Tribus Festival: Como foi o evento em Carangola
Resenha - Tribus Festival (Haras Miluka, Carangola/MG, 10/08/2013)
Por Jozilei Pimenta Costa
Postado em 29 de dezembro de 2013
Dia 10 de agosto aconteceu em Carangola - MG o que previamente foi divulgado como "o maior festival musical underground e artístico-cultural da zona da mata mineira", a saber: o Tribus Festival (que seja o primeiro de muitos!).
Os portões do Haras Miluka – local onde aconteceram os shows e todas as demais atrações "culturais peculiares" do festival, como exposição de arte local, passeio a cavalo, "Pau de Sebo Punk", "Fogueira Folk", além da disponibilização para a venda aos fãs presentes de artesanato hippie, merchandise das bandas e vinis usados (mas em excelentes condições), e para saciar a fome, muito além do óbvio, o público pode contar com comidas e bebidas típicas (e atípicas) mineiras como o Quentão Viking; Leite de Onça, Leite Queimado, Broa mineira de fubá, caldo verde mineiro, churros e cachorro quente (tradicional e vegetariano) – abriram bem cedo, às 13:00. Afinal de contas o público conferiria naquele dia 12 apresentações dos mais diversos estilos dentro do universo rock e da música pesada.
Responsável por iniciar as apresentações do dia, às 14:00, a banda MADDAME ROUSSEAU fez um show curto (todas as bandas tiveram um tempo reduzido para suas apresentações), porém, enérgico. Apesar da maioria do público não ter parado para ver a apresentação por ainda estar chegando e se situando no que estava acontecendo, isso não afetou o vocalista Rodrigo Gema, que entre uma música e outra (clássicos do pop rock nacional e internacional, além de composições próprias) se jogava no chão e incitava o público: "Vocês gostam de rock?" e ele mesmo respondia, "Não, né!".
Depois foi a vez da DREIZEHN XIII que dentro da cena underground executa um som peculiar e que gera ainda muito estranhamento, o J-Rock, estilo que é a um misto de influências de metal, goth rock e de rock japonês. Essa apresentação foi surpreendente, a começar pelo fato de os integrantes da banda não assustarem tanto o público com seu "visual key" (esperava ver os caras vestidos de cosplay! Eles estavam vestidos simplesmente de preto). O som da banda – para quem conferiu o vídeo "Babel", divulgado pela organização do evento no facebook do mesmo – foi mais do que se esperava: riffs muito bem feitos e cativantes, vocais guturais alternados aos melódicos (melódicos até demais em alguns momentos), músicas cantadas em japonês com direito a efeitos em um "sampler" improvisado (o celular do vocalista Pablo Narada). No final do show, público surpreso e banda feliz pela recepção.
E já que estamos falando de um festival com o intuito de preservar e difundir o patrimônio cultural imaterial de Minas, nada melhor para dar seguimento às apresentações do que a banda SCROTINHOS, de Viçosa-MG, que se autointitula uma banda de "rock tosco mineiro". Uma mistura de influências rock´a´billly, punk, heavy metal e hardcore empolgaram a todos. Os pontos altos do show foram a execução das músicas "Zumbis de Ocasião" (com André Quick, vocalista, se misturando ao público em uma ataque zumbi insano), "Zé Malaco", uma belíssima anedota do cachaceiro mineiro, que embalou vários divertidos mosh e circles pits, "Piolho Blindado" (mais mosh pits!) e "Vou roubar você para mim" (com seu refrão machista hiper divertido: "Vou roubar você pra mim/Porque roubar pra comer não é pecado"), o ápice foi o fechamento com a música já clássica "Scrotinhos", em que alguns fãs foram selecionados para subir ao palco e ajudar no refrão.
A banda AFTER BURN (ressurgida das cinzas da antiga EdemaH) liderada por Vinnie Oliveira - vocal, deu continuidade às apresentações com seus covers de Metallica, AC/DC e Black Sabbath entre outros, que levou a galera ao delírio!
A PROTESTO SUBURBANO que veio do Rio de Janeiro com seu punk/hardcore old school politizado – que entre seus temas os mais evidentes são as temáticas sociais e ambientais – motivou muitas rodas de pogo. Ponto alto da apresentação foi a execução das músicas "Carteirinha" e "Um Dia Venceremos".
