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Resenha - Dream Theater (Madri, Espanha, 16/01/2014)

Por Rodrigo Altaf
Postado em 28 de janeiro de 2014

Sempre quis conferir o início de uma turnê do Rush ou Dream Theater. Com shows tão intrincados e complexos, o normal é que no início das tours alguns ajustes ainda precisem ser feitos, o que abre espaços pra erros e improvisos. E esse foi o caso na tour atual do Dream Theater, para divulgar seu novo álbum, auto-intitulado.

O primeiro show da tour foi no Porto, e aparentemente correu tudo bem. Esse pelo menos foi o relato que vi na internet. Em Madri, no entanto, houve alguns problemas que atormentariam a banda. Um caminhão que trazia parte do equipamento do show quebrou no meio do caminho, e aparentemente a produção tentou resolver o atraso/ausência do equipamento de alguma maneira, o que atrasou a entrada do publico no Palacio Vistalegre em mais de uma hora. A galera esperou no frio durante boa parte desse tempo, e um pouco mais ate que as portas para a área onde seria o show fossem abertas. O inicio logo dava pistas do que iria ocorrer a seguir: a intro tape com a parte orquestrada de "False Awakening Suite" parou e voltou algumas vezes, até que voltou ao início e foi completada. Mas o pano que deveria cair para o início do show não caiu, deixando todos sem saber o que esperar. Até que começou, e a banda iniciou os trabalhos com o primeiro single do disco novo, "The Enemy Inside".

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Em seguida, emendaram com "The Shattered Fortress", do disco "Black Coulds & Silver Linings", que até essa tour nunca havia sido tocada. Boa surpresa, e o público correspondeu, agitando bem. Jordan usa todas as peças do seu gigante equipamento no solo de teclado, menos as peças portáteis, e o final épico deixou todos curiosos com o que mais poderia vir em termos de músicas raras no show. Petrucci empunhava sua nova guitarra Majesty que dividiu opiniões quanto ao look, mas que soa muito bem!

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A essa altura James LaBrie se dirige pela primeira vez ao público, comenta dos problemas técnicos, e que nesse show estariam prestando homenagem aos álbuns "Awake" e "Scenes from a Memory" - o primeiro completando 20 anos desde o lançamento, e o segundo 15. A banda parece um pouco tensa com os desafios pra fazer o show funcionar, mas segue com as próximas músicas. Outra surpresa do setlist foi a volta de Trial Of Tears, que há algumas tours não era tocada. "Enigma Machine" teve um solo de bateria, e Mike Mangini tomou a sábia decisão de fazer um solo curto e interessante. A banda segue com "Along for the Ride", do disco novo, e com "Breaking All Illusions", do disco anterior, pra fechar a primeira parte do show. Uma pena o telão não ter funcionado no show de Madri, transmitindo apenas as imagens dos músicos tocando. Assim, no intervalo entre um set e outro, não havia o que fazer a não ser esperar. A banda volta e manda quatro petardos do disco "Awake", incluindo uma nunca antes tocada, "Space-Dye Vest". Deixaram "Scarred" e "Illumination Theory" de fora do segundo set por conta de limitações do tempo - a polícia avisou que o show só poderia ir até 23:30.

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Na volta para o extenso bis, a homenagem ao "Scenes from a Memory" veio através de "Overture 1928", "Strange Deja Vu", "Dance of Eternity" e "Finally Free". Em "Dance of Eternity" Mangini erra feio e leva John Petrucci com ele, causando 30 segundos de embaraço até que a banda se encontra e termina a música bem. Após a última música, o público pede "otra... otra... otra...", mas o show realmente teve que ser encurtado.

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No dia seguinte peguei o trem bem cedo para Pamplona, e ao passear pela cidade, dei de cara com Jordan Rudess caminhando! Disse a ele que tinha vindo do Rio pra segui-los por alguns shows da tour, e ele comentou dos problemas do dia anterior, e que esperava que tudo já tivesse sido solucionado. Não tive nem a presença de espirito de pedir uma foto a ele, mas valeu pelo encontro!

Cheguei ao local do show em Pamplona, o Pabellón Anaitasuna, e de fora se podia ouvir os músicos praticando antes do show. Meu ingresso para esse dia era um "meet & greet", que dá direito a encontrar a banda no backstage minutos antes do show, pegar autógrafos, tirar fotos etc. E aí veio uma certa decepção.

