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Rock Gótico e Gothic/Doom Metal: afinal, o que são?

Por Paulo Faria
Fonte: Paulo Faria
Postado em 13 de maio de 2020

Este é um artigo direcionado aos amantes de gothic rock e gothic/doom metal, mas especialmente àqueles um pouco leigos no assunto. Por isso, pretendo ser bem didático ao esmiuçar o tema.

Portanto, antes de entender este conceito de "gótico" na música, farei aqui uma breve digressão histórica para ligar todos os elementos.

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O estilo gótico

O estilo gótico, na história, nasceu com o povo germânico (os godos) quando o Império Romano sucumbira à invasão dos bárbaros e estes, por sua vez, introduziram na Europa Medieval novos conceitos artísticos que são símbolos na Europa até hoje. Pode-se destacar como marca deixada do estilo gótico destes povos a arquitetura. A Catedral de Notre-Dame, na França, é o maior exemplo dessa simbologia artística.

O estilo gótico na literatura

Na literatura, no século XVIII, há um resgate desta ambientação medieval como castelos, cemitérios, igrejas, catedrais, a escuridão da noite, etc.; e dentro deste contexto, vários autores exploraram em suas obras contos fantásticos usando o terror, o sobrenatural e o medo como elementos para suas criações.

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O estilo gótico no cinema

Já no século XX, o mundo assistira estremecido a maior tragédia ocorrida até ali: a Primeira Guerra Mundial. Diante deste clima de pesadelo real alguns cineastas no começo daquele século resolveram imprimir em suas obras um clima de pessimismo e horror em suas obras cinematográficas o que mais tarde os críticos batizaram de "cinema gótico" ou "filmes góticos". Citarei aqui entre as dezenas de obras criadas na primeira metade do século XX um marco definitivo pra entender este conceito dentro do cinema.

A partir dos anos 20, nasce na Alemanha o que fora chamado de "Expressionismo Alemão"; e dentro deste cenário, vários cineastas europeus se engajaram ao imprimir na tela através seus filmes um clima mórbido – fruto de quem vivera a experiência de uma guerra. E o marco definitivo que já citei pra começar a entender o gótico no cinema é o filme "Nosferatu – uma sinfonia de horror, de 1922, do cineasta Friedrich Wilhelm Murnau. A obra, claro, é baseada no romance "Drácula, de Bram Stoker". A peça é uma obra de arte em todos os sentidos e é essencial para qualquer um que queira começar a entender o estilo gótico no cinema; por isso recomendo começar por aí.

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O rock gótico e a sociedade contemporânea

Bom, depois dessa (não tão) breve digressão, enfim chegamos ao estilo gótico na música. No começo dos anos 80, entre tantas tribos urbanas que começaram a surgir mundo afora tentando se ajustar à sociedade com seus conceitos próprios de cultura e contracultura, especialmente na Inglaterra, surgem os góticos – uma tribo urbana cujos integrantes faziam resgate na literatura revisitando obras de autores como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft e outras expressões artísticas. No comportamento, os adeptos vestiam preto, alguns se reuniam em cemitérios e em casas noturnas para se divertirem. E claro, na música, essa tribo tomou para si como trilha sonora daquele movimento (se é que dá pra chamar assim) bandas como JOY DIVISION, THE SMITHS, THE CURE, BAUHAUS e SIOUXSIE AND THE BANSHEES. Não que estes grupos sejam "góticos" (nunca nenhum integrante de alguma dessas bandas assumiu isso), mas a carga de melancolia, romantismo e obscuridade que estes grupos geralmente traziam em suas músicas fizeram com que a ‘tribo gótica’ adotasse essas bandas e várias outras como espécies de "gurus" para suas expressões através da música. No Brasil, os góticos foram chamados de "darks" e nem precisa dizer o porquê.

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Aqui, eles seguiam basicamente a mesma cartilha de seus pares ingleses, e posso citar aqui quatro bandas brasileiras abraçadas pelos nossos "darks": VARSÓVIA, ZERO CABINE C e HOJERIZAH.

Os góticos como tribo urbana ainda existem, vestem preto, estão nos grandes centros, consomem basicamente as mesmas bandas clássicas, frequentam casas de shows, visitam a Galeria do Rock, enfim... mas muitos deles deram uma guinada para o gothic/doom metal e suas derivações a partir dos anos 90 enriquecendo ainda mais suas almas sombrias com a arte. É o que falaremos a seguir.

