Judas Priest: Um caminho de sucesso a ser trilhado
Resenha - Sad Wings Of Destiny - Judas Priest
Por Hugo Alves
Postado em 21 de abril de 2013
Falar sobre o segundo álbum do Judas Priest é falar sobre o momento em que eles começaram a ser aquilo que todos nós, amantes de Heavy Metal, aprendemos a amar a partir das obras de Rob Halford e cia.. Após o controverso e "perdidão" "Rocka Rolla" (1974), o Judas Priest encontrou seu caminho, de modo que a voz de Rob Halford ganhou vida própria e o Heavy Metal praticado pela banda se tornou uma escola obrigatória para toda e qualquer banda que tenha vindo após eles.
Falo hoje sobre o segundo disco do Judas Priest, o mega-clássico "Sad Wings of Destiny", lançado em 1976. Este disco é uma obra-prima perdida (e ao longo da resenha será explicado o "por quê" deste adjetivo) do Heavy Metal, e já na abertura do CD ouvimos a arrasa-quarteirão "Victim of Changes" que, infelizmente, começa com um fade-in que se prolonga em demasia, fazendo com que o ouvinte perca uma parte da introdução em guitarras dobradas, sendo esse o marco-zero da influência que K.K.Downing e Glenn Tipton viriam a exercer sobre todas as outras bandas que surgiriam a partir de então. Essa canção é um clássico de quase oito minutos que apresenta tudo o que o Judas Priest sabe fazer de melhor: bateria forte e cadenciada, baixo marcante, guitarras rasgadas e vocal caprichado, num dos melhores trabalhos de Rob Halford, que abusou dos agudos cortantes e certeiros, bem como em outra faixa imortal no repertório da banda, "The Ripper" (que, a título de curiosidade, ironicamente veio batizar o substituto de Rob Halford no Judas Priest, o injustiçado Tim Owens, anos depois). Essa canção é um símbolo do Metal, com suas guitarras distorcidas subindo em tons e semitons, num clima obscuro e acelerado ao mesmo tempo.
A canção seguinte, "Dreamer Deceiver", parece uma transição entre o Judas Priest de "Rocka Rolla" e o deste álbum, já que trata-se de uma balada triste, cadenciada, na qual Rob Halford estranhamente "engrossa" a voz, e fica um tanto artificial, mas a coisa melhora da metade até o final, quando ele volta a experimentar o que viria a ser sua marca registrada: vocal teatral e abusivamente agudo, contando ainda com belos solos de guitarra no final. A faixa que vem a seguir é bem curta (menos de três minutos): trata-se de "Deceiver", uma canção típica do Heavy Metal, as palhetas coçando as cordas mais graves, com o baixo e a bateria marcando, fazendo a cozinha perfeita para as viagens vocais de Halford.
Num clima de filmes de terror, entra em cena um som de piano (!) e, com ele, "Prelude", introdução instrumental de dois minutos que, no final, conta com órgão e alguns fills de guitarras dobradas, tudo isso para introduzir uma trinca de clássicos importantíssimos para o começo da carreira do grupo, mas que a partir dos anos 1980 acabaram num longo esquecimento. A primeira é a nervosa "Tyrant", e aqui ouvimos o então novo baterista Alan Moore (que substituiu John Hinch, que foi o baterista do primeiro disco) arrebentando a bateria num ritmo acelerado e incessante que veio a ser uma das muitas marcas registradas da banda, seguida por "Genocide", com distorções inacreditáveis nas guitarras, mesmo para a época, e novamente o vocal inconfundível de Rob Halford, bluesy e agressivo ao mesmo tempo, se faz presente de maneira sublime aqui. A trinca finaliza com a inusitada "Epitaph", onde novamente encontramos um belo trabalho de piano, mas infelizmente Rob Halford resolveu "engrossar" a voz e deixar a canção um tanto artificial. Essa faixa é realmente um achado dentro do vasto repertório da banda, chegando até a lembrar o Queen em alguns momentos, principalmente por causa dos backing vocals (Freddie Mercury & cia. lançaram "A Day at the Races" naquele mesmo ano e haviam estourado no mundo com "A Night at the Opera" e sua "Bohemian Rhapsody", um ano antes).
Finalizando a bolacha, "Island of Domination" empresta o clima de piano nos primeiros segundos para, logo em seguida, se tornar uma faixa agressiva, onde as palhetas coçam as cordas graves (e me parece haver um efeito wah-wah) aqui, e Rob Halford grita como se fosse a última coisa que fizesse na vida. A cozinha de Ian Hill e Alan Moore aqui faz uma diferença gigantesca, numa marcação certeira que dá cara própria à canção.
O álbum "Sad Wings of Destiny" rendeu bons frutos à banda: alguns clássicos que duraram muito tempo, outros que os perseguiram por toda a carreira mas, principalmente, personalidade. A banda finalmente se encontrou, ainda que alguns clichês não tenham aparecido aqui. De qualquer modo, a história teve um final um pouco triste: após o fim da turnê de promoção do disco, a banda rompeu com a Gull Records (responsável pelos dois primeiros discos da banda), indo para a Columbia Records (na Inglaterra; CBS nos EUA) e, infelizmente, perdendo os direitos sobre os dois primeiros álbuns – hoje, se você encontrar uma cópia original daquela época, saiba que tem algo raro e valiosíssimo em suas mãos. Uma obra inestimável do Heavy Metal, que só veio a comprovar que o Judas Priest andava na contramão do que era moda na época: o Rock Progressivo e o Heavy Metal perdendo lugar para o Punk Rock – isso não atingiu o Judas Priest, que esfregou na cara do mundo por muitos anos do que é feito o genuíno Heavy Metal, sem no entanto parecer piegas, como o Manowar, por exemplo. Clássico!
Tracklist (do CD – a ordem do vinil é diferente):
01. Victim of Changes
02. The Ripper
03. Dreamer Deceiver
04. Deceiver
05. Prelude
06. Tyrant
07. Genocide
08. Epitaph
09. Island of Domination
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