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Edu Falaschi: Ele está pronto para cantar "Agora Estou Sofrendo"

Resenha - Edu Falaschi (Theatro José de Alencar, Fortaleza, 25/01/2020)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 10 de fevereiro de 2020

Abrem-se as cortinas e a banda que acompanha Edu já está no palco. Este local não é acostumado a receber shows de Heavy Metal, mas hoje vai receber um dos maiores nomes do Brasil no estilo. O espetáculo que vai começar, no entanto não terá guitarras distorcidas e em afinações baixas, bumbos duplos sendo espancados e nem um vocalista andando do lado para o outro do palco enquanto o público faz o mesmo na plateia, em roda. O espetáculo que vai começar tem a alma Heavy Metal, mas a calma, a beleza e a leveza de, talvez, um show de um Paulinho da Viola. Ou Calcinha Preta? Não, Calcinha Preta não. Esquece isso.

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Edu Falaschi, com um violão, logo se junta a Tiago Mineiro no teclado (e eventualmente piano), a Ricardinho Paraíso no baixo e a Wagner Barbosa nos instrumentos de sopro. De seu dedilhado nasce (ou renasce) a fênix do sertão, "Asa Branca". É o ponto de partida para a bela "Breathe", do ALMAH, que fica mais bonita assim nesse formato. Nenhum dos quatro músicos trocam com o público qualquer palavra nesse momento. Seu diálogo ainda é entre si mesmos e o quinto músico, o suntuoso teatro, que os envolve, que os abriga (e a nós também) e é quase uma entidade, um Zeus a permitir que o espetáculo aconteça. Figuras de arte de todos os tipos, anjos, anjos que choram, anjos que renascem, anjos e demonios, assistem quietos como a plateia logo abaixo deles.

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Do escanteado "Acqua", "Arising Thunder" é a próxima a mostrar sua força. E após ela Edu se dirige ao público. "Estou feliz de ter vindo a Fortaleza e de vocês terem vindo. Sem contar que a cidade é linda. E esse teatro é muito lindo. Uma relíquia. "

Do "Rebirth", "Heroes of Sand". E como essa música fica linda com um solo de saxofone. Se ainda nao existir (e peço desculpas - a mim, não ao leitor - se houver), isso tem que ir para um álbum de estúdio.

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"Eu sei que vocês ficam ouvindo e lembrando, tempos de adolescente. Eu também fico", continua Edu o seu papo com o público. "A maioria das músicas é composta no violão ou no piano. Não lembro de uma que tenha sido feita na guitarra direto", confidencia antes de "Angels and Demons", uma das estrelas do álbum "Temple of Shadows", do ANGRA. Por alguns minutos a estrela do show é o pianista, Tiago Mineiro, com um solo de deixar queixos no chão e provar que o metal não é nada mais que o clássico dos séculos 20 e 21.

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"Essa eu fiz pra minha filha e dedico a vocês, que eram filhos e agora são pais" adianta EDU ao começar a já bela "Warm Wind", do ALMAH. Ele ainda ressalta que o "Fragile Equality" foi o primeiro álbum realmente como banda e não como mero projeto pessoal paralelo, e "All I Am", que ganha um belo solo num instrumento que parecia um clarinete elétrico. Aliás, cabe notar que, há pelo menos duas grandes diferenças entre a Moonlight Celebration, a turnê, e o álbum solo de Edu Falaschi, gravado em 2016, com releituras acústicas e tendendo para o erudito. Aqui, como no álbum, o tom de extremo bom gosto e refinamento continua, mas Wagner Barbosa faz na turnê, cumpre com diversos instrumentos de sopro a função que no álbum é desempenhada pelos instrumentos de corda como violinos. E enquanto aqui há uma boa quantidade de músicas do ALMAH, ali a predominância era de canções do ANGRA.

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Claro que tem horas que a gente sente falta de bater a cabeça, mas, claro, acaba não sendo incomum ver que alguém está bangueando acompanhando a batida dos dedos de Mineiro nas teclas de seu piano ou ao som grave do sax de Wagner Barbosa . É a memoria emocional do metal, que, se perde o peso na versão acústica, ganha em beleza e mantém o clamor. Só não dá pra fazer mosh no teatro. Mais cedo, o vocalista tinha até arrancado risos da plateia ao contar da hesitação a realizar um show neste formato. "A galera é do metal. Será que vão a um show acústico?", contou ele que tinha pensado. "Mas a maioria de nós ficou mais velho", concluiu. E somou: "No Rock In Rio, em metade das bandas eu saia na terceira música. Não aguento. Com "Spread Your Fire" ganhando um ritmo meio bossa nova, há espaço até para Edu brincar com o teor da letra. Soa mesmo esquisito cantar "Satan is a child of our god" sem o punsh da canção original.

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Assim como na turnê anterior, Edu fez um concurso para levar alguns cantores locais para participar de alguma das canções. Ele inclusive manifestou a vontade de juntar em um projeto os vários cantores e cantoras com quem tem dividido o palco pelo Brasil por causa do concurso. A voz feminina convocada foi de Jael Lia. E quando ela começa a cantar em "No Pain for the Dead" fica claro porque foi escolhida. Jael já canta em Fortaleza há muito tempo, tem DNA musical (é filha de Eliane), já tocou com a banda de metal alternativo NAFANDUS e é vocalista da BLUEBERRIES. Ao fim da apresentação a lição que fica é uma só: bandas de metal sinfônico (ou qualquer outra coisa, até thrash) corram atrás dessa moça

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Depois de receber a convidada, Edu fica sozinho no palco e engata a primeira do Almah, "Primitive Chaos". Primeira na história da banda, não primeira na noite. Aqui fica claro que, embora ele tenha recuperado a capacidade de soltar uns bons agudos, sua voz fica especialmente bonita quando ele canta num registro mais grave como o dessa canção.

