O problema com esse novo velho amigo, o rock'n roll
Por Rodrigo Contrera
Postado em 25 de novembro de 2017
Fazia tempo que não escrevia. E fico triste ao perceber que só o fiz porque mais um de nossos heróis morreu, o Malcolm Young. Triste porque tenho tentado escrever e não conseguido. Por um motivo bastante claro: falta de tesão.
Poderia argumentar que tem sido também falta de tempo. Em parte, é verdade. Como todos, neste país em crise lamentável, estou tentando me virar para sobreviver. Mas o fato é que várias bandas me mandaram trabalhos, de que gostei, e sobre os quais prometi escrever. Mas não consegui. E meio que ando desistindo. Porque tenho de ser sincero: não falam quase nada para mim.
Sou e sempre fui um jornalista movido a paixão. E assim sendo eu nunca consegui ficar num lugar sem que a paixão me motivasse a continuar. Foi assim mesmo nas revistas ou sites que acabaram, por outros motivos. Ocorre contudo que a paixão por vezes acaba. E que não conseguimos retomá-la.
Tenho ouvido bastante coisa nova e velha. Tenho visto bandas de gerações mais novas. Assistido a bandas de que gosto - a maioria dos anos 80. Porque eu sou daquela geração. Tenho assistido a shows por Youtube. E tenho me defrontado com artistas mais antigos que antigamente eu não engolia bem. Mas algo me impede de escrever. Sinto que repiso os mesmos temas de sempre. Que tento dourar a pílula de algo sobre o que ninguém mais quer saber.
É triste, isso. Acabo de ouvir alguns trechos de um CD antigo do Marty Friedman que eu adoro (o CD e o sujeito). Mas nem consegui continuar a ouvi-lo. Algo meio que me disse, chega. Não tem mais graça. É chato, isso. Bastante incômodo. Como se o rock que antes me acendia hoje não tocasse fundo em mim.
Tenho mexido em minha coleção de CDs. E percebo que não são apenas os CDs de rock que não me acendem mais. Nem os CDs de trilhas sonoras, nem os de gente como Leonard Cohen, nada parece mexer muito comigo.
Tá certo que eu mudei. Quando me converti, no começo as músicas gospel me irritavam. Hoje me agradam. Me fazem sentir melhor. E como passo por dificuldades imensas, isso me ajuda a retomar a vida. Mas o rock era quem antigamente tinha essa função. Lembro-me de quando eu cantava a plenos pulmões I Don't Believe a Word, do Motörhead, ou outra música de dor de cotovelo do Lemmy, sendo que meu vizinho de cima tinha que aguentar. Hoje não tenho mais essa disposição.
Ando escrevendo alguns roteiros para filmes. Um, sob encomenda, para um amigo meu, a partir de um argumento meu. Tenho também começado livros para o Wattpad. E tenho outros projetos ainda, mais em fase de projeto mesmo, sobre história e religião. Mas tentei começar outro texto sobre o Iron Maiden e não consegui continuar. Era sobre o Phantom of the Opera.
Sei lá, as bandas atuais não me animam a escrever, por mais que eu tente. As bandas de minha geração me dão tédio atualmente. As bandas clássicas parecem antigas demais para merecerem uma atenção extra. E afinal de contas, muitos podem escrever melhor do que eu a respeito delas. Quem sou eu, sobre Rolling Stones, Beatles ou mesmo AC/DC? Pois sei que muitos que nos lêem querem fatos, menos que opiniões.
Pois bem, eis que estou con 50 anos. Um tiozinho separado com uma garota muito amiga vizinha com quem tento me aninhar. Um cara que se converteu e que ficou mais conservador, meio que de repente. E um sujeito com uma antiga paixão - o rock - que não consegue imaginar como manter viva em si. Um sujeito em crise.
Outro colega aqui do Whiplash comentou sobre isso de nossos heróis estarem morrendo, e de vermos o fim de uma era. Fico triste com o fato de eu estar sentindo por vezes o fim antes em mim do que na realidade. E por isso lamento.
Lamento por mim, pelo rock e por todos nós.
Como gostaria poder voltar a frequentar muquifos quaisquer e poder ver juventude maluca botando para quebrar! Mas estamos no país em que estamos. Com Temer ainda nos aporrinhando e não conseguindo sequer fazer festinhas para além das 22h.
Ninguém mais aguenta isso. Só me resta torcer para que alguém um dia resolva chutar novamente o pau da barraca e termos rock'n roll vivo novamente conosco. Com gente nova, garotas lindas e bastante cerveja gelada.
Enquanto isso, mortes e mais mortes. E muita saudade.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Internautas protestam contra preços de ingressos para show do AC/DC no Brasil
Os três melhores guitarristas base de todos os tempos, segundo Dave Mustaine
A única música do "Somewhere in Time" do Iron Maiden que não usa sintetizadores
AC/DC anuncia terceiro show em São Paulo; ingressos estão à venda
Como James Hetfield, do Metallica, ajudou a mudar a história do Faith No More
A maior lenda do rock de todos os tempos, segundo Geezer Butler do Black Sabbath
A melhor banda de metal de todos os tempos, segundo Scott Ian do Anthrax
A banda que não ficou gigante porque era "inglesa demais", segundo Regis Tadeu
A música do Yes que Mike Portnoy precisou aprender e foi seu maior desafio
A banda que mais pode repetir sucesso do Iron Maiden, segundo Steve Harris
Slash dá a sua versão para o que causou o "racha" entre ele e Axl Rose nos anos noventa
O top 10 das músicas de Nando Reis, segundo ele mesmo
AC/DC anuncia show extra em São Paulo para o dia 28 de fevereiro; ingressos estão à venda
Cinco clássicos dos anos 90 que ganharam versões heavy metal
A canção de álbum clássico do Guns N' Roses que Slash acha "leve demais"
O clássico dos Beatles que John Lennon considerava o maior poema que já escreveu
A inesperada parceria de Andreas Kisser que fez Igor Cavalera ligar para o guitarrista


Mais um show do Guns N' Roses no Brasil - e a prova de que a nostalgia ainda segue em alta
Como uma música completamente flopada me apresentou a uma das bandas do meu coração
Será que não damos atenção demais aos críticos musicais?
Um obrigado à música, minha eterna amiga e companheira
O impacto da IA na produção musical
Down: Palavras de Phil Anselmo mostram que o metal (ainda) é racista
Os Headbangers não praticantes



