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Abril Pro Rock: Resenha da primeira noite do festival

Resenha - Abril Pro Rock (Baile Perfumado, Recife, 27/04/2018)

Por Renan Soares
Postado em 29 de abril de 2018

Há 26 anos na ativa, o festival recifense Abril Pro Rock teve seu início na última sexta-feira, dia 27 de abril. Tendo uma dinâmica diferente desde a edição de 2017, onde os dois dias são dedicadas a vertente mais pesada do rock, esse ano o evento teve como sede o Baile Perfumado, localizado no bairro do Prado, saindo do Classic Hall pela primeira vez em 7 anos.

A primeira noite contou com seis atrações, sendo três internacionais e três brasileiras, entre elas, duas regionais, as quais estavam programadas para tocar na seguinte ordem: 70mg (PE), Amsovel (ING), Plugins (PE), Richie Ramone (EUA), Mad Monkees (CE) e Supersuckers (EUA).

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Ao chegar no portão do Baile Perfumado as nova e quinze da noite já via um pouco do que seria a noite, a movimentação ainda era bastante morna, isso considerando que os portões abririam as nove e meia (e o festival costuma ser pontual). Fora isso, outras coisas curiosas que reparei enquanto esperava a abertura dos portões, primeiramente, era o quanto os arredores do Baile Perfumado estavam bem policiados, e quem mora em Recife sabe muito bem o quanto isso é surpreendente, e a outra, era um ambulante sem muito senso de "público alvo" que teve a "brilhante" ideia de vender bonés do Green Day e do Radiohead na porta de um show com atrações muito diferentes das mesmas.

Os portões não se abriram exatamente às nove e meia, mas ainda assim, o "atraso" foi de no máximo, quinze minutos, o que comparado a outros eventos que fui, é quase nada.

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Ao entrar no Baile Perfumado, primeiramente fui tirar a dúvida que tive desde quando o festival foi confirmado para ocorrer ali, que era se eles iriam manter a dinâmica dos dois palcos como sempre faziam no Classic Hall. Na casa de shows de Olinda, eles dividiam o palco principal em dois e alternavam os shows entre eles, mas me perguntei se iriam fazer o mesmo com o palco do Baile Perfumado, pois o mesmo é muito pequeno para isso.

Ao chegar na pista, tive minha pergunta respondida. Eles não dividiram o palco em dois, mas montaram um segundo mais ao lado do principal com os tamanhos quase proporcionais.

Enquanto não começavam as apresentações, fui dar uma olhada nos estandes, que certamente, estavam em menor número em comparação ao que era visto todos os anos no Classic Hall, até porque o espaço em si destinado para isso era muito menor.

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Às dez horas em ponto, o sistema de som da casa anunciava o início das atrações, que começaria no palco secundário ao som da banda caruaruense 70mg, e como é normal, se tratando de bandas de abertura, a apresentação se iniciou diante de um público muito pequeno que aos poucos chegava ao Baile Perfumado.

Podemos dizer que a 70mg era o chamado "ponto fora da curva" em comparação as outras bandas da noite, pois, eles tinham um som mais diferenciado. O grupo originário de Caruaru tem como proposta juntar o som regional do Agreste de Pernambuco com o rock setentista, sendo a única atração da noite com uma pegada mais alternativa e psicodélica.

Admito que o som deles não é o do tipo que eu colocaria para ouvir em minhas playlists pessoais, mas o grupo tem competência no que fazem. A junção da guitarra distorcida com os outros elementos da música regional foi muito bem aplicada, com isso, a banda conseguiu conquistar uma coisa que muitas poucas conseguem, que é, identidade.

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A sonoridade da 70mg se remete ao Agreste pernambucano já na primeira audição, o que é ótimo, pois assim, eles conseguem levar a cultura da região com eles em suas apresentações, e mostram que também existe rock na capital do Agreste.

Após meia-hora de show, a 70mg encerrava a sua apresentação, e quase que simultaneamente, o som da casa já anunciava o início da primeira atração internacional a subir no palco do Baile Perfumado, a banda inglesa Amsovel.