Não podemos deixar de destacar a locução que era feita nos intervalos dos shows informando a galera do que estava acontecendo, divulgando as demais atrações e anunciando as bandas. E foi com muito entusiasmo que a atração seguinte foi anunciada, a banda SUICIDE CONTROL que executou um deathcore certeiro e brutal. Impressionante a potência vocal de Farrell Silva – que passeia do scream ao pig squeal – e a técnica de todo o restante da banda, completada por Diôgo Castro (Bateria), Thales Freitas (baixo), Raniere Rodrigues (guitarra) e Pablo Lobo (guitarra). Não tinha como não se movimentar em meio aos insanos circles pits que rolavam e que eram comandados pelo vocalista ("Eu quero ver circle pits à vontade", ele dizia). Músicas como "Youlejhan" e "Smoke ’em If Ya Gol ’em" cover de Parkway Drive (apesar do vocal hip hop de alguns trechos da música) deixaram todo o público com muita dor nas costas e com o pescoço destruído.
Não deu tempo nem para respirar. Mais destruição sonora, agora a cargo da banda de thrash metal old school leopoldinense DEATHRAISER, formada por Thiago (guitarra e vocal), William (Bateria), Ramom (Guitarra) e Rafael (baixo). O setlist desgraceira despejou energia ao extremo levando os thrasers à insanidade total (e olha, foi tanta energia concentrada que no primeiro acorde, da primeira música, a guitarra de Ramom arrebenta uma corda, rapidamente substituída por ele). Com direito às paradinhas mortais em meios aos riffs frenéticos, músicas do seu álbum "Violent Agresson" (2011) como "Terminal Desease" e "Enslaved by Cross" foram como socos bem dados, um nocaute! Os caras apresentaram um novo som aos seus fãs, a música "Corporation Parasite" (simplesmente sensacional!) e, para finalizar a destruição, mandaram um cover de Kreator – a música executada foi "Betrayer" – que foi antecedida pelo desabafo raivoso do vocalista aos "traidores" que ficam em casa, não compram discos e não comparecem aos shows, enfim, não apoiam o underground.
Logo em seguida, a presença do Grupo de Caxambu Filhos de Eva de Carangola em torno da "fogueira folk" foi uma apresentação polêmica e que dividiu os olhares e os comentários dos headbangers, punks e hardcorers. Não que a apresentação fosse ruim – e não era, porque se a proposta do festival, como já foi dito, é preservar e difundir o patrimônio cultural imaterial de Minas, isso numa mistura das diversas tribos, tal apresentação se enquadrava no contexto, porém não podemos esquecer o quanto dá errado colocar apresentações tão distantes do que escuta o público no cast dos festivais de rock (vide os maiores exemplos: os shows desastrosos do Lobão com a bateria da Mocidade no Rock in Rio II em 1991, e de Carlinhos Brow no mesmo festival em 2001). Não houve violência nem agressão ao grupo, todavia, muitos pagantes – infelizmente – foram para casa se perguntando "o que foi aquilo?".
Entretanto, o resultado foi mais que positivo: após o acendimento da "fogueira folk" do Tribus e a apresentação cultural do Grupo de Caxambu/Jongo de Carangola na "Roda das Tribos", que acabou incitando a entrar na roda de caxambu bangers e punks numa bela e respeitosa interação e confraternização de todas as tribos em torno da fogueira ao ritmo dos cânticos e da execução instrumental de percussão afro-brasileira com o som dos batuques dos atabaques, uma das bandas mais aguardadas, a HAGBARD – maior revelação do folk/viking metal do Brasil dos últimos tempos -, entra em cena no palco tendo a fogueira ao fundo na arena, casando perfeitamente seu som com o ambiente/proposta do festival e complementando o clima de resgate da ancestralidade e confraternização de todas as tribos com direito a colossais bangueadas e dança folk regada a quentão viking entre o público, fazendo do momento o clímax do festival. A banda fez uma magnífica e festiva apresentação, abrindo com a épica Warrior`s Legacy e seguindo com seus já consagrados hinos como Berserker`s Requiem, Let us Bring Something for Bards to Sing, March To Glory, intercalando com covers de alguns clássicos como Pursuit of Vikings (Amon Amarth), Beer Beer e Vodka (Korpiklaani), Keelhauled (Alestorm) e Serpentines Offering (Dimmu Borgir) para o deleite dos bangers. A banda, atualmente formada por Igor Rhein (vocals), Tiago Gonçalves (guitar), Danilo "Marreta" (guitar), Gabriel Soares (keyboard), Rômulo "Sancho" (bass) e Everton "Ton Ton" (drums), está lançando seu tão aguardado Debut CD "Rise of the Sea King" pelo selo russo SoundAge Productions, que já lançou grandes bandas como Arkona, Grai e outras.
