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Resenha - Quatro Estações Ao Vivo - Legião Urbana

Por Sílvio Costa
Postado em 18 de julho de 2004

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

E o espólio de Renato Russo continua a render muito para sua antiga gravadora e para os seus ex-companheiros de banda. Esse disco traz a gravação de um show realizado em agosto de 1990, durante a turnê do disco "As Quatro Estações", no estádio do Palmeiras. Por mais que se tente entender o que foi (e o que ainda é) o fenômeno Legião Urbana, só mesmo mergulhando no clima de uma apresentação ao vivo, com Renato Russo comandando uma legião de mais de cem mil fiéis seguidores, ávidos por ouvir seus versos e suas declarações, por vezes beirando o non-sense, é que dá para ter uma vaga idéia do que este professor de inglês que um dia resolveu virar uma espécie de Messias do rock brasileiro é que se pode ter uma vaga idéia do que o grupo brasiliense representou na história recente da música brasileira.

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Misturando grandes sucessos com músicas pouco conhecidas, essa é, seguramente, a melhor gravação ao vivo já disponibilizada de modo oficial feita pelo grupo. O set list se concentra no álbum recém lançado, do qual são executadas nove das onze faixas, incluindo algumas que raríssimas vezes foram ouvidas em outra versão senão aquelas imortalizadas no álbum. O disco abre com um discurso de Renato ("nenhuma guerra pode ser santa") emendado por "Fábrica", uma das mais brilhantes do álbum "Dois". A execução é perfeita. "Daniel na Cova dos Leões" vem na seqüência e, em seguida, a primeira grande surpresa: "O Reggae", do primeiro disco, com direito a um outro discurso ("85% dos jovens brasileiros estão fora da escola"...). Renato não fala bobagens. Ele fala exatamente aquilo que a audiência deseja ouvir. O desfile de grandes canções prossegue: "Há Tempos", "Meninos e Meninas", "Pais e Filhos", esta última, uma das mais queridas dos milhares de fãs da banda, inicia-se com uma divertida declaração de Renato, que diz que a escreveu no banheiro. A música incidental (aqueles improvisos que a Legião sempre fazia) é Stand by Me. O talento e o carisma de Renato acaba ofuscando os demais membros da banda. Por mais que Marcelo Bonfá seja um músico limitado e que Dado Villa-Lobos não possa ser relacionado em um rol de grandes guitarristas, é graças a eles também que a Legião Urbana foi e é a maior banda de rock do Brasil.

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Duas surpresas dão seqüência ao show. A primeira, "Maurício", com aquela linha de baixo típica de Smiths e Joy Division que acabou se tornando uma marca da Legião, é cantada de forma magistral por Renato Russo. "Feedback Song for a Dying Friend" é uma das mais injustiçadas canções da Legião. A letra homoerótica ("Soothe the young man´s forehead/Touch the naked stem held hidden there...") acaba sendo encoberta por um vigoroso rock desta que é uma das músicas mais pesadas da carreira da banda. "1965 (Duas Tribos)" é interrompida perto do final para que Renato faça um discurso que beira a demagogia messiânica que ele se esforçava em rejeitar, mas que acabava reforçando com comportamentos como esse ("Eles gastam mais dinheiro com propaganda que comprando comida para quem precisa") Eles quem? Melhor deixar isso para lá e se concentrar na música, pois aqui o que fala mais alto é o vigor desta música e a grande letra. "Monte Castelo" e seu arranjo barroco, valorizado por um coral de milhares de vozes. Ao final desta faixa Renato diz uma coisa realmente emocionante: "Eu queria saber o nome de todos vocês para poder cantar como vocês gritam 'É Legião"'." Lindo isso, não? "Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar" encerra o primeiro CD e é a única que não foi gravada em São Paulo, mas em BH, na mesma época.

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O segundo CD abre com um dos maiores hits da Legião. "Ainda é Cedo" é emendada com alguns dos maiores clássicos do rock, como "Gimme Shelter", "Jumping Jack Flash" e "Blue Suede Shoes". Renato "explica" a letra desta música por meio de uma brincadeira com os músicos da banda. Isso leva a galera ao delírio. Sempre muito performático e falante, Renato não perde o controle da platéia em nenhum instante. São milhares de pessoas hipnotizadas por este que, mesmo os detratores são forçados a admitir, foi e parece que continuará sendo por muito tempo, o maior intérprete e melhor letrista do rock brasileiro. "Geração Coca-Cola" e "Eu Sei" (uma das mais saudadas pelo público) são executadas sem maiores novidades. "Angra dos Reis" quebra um pouco o clima, mas aí vem "Tempo Perdido" e recoloca as coisas nos lugares, mas Renato Russo começa a dar sinais de cansaço, embora não chegue a perder o pique. "Soldados" ficou grandiosa. "Índios" encerra o show de maneira magistral, mas não desligue o aparelho de som ao fim desta música, porque depois de mais de dez minutos de silêncio, eis que surge "Faroeste Caboclo".

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De modo geral, o disco traz um show bem relaxado. Todo mundo sabe que a Legião Urbana nunca foi uma banda com grandes músicos, que esbanjassem técnica e refinamento musical. O que conta aqui é o carisma de Renato e, principalmente, as grandes músicas que o grupo escreveu. Aglutinando influências das mais diversas - do folk ao pós-punk, passando por Ramones e Janis Joplin - à criatividade e talento de Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, a Legião representa um momento único na história do rock e da música brasileira em geral.

É muito legal ouvir a galera cantando em unísssono todas as 20 músicas deste grande disco. É claro que é mais um caça-níqueis. Uma tentativa de a gravadora continuar capitalizando-se às custas do nome que a Legião Urbana construiu ao longo das décadas de 80 e 90.

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Banda:
Renato Russo: Voz
Dado Villa-Lobos: Guitarra
Marcelo Bonfá: Bateria

Músicos de apoio:
Fred nascimento: Violão
Bruno Araújo: Baixo
Mú Carvalho: Teclados

http://www.lu.com.br

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Sobre Sílvio Costa

Formado em Direito e tentando novos caminhos agora no curso de História, Sílvio Costa é fanzineiro desde 1994. Começou a colaborar com o Whiplash postando reviews como usuário, mas com o tempo foi tomando gosto por escrever e espera um dia aprender como se faz isso. Já colaborou com algumas revistas e sites especializados em rock e heavy metal, mas tem o Whiplash no coração (sem demagogia, mas quem sabe assim o JPA me manda mais promos...). Amante de heavy metal há 15 anos, gosta de ser qualificado como eclético, mesmo que isto signifique ter que ouvir um pouco de Poison para diminuir o zumbido no ouvido depois de altas doses de metal extremo.
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