Pink Floyd: Fantasia Floydiana
Por Giovanni Fagundes
Postado em 16 de junho de 2021
Grande parte dos fãs do Pink Floyd, este escriba incluso, tem uma fantasia. Um sonho de um dia acordar e ler em todos grandes sites de notícias uma manchete "Roger Waters e David Gilmour anunciam reconciliação e prometem turnê de despedida com Nick Mason". Seria a "manchete musical do ano" e seria repercutida ao longo de meses. Depois, ainda nesta fantasia, teríamos anúncio de shows ao redor do globo, América do Sul inclusive. Tudo no pós-pandemia, claro.
Ficaríamos numa expectativa ao longo de meses, os sites e jornalistas musicais fariam projeções sobre o setlist. Seríamos inundados de reportagens relembrando a saída de Waters da banda. Fãs iriam para as redes sociais celebrar e defender seu músico predileto. "Gilmourianos" diriam que Waters deu o braço a torcer. "Watersianos" diriam que o verdadeiro Pink Floyd voltou. O debate seria quente, mas no final todos teriam a esperada reunião. Ainda nesta imaginação, a turnê seria um sucesso estupendo.
E o setlist? Surpresa, claro. Músicas da era de ouro da banda, mas com execução de uma música da era Gilmour, que tal "High Hopes" (The Division Bell – 1994) com Roger sorridente? E uma canção da carreira solo de Roger executada pela banda, porque não "Perfect Sense Part 2" (Amused to Death – 1992) com Gilmour no coro. Você deve estar aí lendo e pensando, "delírio". Sim, mas não se esqueça que na fantasia é permitido delírio.
Os três Floyds estariam sorridentes no palco, Gilmour tocaria guitarra como sempre, perfeito, e Waters incluiria nas canções seus protestos políticos habituais. Teríamos tudo, a tela circular, o porco inflável, fogos. Homenagens à Richard Wright e Syd Barret, durante a execução de "Wish You Were Here" (Wish You Were Here – 1975). Depois de "Comfortably Numb" (The Wall – 1979), fechando o concerto, teríamos o abraço dos três Floyds. Ainda nessa fantasia, o show final seria em Earls Court em Londres e teríamos claro, depois da turnê, o lançamento da histórica reunião em todas as mídias possíveis e imagináveis. Ficaríamos com esta lembrança eterna e muitos privilegiados diriam: "Eu vi. Ao vivo".
Pois a cada ano, o sonho acima descrito mostra-se o que é mesmo, um delírio (você estava certo, meu caro leitor) uma fantasia. Algo que só mesmo podemos pensar, imaginar e sorrir. Para depois voltar ao mundo como ele é.
E o mundo como ele é, paciente leitor, é duro. Em post no Facebook dia 01 de junho de 2021, Waters veio com a carga toda. Basicamente acusando Gilmour de impedir o lançamento do álbum Animals (1977) remixado, por causa de um texto do jornalista Mark Blake que viria como nota no lançamento, descrevendo o que todos já sabemos, que Waters era o chefão na época do lançamento, que pensou em tudo, músicas, capa, conceito e o porco, claro, olha o porco aí de novo. Roger é fixado no porco, confesso que sempre achei o porco uma boa ideia, nada de excepcional. Além disso, Waters prosseguiu afirmando que Gilmour e sua esposa Polly, praticamente uma "Yoko Ono Floydiana" nesta altura dos acontecimentos, tem em andamento, desde sempre, uma campanha para "contar uma história" de que a participação de Gilmour foi maior do que a realidade, na época que Waters comandava a banda. Um petardo.
Para fechar, Waters ainda cita uma antiga entrevista de Gilmour, falando sobre os famosos sons da caixa registradora no início de "Money" (The Dark Side of The Moon – 1972), como uma criação em que ele, Gilmour, teria participado. Na versão de Waters, uma lorota, já que ele, Waters, teria sido o autor da criação dos efeitos, tudo em sua casa, sem envolvimento dos demais membros do grupo. E ainda promete um livro de memórias, a ser lançado no futuro, onde descreverá sua versão de todos os fatos.
O tal relançamento de Animals parece que vai sair, sem as notas da discórdia. Mas Waters, claro, traz ao público toda a história. Um comentário no texto, ainda pode ser visto como um "elogio" de Waters, Gilmour seria um "ótimo guitarrista e cantor". Um "afago", no meio das pedradas. Ou uma dica do que Waters pensa mesmo, que Gilmour foi só o guitarrista e cantor que viabilizou musicalmente suas ideias. Não vou ficar no muro, acho que a alternativa dois é a realidade.
Gilmour ainda não respondeu e, nas recentes manifestações de Roger, tem ficado em silêncio. Não entra no "ringue" para o qual é chamado.
Para os fãs, fica a impressão que é só mais uma treta que será sucedida por uma outra treta, daqui alguns meses. E assim vamos.
A realidade mesmo, para nós fãs, são as carreiras solo de Waters e Gilmour, com passagens recentes pelo Brasil inclusive, onde foi possível constatar o que todos sabemos. Os dois separados são sensacionais, mas juntos seria o mais estupendo encontro da história recente do rock.
Para os que não desistem da alucinação do reencontro, é fácil. Só precisa ter a mente fértil. Fechem os olhos e fantasiem. Shine On!
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