A banda volta e ele anuncia que vai tocar algumas do SYMBOLS, deixando o violão com Tiago e ficando só no microfone, mas limita-se a "Hard Feelings". É uma oportunidade para quem nunca viu a SYMBOLS ao vivo, mas, pessoalmente, acho que a versão tinha algo a melhorar. Talvez seja a falta da memória emocional, como ocorre com as músicas do ANGRA.

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De volta ao formato anterior e ao Almah, não só às canções da banda, mas à própria música que lhe deu nome, que é transforma em uma canção bem brasileira (com letra em inglês) com vocalizações, pandeiro, Palmas da platéia (que entendera a proposta do show permanecendo o tempo todo em silêncio, manifestando-se apenas nos momentos de bate-papo de Edu, mas agora se soltara).

A palavra que define o show aparece muito claramente quando Edu vai pro piano para "Lease of Life".

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Belo.

Este show é muito belo.

Como de costume nos shows solo de Edu, também teve espaço para a música de abertura do anime Cavaleiros do Zodíaco (que, com Tiago Mineiro no piano, nunca deve ter ganho uma versão tão elegante antes). E, óbvio, "Nova Era", um dos maiores clássicos da fase Edu do ANGRA.

Eis que chega um dos momentos mais esperados da noite. Se em Recife houve muito buzz em torno da participação do cantor Daniel Diau, da banda de neo-forró CALCINHA PRETA, em Fortaleza a tendência é que tudo fosse muito mais tranquilo. Mas aguardávamos muito saber o que o próprio EDU comentaria.

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Edu comentou que na hora que deu espaço pro pessoal cantar junto o que o público cantou foi a versão em português. E também que o vocalista da banda de forró lhe fizera um convite. "Eu quero fazer um convite aqui publicamente. Edu Falaschi, você quer cantar no DVD do CALCINHA PRETA?", teria dito Daniel Diau, o que causou aplausos e risos de toda a plateia também no José de Alencar. "Eu vim aqui, foi muito legal. Agora você vai no meu DVD", teria completado Diau.

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Ainda sob muitos risos e um certo ar de incredulidade, Edu ponderou: "Ele foi muito parceiro de vir no meu show. Cantou muito bem. Não cobrou nada. Então, se eu aparecer vocês já sabem. Eu não sei se foi sério, né? Se foi sério, eu vou. O cara apareceu na frente de um monte de metaleiro. E o cara tem mais cara de metaleiro do que eu. Então, já estou adiantando. Agora, o nosso público conhece o Daniel, por causa da polêmica da época. O cara gravou uma versão do ANGRA, de "Bleeding Heart". Agora, o público do CALCINHA PRETA não faz nem ideia de quem é Edu Falaschi. Vou chegar e eles não vão entender nada. Vão me botar pra dançar."

Em Fortaleza, quem vai participar de "Bleeding Heart" é Abel Acácio. Na apresentação dele, os filhos daqueles que vaiaram o Sol mostram pro Edu como é a vaia cearense. Mas não é que algum dos dois, ou qualquer algum ali mereça qualquer tipo de desaprovação. Que isso fique claro. Ali, Edu Falaschi estava aprendendo como se tornar meio cearense. E qual é uma das maiores características do cearense? O bom humor, que deu nascimento a Renato Aragão e Chico Anysio, personificado na inconfundível vaia cearense, o que rivaliza com a força, característica de qualquer nordestino.

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Mas na hora de falar sério Abel deixa o público pronto para ser render. A canção, que já nasceu romântica, termina com um "Agora Estou Sofrendo" (como na versão que Diau cantara dias antes). E, claro, recebe mais "iei" (que agora vocês já sabem o que é).

"Me pergunto porque demorei tanto pra fazer isso", brinca Edu Falaschi. O show segue e "Wishing Well" começa com Wagner Barbosa arrasando no sax.

"Rebirth" fechou a noite. O público, agora sem timidez alguma, reagiu extasiado. E cantou junto. O sexto músico. Lembrem, o próprio teatro era o quinto.

Mais uma vez: que show belo.

Na flauta, o som de "Asa Branca", a fênix do sertão, nascida de novo, e renascida outra vez, homenageia a grande região em que o Ceará de José de Alencar está inserido e tem a forma, era quase inaudível sob as palmas dos cearenses num show que terminou como um belo xote por um público e uma banda de metal.

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Setlist

1. Breathe (ALMAH)
2. Arising Thunder (ANGRA)
3. Heroes of Sand (ANGRA)
4. Angels and Demons (ANGRA)
5. Warm Wind (ALMAH)
6. All I Am (ALMAH)
7. Spread Your Fire (ANGRA)
8. No Pain for the Dead (ANGRA) (com Jael Lia)
9. Primitive Chaos (Almah)
10. Hard Feelings (SYMBOLS)
11. Almah (ALMAH)
12. Lease of Life (ANGRA)
13. Pegasus Fantasy
14. Nova Era (ANGRA)
15. Bleeding Heart (ANGRA)(com Abel Acácio)
16. Wishing Well (ANGRA)
17. Rebirth (ANGRA)

Agradecimentos:

Fabrício Moreira, pela atenção e credenciamento.
Denise Carvalho, pelas imagens que ilustram essa matéria.

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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