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Streaming: como a música "gratuita" assassinou o formato CD

Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 13 de junho de 2014

Tradução de parte de um texto do jornalista DAVID CARR para o NEW YORK TIMES a respeito da desvalorização da música como uma mercadoria tangível e com força de atrito no sistema capitalista.

[...]

E só tende a piorar. Dê um CD de música a uma criança de 10 anos de idade e pergunte a ela pra que ele serve. A maioria jamais verá uma música como algo que outrora foi aprisionado a um disco ou um download pelo qual você tinha que pagar.

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E não são apenas as crianças. Algumas semanas atrás, promovemos um bazar de garagem em nossa casa e eu estava disposto a me desfazer de apenas metade de meus livros. Mas quando eu olhei para minha coleção de CDs e pensei sobre quais eu queria manter, e minha resposta foi, hm, nada. Havia centenas deles, cuidadosamente colecionados por mais de uma década, alguns foram presentes, alguns até gravados por amigos ou bandas sobre as quais eu havia escrito, mas eles estavam parados fazia anos. Eu coloquei o preço de 25 centavos de dólar em cada, e daí um cara ofereceu 35 dólares [78 Reais] por todos e fechamos. Até demos o rack junto.

Os livros têm mantido algum valor dentro de um ecossistema em evolução das mídias pessoais, em parte porque o artefato físico é mais atraente do que o CD de plástico [que, em alguns casos, só pode ser aberto com um pé de cabra]. Coleções de CDs não significam mais uma identidade cultural [os LPs de vinil, que estão voltando dentro de um nicho bastante específico, são outra questão].

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A fuga da música da detenção começou tão logo as canções puderam ser renderizadas em 0s e 1s. Quando Steve Jobs da Apple decidiu que o preço de uma música era de 99 centavos, ele ‘salvou’ uma indústria fonográfica tomada pela pirataria, ao queimar metade dela. As pessoas pararam de comprar discos e compravam só as músicas que queriam, uma desagregação que varreu a ineficiência – o que é outro nome pra lucro.

Entre o que eu comprei e o que eu gravei, eu acabei com cerca de 7 mil músicas. Mas quer saber? Eu não as ouço tampouco. Porque eu o faria se eu posso, sem esquentar a pestana, apertar um único botão?

Eu escrevi um perfil sobre NEIL YOUNG faz um tempo no qual ele reclamava sobre a perda da qualidade de áudio, mas tal como Clay Shirky, professor do Programa de Telecomunicações Interativas da Universidade de Nova Iorque disse, ‘se tá bom, tá bom o suficiente’. A conveniência de apertar um botão em um aparelho que cabe numa não e que faz o stream sem fio para uma caixa de som sempre vai triunfar em cima de um CD com som marginalmente melhor e colocá-lo em um player.

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Acham que eu sou preguiçoso? As vendas de downloads digitais caíram acachapantes 13 por cento no primeiro trimestre desse ano depois de caírem cinco por cento em 2013, que foi o primeiro ano desde a estreia do iTunes em que as vendas de música digital diminuíram. A Apple com certeza sentiu o baque: menos de duas semanas atrás, ela anunciou que compraria a Beats Electronics em uma transação de 3 bilhões de dólares que inclui um serviço de streaming.

A aquisição também inclui os caros fones de ouvido da Beats – que custam 300 dólares e estão disponíveis em uma variedade de cores de modo que são também um acessório de moda. As pessoas ainda pagam muito dinheiro por aparelhos, e nesse fim de semana, as pessoas gastaram pelo menos US$250 para acesso de três dias ao Governor’s Ball Music Festival em Nova Iorque. É uma desconexão curiosa: os fãs pagam alto para um acessório musical ou um evento musical. Mas eles não pagam por, ah sim, música.

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Escrevendo para o The Daily Beast semana passada o músico Van Dyke Parks disse que nos bons tempos, uma música que ele escrevera com Ringo Starr teria dado a ele ‘uma casa com piscina’. Mas, com os atuais repasses de royalties, ele calcula que ele e o ex-Beatle fariam menos de 80 dólares [178 Reais], o que significa que ele terá que escolher entre uma casa de bonecas e uma piscina de vinil para bebês e daí dividi-la com o Sr. Starr.

Superastros como Beyoncé podem tacar um disco de surpresa no iTunes e vender um milhão de cópias em menos de duas semanas, mas a maioria dos artistas está tendo problemas no mundo do streaming. Os serviços de streaming argumentam que à medida que o número de seus assinantes aumentar, os músicos poderão sobreviver com muitas fatias de uma torta muito grande. [...]

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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