Paixão e emoção: Heavy Metal Terra Brasilis
Por Don Roberto Muñoz
Fonte: rollingstone
Postado em 08 de julho de 2018
Paixão e emoção. Nos primeiros segundos percebe-se, de súbito, uma felicidade intacta. Tal região vive da sonoridade existencial, nada mais, nada menos. Inexistem facetas melancólicas em cena, seja plateia, seja banda. A devoção nos semblantes juvenis inspira e a vontade de comungar pulsa na atmosfera. Eis a Bahia de todos os Santos.
ZONA ABISSAL – "Kill and Die"
Garra e atitude. Um dos maiores videoclipes na história roqueira da nação. Uma banda tinha que ter 𝑚𝑢𝑐ℎ𝑜 𝑐𝑜𝑗𝑜𝑛𝑒𝑠 para lançar tal empreitada numa época onde o ideário contido no termo "metaleiro" desapropriava qualquer possibilidade existencial frutífera. Visual adequado em crua exposição detonando numa postura implacável dentro do limitado espaço para atuações cênicas.
AZUL LIMÃO – "Sangue Frio"
Na terra de LAMPIÃO, venerável caboclo da terra, surge a porradaria tipicamente do ℎ𝑜𝑚𝑏𝑟𝑒 𝑐𝑎𝑏𝑟𝑎 𝑚𝑎𝑐ℎ𝑜. Crível acontecer radicalidades musicais na década de 70, século passado, 𝐵𝑟𝑎𝑧𝑖𝑙? 𝐶𝑜𝑢𝑟𝑠𝑒, a galera brasileira roqueira ligada está nos movimentos sonoros com qualidades indiscutíveis. Não, a imprensa dominante da terra sempre privilegiou tendências mercadológicas consagradas. 𝐴𝑣𝑎𝑖𝑛𝑡 𝑔𝑎𝑟𝑑𝑒 cultural nunca foi o seu forte, logo...
SHOCK – "Heavy Metal We Salute You"
Iluminação impressionante fortalecida pela postura engajada no palco. A sonoridade retumbante em atmosfera 𝑛𝑜𝑖𝑟 oferece ao espectador a sorte de mergulhar em uma estética mui distante da 𝑚𝑎𝑠𝑠 𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎 travestida com verniz artístico 𝑛𝑜𝑛𝑠𝑒𝑛𝑠𝑒. A competente artista DÉBORA COLKER muito aprenderia caso contemplasse tamanha paixão musical neste 𝑅𝑜𝑐𝑘’𝑛’𝑅𝑜𝑙𝑙 𝑎𝑐𝑡!, coerente 𝑝𝑎𝑟 𝑒𝑥𝑐𝑒𝑙𝑙𝑒𝑛𝑐𝑒. Muito bom. Com autoridade em seu ofício, ROBERT FLAHERTY sentenciou: os profissionais amam o que ganham, os amadores amam o que fazem. Banda de culto.
ATTOMICA – "Deathraiser"
Matar um leão por dia é pouco para o Heavy Metal vencer no âmbito porto-alegrense. É preciso exterminar, no mínimo, um dragão por dia. A saber, o espírito musical 𝑟𝑜𝑐𝑘𝑒𝑟 predominante na terra amplia seus horizontes por meio do BEATLES/ STONES 𝑠𝑡𝑦𝑙𝑒. Claro, os apreciadores do estilo estão no lugar certo, mas Heavy Metal é outra coisa. Remeto a PAULO FRANCIS na comparação com Nelson Rodrigues. Vivesse o autor nos EUA e o mundo conhece-lo-ía imediatamente. Isto simplesmente significa Talento. O que o ASTAROTH tem de sobra. Eis a maior injustiça roqueira promulgada pela 𝑚𝑎𝑠𝑠 𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎 𝑏𝑦 Porto Alegre.
ASTAROTH – "O Alienado"
A maior injustiça musical levada a cabo pela 𝑚𝑎𝑠𝑠 𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎 brasileira contra o Rock. Não fosse Tom Jobim convidado por Sinatra para uma 𝑓𝑢𝑐𝑘𝑖𝑛’ 𝑗𝑎𝑚, e a brejeirice regional dominaria 𝑎𝑑 𝑖𝑛𝑓𝑖𝑛𝑖𝑡𝑢𝑚 os anseios musicais dos locais, teluricamente formatados. Ora, nem CARLOS GOMES é respeitado, exceto, logicamente, em eventos oficialescos para turista ver, ou pela competente turma do mundo erudito brasileiro, apreciadores, músicos, etc. Certa vez MAX enrolou-se na bandeira brasileira num show no Brasil. O que aconteceu depois? Foi comunicado que a delegacia local esperava-lhe para prestação de esclarecimentos.
SEPULTURA – "Territory"
Difícil haver tal ardor musical em larga escala 𝑚𝑎𝑑𝑒 𝑖𝑛 𝑇𝐸𝑅𝑅𝐴 𝐵𝑅𝐴𝑆𝐼𝐿𝐼𝑆? 𝐻𝑢ℎ, OVERDOSE (MG), TAURUS (RJ), VALHALA (RS), enfim, um aprumado gosto pelo barulho abunda em terras brasileiras. Entretanto, navegam submersos num vácuo capsular diante d’uma atmosfera onde outras musicalidades reinam. Alguém já viu um sambista mesclar Rock’n’Roll em seus arranjos? Mas acontece um concerto de música erudita, e todo mundo se lambuza de satisfação quando nele são incutidas sonoridades populares consagrados esteticamente pela brasilidade.
TORTURE SQUAD – "Raise your Horns"
O problema não é o samba ou o pagode, mas a sistemática influência da "monocultura" na psiquê de uma comunidade. Desta situação há franca chance de brotar um embotamento sonoro em tal ambiente derivado do 𝑑𝑒𝑠-conhecimento d’outras alternativas mui gratas à terra. Desta forma, consegue uma nação peitar o mundo com tipos exemplares num arcabouço cultural de largo alcance? Jamais. É na percepção da Unidade que verifica-se não apenas o fogo, o ar, a terra e a água. O éter...
A sustentação da esperança humana alimenta-se com fundamentos bem postados. De nada adianta o desejo de comunhão se a base representativa de um povo apóia a cultura do "protesto". Valores nunca são rígidos. Tornam-se cristalizados na perda do contato com as raízes. Podem e devem as múltiplas reverberações de uma Cultura transparecer num sentimento nacional unificado, vide a 𝐿𝑜𝑦𝑎𝑙𝑡𝑦 inglesa. A Cultura triunfa quando o Poder não barra a trajetória do enriquecimento interior humano, logo, pessoal, dentro de uma comunidade.
O Heavy Metal existe, 𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑐𝑒!, nas plagas brasileiras apesar de uma situação confortavelmente opositiva ao seu redor. Torna-se o caminho mais árduo, por conseguinte. Faz parte do "processo"... Existe sim nesta terra o fervor roqueiro primevo – 𝐿𝑜𝑟𝑑 𝑠𝑎𝑣𝑒 RAUL SEIXAS!, o patrono do Rock’n’Roll brasileiro – apesar do 𝑑𝑒𝑠-conhecido geral. De fato, limitada é a articulação de um mundo defensor da paz quando carece da elite guerreira, os aquilinos guardiões do Templo.
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