Lou Reed: Um dos letristas mais contundentes do rock
Resenha - Transformer - Lou Reed
Por Paulo Severo da Costa
Postado em 27 de junho de 2012
Nota: 10
Nos anos 80, se você quisesse sobreviver, precisava ser esperto. Muitos anos antes do cyberbulliyng e outras armadilhas da modernidade, certos assuntos eram considerados tabus e, muitas das vezes, certos gostos musicais – e a predileção por certos artistas - morriam com você, na solidão do seu quarto.
Assim, quando estivesse perto da galera, o "certo" era jurar morte aos posers, fazer capas de cadernos com logos de bandas de macho - de preferência misturado com alguma foto de mulher pelada - e, principalmente, odiar certos tipos, seja pelo seu som comercial, seja por sua aparente (ou notória) "viadagem".
Regras de conduta como essa extirpavam qualquer possibilidade, ainda que remota, de escutarmos figurinhas como BOWIE, FREDDIE MERCURY (em carreiro solo - ouvir QUEEN era aceitável!!) e, claro, LOU REED. Esse último era caso de excomunhão total, de isolamento, surras, e em casos mais graves, de expatriação do incauto ouvinte.
Fato é que LOU REED nunca quis agradar ninguém - escreveu e escreve sobre o lado B da existência humana, sempre escancarando aquilo que a maioria apenas menciona tentando "não ofender". Pernóstico, insensato, marginal e dono de uma capacidade de se reinventar constantemente, lançaram em 1972, o clássico "Transformer".
O disco decepciona aquele que procura as fantásticas guitarras moedeiras dos anos 70. Aqui, o ouvinte vai encontrar, em primeiro plano, pianos, cordas e metais emoldurando o tom monocórdico de REED. Entretanto, apesar de o instrumento inventado por LES PAUL vir em segundo plano, o que segura a onda aqui mesmo é a capacidade criativa do nova iorquino porra louca, capaz de transformar o que toca em artigo de primeira.
"Vicious" abre o disco com uma alusão ao submundo dos socialmente indesejáveis - como travestis ("Hey por que você não engole lâminas de barbear/Você deve pensar que eu sou algum tipo de lâmina gay"), acompanhado de uma guitarra crua, direta. Na mesma linha "chute no saco" da sociedade, o clássico absoluto "Walk On The Wild Side" provoca na linha abaixo da cintura ("Little Joe nunca chegou a revelar/Todo mundo tinha que pagar e pagar/Um michê aqui, um michê ali/Nova York é o lugar onde eles disseram: "Hey babe, Dê um passeio no lado selvagem"). É brincadeira??
Se "Satellite Of Love" trata, com o devido sarcasmo, da alienação e da robotização do meio social contemporâneo, "Perfect Day" vai na mesma temática de "Ouro de Tolo" – (Um dia simplesmente perfeito/Dar comida aos animais no zoológico/E mais tarde um filme também/E depois para casa), criticando acidamente a incapacidade do indivíduo de questionar as coisas que o cercam, bem como o comodismo reinante nas fileiras da sociedade atual .
É um disco fácil de ser assimilado? Não. Faixas como "New York Telefone Conversation" e "Goodnight Ladies" estão inseridas em um contexto "cabeça" - difícil de ser compreendida de primeira. O certo mesmo é entender a obra como um trabalho de primeira grandeza de um dos letristas mais contundentes que o rock já teve.
Track list:
1. "Vicious"
2. "Andy's Chest"
3. "Perfect Day"
4. "Hangin' 'Round"
5. "Walk On The Wild Side"
6. "Make Up"
7. "Satellite of Love"
8. "Wagon Wheel"
9. "New York Telephone Conversation"
10. "I'm So Free"
11. "Goodnight Ladies"
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