Black Hearted Soul e Perfect Simmetrytrazem uma sonoridade Power Metal que, apesar de não ser ruim, soa desconexo com o que o álbum apresenta.

O problema aqui, repito, não são as músicas. Elas são bem feitas, é verdade, mas não trazem nada de novo se comparado ao que a banda já produziu. A impressão que fica é a de que elas estão lá unicamente para cumprir a cota de Power Metal que um disco da banda tem que ter. É justamente por destoarem tanto dentro de um álbum que prima por criar uma atmosfera que essas duas músicas acabam sendo uma bola-fora.

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RE-REBIRTH?

O balanço final é o de que o Angra mais uma vez se reinventou. Os fãs podem gostar, mas para isso é necessário abrir bem os ouvidos e se lembrar de que o Angra, assim como na formação da Nova Era, está mudando. Mas a dica mesmo é para você que não gostava da banda ou havia desistido dela: sugiro fortemente que você confira esse registro novo, pois você pode se surpreender.

1 – Newborn Me
2 – Black Hearted Soul
3 – Final Light
4 – Storm of Emotions
5 – Violet Sky
6 – Secret Garden
7 - Upper Levels
8 – Crushing Room
9 – Perfect Simmetry
10 – Silent Call

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Sobre Luiz Felipe Lima

Depois de ficar louco com o Ritualive do Shaman nos primórdios dos anos 2000, a sua trajetória no Metal apenas se intensificou. Fã inveterado de Pantera, aprendeu rápido que é possível achar música boa desde Death até Europe, e escreve para que cada vez mais pessoas consigam perceber que não se pode ter uma mente pequena se você quiser conhecer grandes músicas.
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