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Talvez ainda um pouco tensos para acertar os detalhes finais que haviam dado problemas no dia anterior, os caras pareciam pouco a vontade, sem a menor atenção com os fãs, com cara de "vamos logo com isso". Levei dois CDs de bandas de amigos meus (as bandas Anxtron e Reckoning Hour, ambas muito boas e que valem um confere pra quem tiver disposição), entreguei em mãos, e os caras deixaram os CDs na mesa de autógrafos! Tive que insistir com a produção para que os levassem. Outro fã levou baquetas do Mike Mangini que havia pego quando este tocou com o Steve Vai em Pamplona há quase dez anos, comentou isso com ele e ouviu um "ok...quer que assine aonde?". Acho a preocupação deles com os detalhes do show ate explica o certo distanciamento, mas que culpa têm os fãs? Talvez um pouco mais de atenção com quem pagou caro por ingressos desse tipo coubesse aqui. Mas tudo bem, vamos ao show.

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O setlist de Pamplona foi o mesmo de Madri, com a adição de "Scarred" e "Illumination Theory". O telão dessa vez funcionou, ainda que sem o vídeo inicial. E como fiquei na grade, a bateria encobria boa parte do telão, me impedindo de ver todos os detalhes. Mas tá valendo. Ter ficado bem perto, me deu a chance de reparar em outros detalhes, como por exemplo a pegada jazz de Mangini na intro de "Lifting Shadows Off a Dream" e "Trial of Tears". Ele agora está mais integrado aos shows, e parece ter se sentido a vontade pra alterar bem as viradas do ex-batera Mike Portnoy em diversas músicas. Aliás, estando de perto deu pra perceber o quanto ele se parece com o cantor brega Biafra - anote aí, isso ainda vai aparecer na seção "Separados no Nascimento"!

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Vale também mencionar que James LaBrie esta praticamente impecável nessa tour, atingindo os agudos nos lugares certos, e economizando a voz quando é possível. Pra essa tour ele deixou de lado o microfone "retorcido" que usou na tour anterior. Difícil imaginar ele cantando bem assim ha alguns anos atrás, quando seus erros ao vivo quase custaram seu lugar na banda. Nessa tour, seus agudos têm recebido aplausos da galera em diversos momentos. Uma grata surpresa, principalmente considerando-se a quantidade de shows em dias seguidos que eles vêm fazendo.

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Outro item imperdível dessa tour são os teclados portáteis de Jordan Rudess. O primeiro, ja velho conhecido, é aquele cinza, "alado", que se não me engano já é usado desde a tour do "Sistematic Chaos". Dessa vez ele trouxe mais uma novidade, um teclado "curvo", que ele usa em "The Mirror/Lie". Confira as fotos dessa matéria e você vai saber do que estou falando - esse teclado fez a galera levantar durante todos os shows que vi.

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Mais um show encerrado, e era a hora de partir pra Barcelona. O local desse terceiro show é bem maior que os de Madri e Pamplona. Trata-se de um ginásio que foi utilizado nos Jogos Olímpicos de 1992, com uma ótima infraestrutura, contando até com chapelaria pro pessoal guardar seus casacos durante o show. E finalmente, o show foi completo, com todos os vídeos funcionando.

Para o show de Barcelona decidi ficar um pouco mais atrás e do lado esquerdo do palco, onde ficam Jordan Rudess e John Myung. E deu pra ver o telão com todos seus efeitos: um cenário "espacial" antes do inicio, o vídeo da introdução que mostra animações de todas as capas de álbuns até aqui, e diversos outros momentos interessantes. "Enigma Machine" mostra um cartoon da banda, e no intervalo rola uma coletânea com diversos vídeos do Youtube feitos por fas. Quem ja viu esses vídeos vai lembrar: um moleque fazendo beat box de "Dance of Eternity", uma menininha cantando "Pull Me Under", e uma paródia do concurso que escolheu Mike Mangini pra banda, só que com um cara que toca triângulo!

