David Bowie: O Camaleão do Rock? Não!
Por André Garcia
Fonte: Camarada Garcia no Medium.com
Postado em 20 de agosto de 2017
Alguns dizem que ele foi um rapaz que passou a década de 60 correndo atrás das tendências, em busca de um espaço sob os holofotes, passando assim pelo blues, mod e pelo folk hippie. Aquele que, embora tenha emplacado Space Oddity, morreu na praia com seus demais singles e seus primeiros álbuns.
Alguns dizem que ele foi um jovem ambicioso que desistiu de correr atrás das tendências e resolveu se antenar no que estava acontecendo ao seu redor e se tornar a tendência. Aquele que tomou os holofotes de assalto com o Glam Rock, encarnando uma persona alienígena e esbanjando maquiagem, extravagância e, ao mesmo tempo, androginia e sexualidade.
Alguns dizem que ele foi um cantor esquelético que conquistou a soul music emplacando hits e sendo um dos poucos artistas brancos a se apresentar no Soul Train, principal programa de música negra da TV americana. Aquele que passava dias e dias acordado submerso em paranoias induzidas pelo consumo descontrolado de cocaína.
Alguns dizem que ele foi um homem que abandonou a vida de drogas e luxo, em Los Angeles, para botar os pés no chão e a cabeça no lugar vivendo como anônimo em Berlin. Aquele que jogou fora as regras convencionais para criar uma música diferente e moderna, bebendo direto da fonte o que tinha de mais moderno na vanguarda alemã.
Alguns dizem que ele foi um cara bronzeado, de topete platinado e sorridente, que conquistou as massas com músicas dançantes que dominaram as pistas de dança. Aquele que começou a lotar estádios pelo mundo a fora e se viu sem saber o que fazer para agradar a um imenso público que era desconhecido para ele.
Alguns dizem que ele foi um mero integrante da banda Tin Machine, abrindo mão de ser um astro para se tornar apenas mais um dentro de um grupo. Aquele com ar sério, cabelo bem penteado, barba e terno, que deixou a mídia coçando a cabeça.
Alguns dizem que ele foi um dos propagadores de um novo som chamado industrial rock, que misturava sintetizadores distorcidos com batidas eletrônicas e que, anos depois, viria a se dar origem ao new metal. Aquele que usava cabelo espetado e vestia sobretudo num palco sombrio com estética pós apocalíptica.
Alguns dizem que foi um veterano com pinta de lorde, que sorria com sinceridade enquanto cantava músicas de toda sua carreira, despido de fantasias ou personagens. Aquele que foi obrigado a se aposentar dos palcos por conta de um ataque cardíaco.
Mas, afinal, quem foi David Bowie? Na impossibilidade de responder a essa pergunta a mídia deu a ele o título de O Camaleão do Rock. Título esse que está redondamente errado. Primeiramente, David Bowie atravessou diversos gêneros musicais e nunca se limitou ao Rock. Ele sequer se limitou à música, já que ele fez sucesso como ator (tanto no cinema quanto no teatro), escreveu um musical para a Broadway e gerenciou (com sucesso) sua própria carreira e seus próprios negócios. Isso sem contar sua grande influência no mundo da moda ao longo de décadas.
Por fim, Bowie passou sua carreira fazendo justamente o oposto do que faz um camaleão: Ele não mudava para se adaptar ao meio, ele mudava e o meio se adaptava a ele.
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