Resenha - A Arte do Insulto - Matanza
Por Thiago El Cid Cardim
Postado em 21 de novembro de 2006
Se você não conhece os cariocas do Matanza e não faz sequer idéia do que raios é o seu som, segue uma historinha elucidativa. Lá estava eu, com meu crachá de imprensa, nos bastidores do Video Music Brasil 2004. A apresentação final do programa foi uma jam session entre os músicos do grupo e mais Pitty, Rogério Flausino (Jota Quest), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) e integrantes do CPM 22, reunidos para cantar e tocar Rock and Roll All Nite, do Kiss. Quando saíram do palco, foram direto para a sala de imprensa, onde seriam fotografados. Entre um flash e outro, Dinho tentou uma aproximação com Jimmy London, o gigantesco vocalista do grupo. "Vem aqui, meu, vamos todos nos abraçar para as fotos". E o barba ruiva rapidamente respondeu, com sua voz de trovão: "Sai fora. Eu não abraço nem a minha mãe". E ficou lá, no fundão, braços cruzados e cara de mau. Isso é justamente o que se pode esperar de "A Arte do Insulto", o mais novo CD de inéditas do Matanza: pura testosterona em um dos melhores CDs nacionais do ano.

Iniciando a bolacha já em altíssima velocidade com a faixa-título, uma ode sem papas na língua aos bebuns mais chatos do boteco, o Matanza continua sem concessões em seu som - um hardcore de caminhoneiro, poderoso e mal-educado com levadas country (daquele tipo mais sombrio, a la Johnny Cash) e boas pitadas de irreverência e da violência de sons como Motörhead (cujo vocalista, Lemmy, leva uma vida que lembra e muito as letras do Matanza, aliás).
Prepare-se para ouvir, no volume máximo, os temas favoritos do grupo em canções devastadoras: a canalhice ("Clube dos Canalhas", que presta reverência ao pulador de cerca profissional), a autodestruição ("Sabendo Que Eu Posso Morrer"), a jogatina ("Quem Perde Sai"), a porradaria ("Meio Psicopata"), o modo de vida anti-social ("Eu Não Gosto de Ninguém"). E, é claro, a boa e velha bebedeira, homenageada em "Ressaca Sem Fim" (se você estiver com aquela dor-de-cabeça típica da ressaca, melhor pular esta faixa), "O Chamado do Bar" (com seu antológico refrão "Devo nada pra ninguém / Bebo se estiver afim / A minha vida é minha / E a sua que se foda") e a ótima "Whisky Para um Condenado". Tudo isso quase sem intervalos entre uma canção e outra. Respire se puder.
"A Arte do Insulto" ainda permite que o Matanza revisite o Velho Oeste e seus bandidos sujos e malvados, tão presentes nos anteriores "Santa Madre Cassino" e "Música Para Beber e Brigar", com "O Caminho da Escada e da Corda" - na qual dá para visualizar claramente um vilão sendo enforcado ao pôr do sol do Alabama - e com a balada de despedida "Tempo Ruim". E olha só, ainda tem espaço até para a reflexiva "Quem Leva a Sério o Quê?", que cabe tanto para os críticos da grande imprensa ("A verdade é que não há verdade / Tudo é porque não há não ser") quanto para os pentelhos de plantão que adoram levantar discussões inúteis nos fóruns internéticos ("Desconheço quem tenha razão / Acho perda de tempo qualquer discussão").
Para encerrar, o quarteto desacelera o tom e apela para a deliciosa "Estamos Todos Bêbados", uma inacreditável balada irlandesa (não por acaso, o povo mais beberrão do planeta) com bandolins e tudo mais, de refrão que não dá para ficar sem cantar junto. Definitivamente, não haveria canção melhor para fechar um CD como este. Insulto pouco é bobagem.
Se você acha que o rock nacional está perdido nas mãos da Pitty, dos Detonautas e do Charlie Brown Jr., estes quatro malucos do Rio de Janeiro podem ajudar a desandar o molho com a sua bem-vinda criatividade e autenticidade. No fim das contas, é rock nacional com culhões de verdade. Graças a Deus.
Line-up:
Jimmy London - Vocal
Donida - Guitarra
China - Baixo
Fausto - Bateria
Tracklist:
1. A Arte do Insulto
2. Clube dos Canalhas
3. O Chamado do Bar
4. Sabendo que Eu Posso Morrer
5. Quem Perde Sai
6. Meio Psicopata
7. Eu Não Gosto de Ninguém
8. O Caminho da Escada e da Corda
9. Ressaca sem Fim
10. Tempo Ruim
11. Quem Leva a Sério o Quê?
12. Whisky para um Condenado
13. Estamos Todos Bêbados
Gravadora: Deckdisc
Outras resenhas de A Arte do Insulto - Matanza
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A música que Lars Ulrich disse ter "o riff mais clássico de todos os tempos"
O "Big 4" do rock e do heavy metal em 2025, segundo a Loudwire
O primeiro supergrupo de rock da história, segundo jornalista Sérgio Martins
O álbum que define o heavy metal, segundo Andreas Kisser
O lendário guitarrista que é o "Beethoven do rock", segundo Paul Stanley do Kiss
Dio elege a melhor música de sua banda preferida; "tive que sair da estrada"
A canção dos Rolling Stones que, para George Harrison, era impossível superar
Como foi lidar com viúvas de Ritchie Blackmore no Deep Purple, segundo Steve Morse
Guns N' Roses teve o maior público do ano em shows no Allianz Parque
Iron Maiden vem ao Brasil em outubro de 2026, diz jornalista
Os onze maiores álbums conceituais de prog rock da história, conforme a Loudwire
Bloodbath anuncia primeira vinda ao Brasil em 2026
Os shows que podem transformar 2026 em um dos maiores anos da história do rock no Brasil
Os 11 melhores álbuns de rock progressivo conceituais da história, segundo a Loudwire
O Melhor Álbum de Hard Rock de Cada Ano da Década de 1980
O estilo musical que George Israel não curte: "Sem conexão com o Rio de Janeiro"
O hit dos Beatles que John Lennon odiava: "Nunca ouvi propriamente, era apenas barulho"
A incrível música do Pink Floyd que David Gilmour tinha muita dificuldade para cantar


As três bandas clássicas que Jimmy London, do Matanza Ritual, não gosta
Metallica: "72 Seasons" é tão empolgante quanto uma partida de beach tennis
Pink Floyd: The Wall, análise e curiosidades sobre o filme