A Amsovel apresentou seu Speed Metal com muita técnica para um público ainda pequeno (já um pouco maior dos que acompanharam a 70mg) e ainda bem na deles, arriscando apenas vezes ou outra um mosh pit sem muito sucesso.

Sem muita conversa fiada e com bastante rapidez, eles fizeram um setlits juntando músicas dos seus dois únicos discos, o "Kamikaze" (2009) e o "Knuckle Duster" (2013), tendo inclusive, dedicado a última música para Jay-Jay Winter, ex-baixista e fundador da banda que morreu em um acidente de carro em 2010.

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A banda mostrou qualidade no palco, e está claro que a técnica deles é muito boa, mas há uma coisa que me incomoda neles, o fato de se assemelharem até demais com o Motorhead.

Sim, a banda nunca negou a semelhança e a influência, mas uma coisa é você se influenciar pelo som de outra banda, outra é você ser igual em quase tudo em relação a eles, tanto sonoramente quanto visualmente (até o baixo usado pelo Ralph é igual ao modelo usado por Lemmy).

A impressão que tinha quando Ralph cantava era que eu estava ouvindo o próprio Lemmy Killmister cantando, e isso nem sempre é uma coisa boa, pois fica parecendo que o grupo é uma banda cover do Motorhead, mas com musicas autorias. Para ser o Motorhead por completo, só faltou tocar "Ace of Spades" (que pareceu que iria ocorrer quando Ralph tocou um riff de baixo muito semelhante ao da música).

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No mais, apesar de toda qualidade técnica da banda, falta neles uma coisa que a 70mg, por exemplo, tem de sobra, identidade própria.

Enquanto Amsovel encerrava seu show do palco principal do Baile Perfumado, a banda recifense Plugins iniciava sua apresentação no segundo palco.

Essa para mim foi a grata surpresa da noite, a banda, representante do bairro de Tejipió, zona oeste do Recife, trouxe aquele som que remete a realidade das comunidades da cidade, tendo fortes influencias vinda do hardcore e do rap, com uma pegada bastante pesada.

Infelizmente, o público não ajudou a melhorar a ótima apresentação da banda, pois mais uma vez, eles se mostraram bastantes apáticos em meio a um som que merecia aquele mosh insano, nem mesmo na música que contou com a participação especial de Canibal (vocalista e baixista da banda Devotos) houve uma animação maior.

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Tirando esse detalhe, a Plugins representou muito bem a cena underground do Recife e fez um show em alto nível na sua meia-hora de apresentação.

Mal havia terminado a apresentação da Plugins, e o público presente já ecoava o famosos grito "Hey, Oh, Lets Go" dos Ramones. Estava prestes a começar a atração mais esperada da noite, a do ex-baterista da clássica banda punk, Richie Ramone.

Apesar do baixo número do público, estava claro que a grande maioria estava ali para vê-lo, e se animavam cada vez mais quando cada integrante da banda entrava no palco aos poucos, sendo Richie o último a entrar já assumindo a bateria.

O show iniciou com o pé esquerdo com o microfone do Richie falhando em meio a "Somebody Put Something in My Drink", tendo o músico jogado para a plateia enquanto não ajeitavam o problema.

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Após três músicas, Richie deixa a bateria e assume o microfone por completo, tendo seu guitarrista base assumido as baquetas dali em diante, uma troca que ocorre mais umas duas vezes pelo menos durante a apresentação.

Também ao estilo "muito música e pouca conversa fiada", a banda tocou em seu setlist grandes clássicos dos Ramones, músicas da carreira solo do Richie, e covers de outras bandas.

A partir de "Smash You", um mosh pit (mesmo que fraco) se formou na plateia e ali permaneceu até o fim do show, tendo sua maior intensidade na execução da clássica "Blitzkrieg Bop" (obviamente).

A apresentação estava digna de um show punk de respeito, Richie ainda se mostrava habilidoso nas baquetas mesmo aos 60 anos, apesar de estar muito longe de ter o melhor vocal do mundo, o que se comprovou ao final do show quando a banda encerrou tocando "Have You Ever Seen The Rain" do grupo Creedence Clearwater Revival, tendo eu identificado que se tratava dessa música ao final da mesma.