Gothic/doom metal

O doom metal é uma derivação do heavy metal e é marcado pela lentidão, obscuridade e um clima soturno. Há muito há um consenso que as bandas que são a expressão máxima do doom metal (ou pelo menos já foi) é a santíssima trindade ANATHEMA, PARADISE LOST e MY DYING BRIDGE. Mas depois destas, nos anos 90, apareceram pelos quatro cantos do planeta inumeráveis bandas que se propuseram a criar cada vez mais um som sorumbático fazendo uma ode à tristeza e à melancolia. Muitas destas bandas adicionaram em seu som vocais femininos, corais, violinos, flautas, cantos gregorianos e muitos, mas muitos teclados. Tudo isso para criar uma transcendência musical no ouvinte. Nascia então o gothic/doom metal que é uma variação do doom metal que por sua vez é uma variação do heavy metal.

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THEATRE OF TRAGEDY foi a primeira banda bem-sucedida a fazer um som teatral, com vocais guturais, vocais femininos e incursões da música gótica.

O gothic/doom metal incomoda muito roqueiros mais puristas e faz muito leigo no assunto estranhar quando ouve uma música do TRISTANIA, por exemplo. Mas este sub estilo do metal clássico é rico por natureza e tem um público específico: a galera que gosta de melodias mais caóticas, miscigenadas, progressivas e que despertam emoções mais intimistas. Para um apreciador do estilo a música tem que ser rica em transmitir sentimentos. Uma banda de qualidade dentro deste estilo tem que saber produzir um tipo de som que vá tocar o âmago do ouvinte despertando no receptor o sentimento de emergir dentro de numa atmosfera de tristeza.

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Quando eu falo aqui em sentimentos, eu descrevo, inclusive, os vocais guturais que ajuda na carga melodramática e de "desespero". Não importa se o gothic/doom seja clichê. O importante é que seja bom. Como este é um texto, como já frisei, é particularmente para leigos, eu ainda não fui claro em definir de uma vez "o que é o gothic/doom metal". É basicamente (não é regra) um estilo que tem como princípio guitarras graves e pesadas, um cara que urra como um demônio saindo de dentro de algum abismo contrapondo-se (mas nem sempre) a vozes femininas angelicais, climas criados por teclados e outros instrumentos, e uma cadencia que às vezes varia, mas é marcada principalmente pela lentidão. Na parte lírica, temas que remetem a morbidez e a morte; novamente uma revisitação dos contos fantásticos da literatura do século XVIII e do período Romântico no século XIX.

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Ressalto outras duas coisas: a primeira: nem sempre uma banda de gothic metal usa elementos como vozes guturais ou femininas. Muitas vezes ela se vale de melodias mais pop e até incursões da música eletrônica. Cito aqui três bandas que são mais "acessíveis" e mais diretas sem se valer do clichê "mocinha e demônio": HIM, ENTWINE e TO/DIE/FOR. A segunda: geralmente, os amantes de gothic/doom metal e gothic rock são apreciadores de "estilos satélites" que também transbordam emoção. São eles: o ‘ambient music’, ‘darkwave’, ‘new age’, ‘ethereal wave’, ‘neoclassical’, etc.

É até injusto citar alguma banda aqui pela variedade e excentricidade de vários grupos que curto muito. Mas para quem ainda não teve uma experiência completa com o estilo, cito algumas que estão entre minhas preferidas: ANATHEMA, TRISTANIA, SILENT CRY, PETTALOM, DRACONIAN, DREAMS OF SANITY, ADAGIO (Brasil), THEATRE OF TRAGEDY, MACBETH, THE GATHERING, LACRIMAS PROFUNDERE, DARK EDEN (Brasil), SIRENIA, VENIN NOIR, THY LIGHT, DARK SANCTUARY e AUTUMN TEARS.

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Enfim, escolha o disco certo e divirta-se. Torço para que você também tenha uma experiência transcendental e eleve seus sentimentos.

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Sobre Paulo Faria

Paulo Faria tem um montão de anos; é um amante do cinema de horror, literatura e rock 'n' roll. É professor por formação, humorista por conveniência, músico por obsessão e escritor por aspiração.
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