Das bandas maiores do cast do festival, era a vez da tão aguardada GLITTER MAGIC se apresentar. Promovendo o seu álbum "Bad for Health" (2012), Rhee Charles (vocal), Luqui di Falco e Mauri Moore (guitarras), Glux (baixo) e Andy Ravel (bateria) empolgaram a todos com seu hard’n’heavy. Destaques para as autorais "Daring the Down" e a faixa título do álbum e, também, para os covers de "Trust" do Megadeth e "N.I.B." do Black Sabbath.
A renomada banda de death metal DROWNED, quando de sua apresentação já contava com um público reduzido, mas fiel, que ao som de "Belligerent" (mais recente disco da banda sendo divulgado em sua turnê nacional) e outros petardos de todas as fases da respeitável discografia de seus já praticamente 20 anos de estrada, bateram cabeça com a animalesca performance de Fernando Lima (vocals), Rafael Porto (bass), Kerley Ribeiro (guitar), Marcos Amorim (guitar) e Beto Loureiro (drums) como em Bio-Violence, Pay Back, AK-47, Only a Business, mostrando a todos porque o Drowned já cravou definitivamente seu nome no underground brazuca, sendo já de longa data um dos maiores patrimônios da música extrema mineira e brasileira.
Não sei de onde o público arrumou fôlego e energia – já passava das 01:00 da madrugada – mas, na hora que a banda de death metal VENEREAL SICKNESS, que esse ano está completando 10 anos de existência, subiu ao palco e executou suas músicas, entre elas destaco "Marches to The Hell", "High Destruction", The Path of Execution" e a mais nova música "Feeeling My Fury", além do cover de "Evil Dead" do Death, foi a destruição na terra! A porradaria comeu solta. Com o restante das energias os fãs que suportaram o cansaço até ali e que aguardavam ansiosamente pela chuva de riffs brutais despejado pela banda, banguearam até a morte, com direito a muitos mosh pits. Simplesmente b-r-u-t-a-l e "du capeta" como deve ser todo bom death metal! (dos shows que vi dos caras, esse foi o melhor).
E para fechar a noite, foi a vez da banda estreante na cena underground mineira, RAZORBLADE (HIM Cover), que, devido ao cansaço do público, contou com pouquíssimas pessoas a apreciar o seu som, mas que, no entanto, não deixou a desejar, dando todo o seu potencial para agradar com seu som soturno e envolvente ao reduzido, porém fiel público que ainda se fazia presente para prestigiá-los, caindo muito bem às tantas da madrugada. Destaque para o timbre do vocalista Leandro Ruas e para o excelente desempenho do tecladista Luiz Carlos Freitas, que já integrou a extinta banda de Gothic Metal Venus Illegitima, de Viçosa/MG. A Razorblade executou os maiores clássicos da finlandesa HIM, fechando às 4:00 em ponto com o ultra-hiper-mega-clássico hit Wicked Game.
Como um todo o festival foi muito bem estruturado e se mostrou realmente o maior festival musical underground da zona da mata mineira tanto em quantidade de bandas apresentadas, qualidade das mesmas e diversidade de estilos que integraram o cast. Contudo, fica uma ressalva: a ordem de apresentação das bandas poderia ter sido melhor pensada (as bandas poderiam ter sido escaladas de forma a dar um tempo para os pagantes respirarem, tipo: uma banda thrash, uma banda hard, uma banda death metal e uma banda de pop rock, etc.) e a quantidade de bandas que se apresentaram poderia ter sido reduzido ou o número de dias para as apresentações ter sido estendido para mais um dia (já que o local contava com área para camping), só assim seria possível apreciar toda essa diversidade cultural – e não estou falando só dos shows – com fôlego e atenção que os artistas ali presentes, que vieram dos mais distintos e distantes lugares, merecem.
Mas no final, o Tribus Festival se mostrou forte. Público e bandas voltaram para casa realizados. O primeiro passo foi dado, que a caminhada continue! Ansioso pelo próximo fest.
Ramon da Silva Teixeira
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