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A banda estava mais confortável no palco, e parece que a manutenção do mesmo set tem ajudado pra que eles se acostumem mais e mostrem um show mais consistente à medida que a tour avança. Em Barcelona o show foi perfeito, fora um erro de James LaBrie em Space-Dye Vest na parte em que ele aumenta em uma oitava a voz. Mas nada que comprometesse o espetáculo.

Um destaque desse setlist tem sido Breaking All Illusions, que fecha a primeira parte do show. O solo final de Petrucci acompanhado por John Myung é simplesmente incrível, e foi bastante ovacionado no último show. Uma pena a guitarra de John Petrucci estar tão alta durante todo o show, "enterrando" os outros instrumentos quando os músicos não estão solando.

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O palco é outro item que merece um parágrafo especial: as luzes do show ficam em "campânulas" que têm um efeito muito bonito. Os quatro (sim, quatro!!!) bumbos de Mangini têm um detalhe do encarte do CD novo, e os amplificadores de Petrucci estão estampados com a "Enigma Machine". Tudo isso complementado por um telão gigante, com animações incríveis em cada música. Quando se referiu ao efeito "cinematografico" que esse CD iria ter, Petrucci nao estava brincando!

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Outras músicas que brilharam no show de Barcelona foram "Trial of Tears" e "Illumination Theory". Nessa última, a parte orquestrada é tocada em playback enquanto um vídeo enigmático é mostrado no telão. A banda volta com tudo apos esse video, para um final apoteótico, com direito a um F# de James LaBrie, para delírio dos presentes. E em Trial of Tears, LaBrie muda a letra do refrão para "it's raining on the streets of Barcelona", o que, claro, fez o povo vibrar.

As músicas do disco novo funcionaram bem ao vivo, especialmente "The Looking Glass" e "Along for the Ride", mas uma pena não terem incluído "Behind the Veil" e "The Bigger Picture". Talvez mais à frente essas músicas façam o merecido debut ao vivo, mas por hora parece que a intenção da banda é mesmo manter o presente setlist.

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Se eu pudesse mencionar uma nota negativa desses shows seria o uso de "click track" que a banda vem fazendo desde que Mike Portnoy saiu. O uso é devido aos backing vocals pré-gravados, que obviamente devem ser disparados na hora certa, e isso faz com que o show fique um pouco mecânico demais - a banda toca exatamente no ritmo dos álbuns de estúdio por conta disso, e na minha opinião soa um pouco artificial. Não há espaço pra que um dos músicos se sinta levado a acelerar ou reduzir o ritmo de algma música, e tira um pouco do feeling da apresentação. Mas e só um mero detalhe.

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Na ultima canção do show, "Finally Free", LaBrie se despede com os últimos versos "we´ll meet again some day soon". E enquanto a galera vai saindo, como num filme, sobem os créditos finais da produção do show, quem fez os vídeos etc, ao som da melodia de piano que esta escondida no disco novo apos "Illumination Theory". Um final apropriado para três horas de ataque sonoro. Ainda não ha planos de tour na América do Sul, mas a julgar pelo que foi visto nesse show, se eu fosse um promotor de eventos, não perderia tempo e ligaria para o management da banda hoje mesmo!

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Setlist das três noites, com as exceções de Madri entre parênteses:

1. False Awakening Suite (intro tape)
2. The Enemy Inside
3. The Shattered Fortress
4. On the Backs of Angels
5. The Looking Glass
6. Trial of Tears
7. Enigma Machine (com solo de bateria)
8. Along for the Ride
9. Breaking All Illusions
INTERMISSION

10. The Mirror
11. Lie
12. Lifting Shadows Off A Dream
13. Scarred (Nao tocada em Madri)
14. Space-Dye Vest
15. Illumination Theory (Nao tocada em Madri)

BIS:
16. Overture 1928
17. Strange Deja-Vu
18. The Dance of Eternity
19. Finally Free"

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Sobre Rodrigo Altaf

Mineiro nascido em 1974, esse engenheiro civil que vive e trabalha no Canadá começou a ouvir heavy metal aos dez anos, após acompanhar o Rock in Rio I pela televisão. Após vários anos sem colaborar pro Whiplash.Net, está em busca de todos os shows possíveis em Toronto. Entre suas influências estão Iron Maiden, Van Halen, Rush, AC/DC e Dream Theater.
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