Rush: Longe de ser um favorito, mas não é um lixo
Resenha - Hold Your Fire - Rush
Por Giales Pontes
Postado em 18 de novembro de 2014
Nota: 7
‘Hold Your Fire’ (1987), décimo segundo album de estúdio na carreira do Rush, afinal de contas não soa tão ruim hoje em dia. Mas acho que apesar de ter dividido opiniões na época de seu lançamento, a sensação de que a banda tinha finalmente se rendido ao pop/rock palatável daqueles tempos foi quase uma unanimidade.
A acessibilidade sonora pincelada no bem-sucedido ‘Permanent Waves’ (1980) e reafirmada no clássico ‘Moving Pictures’ (1981), foi extrapolada a partir do também clássico 'Signals' (1982). O uso de sintetizadores passou a ser massivo, e tais recursos deixaram de ser meros complementos para tornarem-se elementos centrais no som do power-trio canadense, muitas vezes relegando os demais instrumentos a posição de coadjuvantes.
Pode-se dizer que até ‘Signals’ essas inovações foram aceitas pela grande maioria dos fãs. Mas depois dele, a coisa meio que se dividiu. Os fãs mais tradicionais não engoliam de jeito nenhum a "popice" adotada pelo Rush dali em diante. O fato é que o álbum foi bem-sucedido comercialmente falando, alcançando a 13ª posição no Top 200 da Billboard americana. E produziu clássicos como ‘Time Stand Still’ e ‘Mission’.
‘Force Ten’, a faixa que abre o álbum, única letra de ‘Hold Your Fire’ em que Neil Peart dividiu o trabalho de composição (com o poeta Pye Dubois), já dá a tônica do que você irá ouvir ao longo de todo esse trabalho. A introdução de ‘Force Ten’ com uma bateria eletrônica causa estranheza, e de certa forma choca qualquer fã que até então nunca tenha ouvido nada além da fase clássica da banda. As guitarras discretas dão as caras aqui e ali, mas o que permanece é a sonoridade pop/rock/grandiosa/radiofônica. Uma boa música.
‘Open Secrets’ vai na mesma linha com uma entrada cheia de camadas de teclado e uma bela melodia na guitarra de Lifeson. Os vocais de Geddy Lee são sempre um show a parte! Os primeiros acordes de ‘Mission’ chegam a assustar lembrando vagamente ‘Walk On Life’ do Dire Straits, mas a entrada do vocal de Geddy logo desfaz a impressão. Essa música é um perfeito exemplo de como o Rush foi capaz de se manter íntegro e até mesmo conectado as suas raízes progressivas. Está longe de ser uma ‘Spirit Of Radio’ ou mesmo uma ‘Tom Sawyer’, mas ainda assim é uma boa música, que mescla a sonoridade pop/rock que o grupo adotou nos anos 80 com a centelha progressiva de outrora, o que faz toda a diferença no resultado final.
‘Second Nature’ abre com belíssimos acordes de piano lembrando algo de Elton John, e constitui-se uma boa balada, principalmente quando as guitarras melodiosas de Alex Lifeson invadem a canção. ‘Prime Mover’ é introduzida com boas guitarras limpas tendo os sintetizadores fazendo uma bela ‘cama’ para os demais instrumentos. O baixo de Geddy como sempre, dá um show, e apesar de aparecer destacado em todo o álbum, é nessa faixa que ele brilha com mais força. Essa é de longe a minha favorita nesse álbum, sobretudo pela energia das guitarras e pelo equilíbrio do instrumental.
A entrada entusiástica de ‘Turn The Page’ com o baixo de Lee, logo é "atacada" com as cordas enérgicas de Lifeson, e temos mais uma típica música pop/rock/progressiva com muito teclado e um refrão muito bom! O baixo de Lee mais uma vez se destaca! Mas é o solo de Alex que chega para nos lembrar que isto ainda é um álbum de rock and roll, por mais leve que lhe soe!
O início de ‘Tai Shan’ faz uma referência sonora direta a seu título, trazendo uma incursão com som de flauta em uma melodia oriental muito bonita. Os sintetizadores dão a tônica nessa faixa, que traz guitarras comportadas, meio jazzísticas, e com aquelas palhetadas cheias de efeitos tão típicos de Alex. ‘Lock and Key’ tem uma linda introdução ao teclado, tendo os primeiros versos cantados por Geddy devidamente complementados por linhas discretas do baixo e da guitarra.
Quem leu o texto até aqui, pode estar estranhando o fato de eu mal ter falado sobre o trabalho de Neil Peart nesse álbum. Bem, Peart é Peart! Mesmo mais contido, em ‘Hold Your Fire’ ele mostra sua incrível técnica com a classe e a genialidade de sempre. Em suma, não há muito mais o que se dizer sobre esta unanimidade, sendo ele um dos maiores bateristas de rock de todos os tempos (em minha modesta opinião, O MAIOR de todos).
‘High Water’ segue a linha de batidas eletrônicas meio tribais que permeia todo o álbum, e mais uma vez com boas guitarras e muito sintetizador. As melodias também são marcantes, o que não é nenhuma novidade em trabalhos do Rush. De resto, devo dizer que para mim é um hábito focar nas qualidades de um álbum e não tanto nos defeitos.
Sempre tenta-se fazer uma análise mais fria do trabalho como um todo, e eu tenho que admitir que ‘Hold Your Fire’ está longe de figurar entre meus discos favoritos do Rush. Mas seria desonesto da minha parte chegar aqui e dizer que o disco é um lixo, que nada se aproveita, quando na verdade eu até gosto dele. Tirando a capa que é muito, mas muito feia, e a sonoridade que podia ser um pouquinho mais "carregada", eu até poderia dar uma nota mais alta para este décimo segundo trabalho do Rush.
Track-list
1 . Force Ten
2 . Time Stand Still
3 . Open Secrets
4 . Second Nature
5 . Prime Mover
6 . Lock And Key
7 . Mission
8 . Turn The Page
9 . Tai Shan
10. High Water
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