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E sem esquecer também de dar o merecido destaque aos músicos de apoio que encorporaram o espírito dos Ramones no palco, principalmente nos momentos em que os mesmos assumiram os vocais no lugar do Richie.

Encerra-se a apresentação de Richie Ramone, e quase que instantaneamente, se inicia o show da banda cearense Mad Monkees no palco secundário.

A partir dali foi visto que não ter deixado o Richie Ramone por último não foi uma boa ideia, o público, que já era pouco, ficou menor ainda porque boa parte tinha deixado o Baile Perfumado após o fim do show do ex-Ramone, fazendo o Mad Monkees tocar para uma plateia morta.

A banda conduziu seu show normalmente tentando animar a pessoal vez ou outra (sem sucesso), depois do Plugins, eles eram certamente a segunda banda mais pesada da noite, e mesmo com a falta de um bom mosh pit, o grupo cearense tocou seu som com responsabilidade, mostrando toda a qualidade que possuem.

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Encerra-se a apresentação do Mad Monkees, e as atenções se voltam para o palco principal onde a última banda da noite se apresentaria para um público de meia-dúzia de "gatos pingados".

A banda americana Supersuckers era mais uma daquelas que vi sem ter muito conhecimento prévio da mesma, mas eu sabia que eles eram um grupo com mais de três décadas de atividade, e apresentavam o que a gente chama de "rock sujo" com uma pegada country. Além de se denominarem a "melhor banda de rock n roll do mundo".

Essa foi mais uma apresentação onde a banda fez seu dever de casa com maestria, mas sem o público corresponder, o que não era para menos, pois se contava nos dedos a quantidade de pessoas que ainda permaneciam no Baile Perfumado.

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Na hora eu pensei: "Os caras, que se denominam como ‘a melhor banda de rock n roll do mundo’, vem lá de longe nos Estados Unidos para tocar em Recife, em um festival de nome da região, e veem esse público pífio, o que eles devem está pensando nesse momento?"

Em certos momentos dava pena ver o guitarrista ‘Metal’ Marty Chandler tentando instigar o público e quase ninguém correspondendo ao pedido dele.

Mas fico feliz porque mesmo assim, a banda não perdeu a pose e tocou normalmente, não vou dizer que eles tocaram como tocariam para uma casa cheia, porque imagino que deve bater um certo desânimo ver o local vazio daquele jeito, mas como eles são profissionais, é necessário pelo menos fingir que o local está lotado.

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De qualquer forma, por conta do fator "público", esse acabou sendo o show mais chato da noite.

A apresentação se encerrou um pouco depois das duas da manhã, onde a banda agradeceu a presença do público presente, e os "sobreviventes" que ainda estavam no local os aplaudiram fortemente (e não era para menos, é o mínimo que eles mereciam).

Agora vamos ao balanço geral da noite!

O principal destaque negativo acho que não preciso nem repetir, né? Então, invés de bater mais uma vez nessa tecla, simplesmente faço um apelo para a produção do Abril Pro Rock para que uma atitude seja tomada para aumentar o público do primeiro dia, porque no ritmo em que está, chegaremos a edição onde o festival se resumirá apenas a noite dos camisas pretas.

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De positivo, além das apresentações, destaco principalmente as estruturas dos palcos, a qualidade do som e da acústica da casa, onde foi possível entender tudo que era falado em ambos os palcos. E claro, parabenizar a produção do Abril Pro Rock pela pontualidade britânica em todas as apresentações.

Encerrada a primeira noite, ficava a expectativa para o "sábado dos camisas pretas".

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Sobre Renan Soares

Nascido em Recife no dia 03 de novembro de 1994, Renan adentrou ao mundo do rock/metal a partir dos 13 anos de idade e até hoje permanece fielmente no mesmo. Desde que se formou em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, tem se dedicado a conseguir dar a relevância merecida ao nome do estilo.
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