Donald Trump: o editorial do Metal Sucks sobre o novo presidente dos EUA
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 23 de novembro de 2016
O Metal Sucks é um dos maiores sites sobre heavy metal dos Estados Unidos. Sempre com uma postura crítica, publicou um editorial sobre a eleição de Donald Trump, se posicionando de maneira clara sobre o assunto.
Leia a íntegra abaixo:
Uma das respostas mais comuns após a eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos foi: "Bem, pelo menos haverá muito heavy metal e punk". A ideia geral é que Trump é um símbolo de ganância, de normalidade forçada, e que irá inspirar raiva e dissidência política na comunidade do metal de maneira semelhante ao que aconteceu na época em que Ronald Reagan estava no poder. E, como resultado disso, centenas de jovens ultrajados pegarão suas guitarras e escreverão seus próprios hinos de rebelião.
Não acreditei totalmente nesse ponto de vista quando o escutei pela primeira vez, como não acredito que existem muito méritos em viver quatro anos em nosso país sendo dirigido por pessoas que vêem a liberdade de um indivíduo em se casar com quem ele quiser ser menos importante do que o direito de cada cidadão possuir um rifle. Mais ainda: nunca vi a raiva política presente em algumas bandas de metal como algo para curtir ou celebrar, mas sim apenas como a expressão de babacas mimados e sem imaginação que querem que merdas aconteçam para que eles tenham inspiração para escrever suas músicas. Mas isso mudou quando Trump foi ao Twitter demonstrar a sua birra com o elenco do musical Hamilton, que expressou educadamente a sua inquietação sobre o futuro vice-presidente Mike Pence. Nessa hora eu percebi que tudo era uma grande mentira.
A verdade é que a América de Donald Trump, o país que ele nos vende, não tem lugar para o heavy metal. É uma nação que, acima de tudo, valoriza a propriedade, as aparências, o decoro e o status quo - todas as coisas contra os quais o metal sempre posicionou contra. Esse cara, na real, odeia todos nós.
Um dos tópicos preferidos abordados pelo novo presidente em seus discursos é o retorno "aos bons e velhos tempos" - uma época que nós sabemos que nunca existiu, de fato. E, vamos ser honestos, ele não está falando sobre os anos 1970 ou 1980. Ele está se referindo sobre a década de 1950, um dos momentos mais sombrios da história norte-americana. "Os bons e velhos tempos" fazem alusão direta à uma época em que todos estampavam um sorriso falso no rosto e ninguém tocava em temas como se sentir sozinho, rejeitado ou morto por dentro. Essas emoções, que são muito naturais, foram encobertas e trancadas no armário, porque expressá-las sugeria que você era o tipo de cabeça de ovo que nos levaria a perder a guerra contra a União Soviética e sua turma.
E, claro, era pior para as mulheres, as minorias étnicas e os homossexuais - muito, muito pior mesmo -, mas mesmo os homens brancos dito "corretos" foram vítimas nos tais bons tempos. Confessar ao seu vizinho que às vezes você sente vontade de chorar ou apenas dar um chute na bunda do cachorro? Prepare-se para um monte de olhos vingativos te julgando no supermercado! Os bons e velhos tempos resistiram às mudanças comportamentais naturais da humanidade, e se transformaram na dinastia de hipocrisia que veio depois da pior guerra da história. Tudo o que importava era ser rico o suficiente para se cercar de um casulo de privacidade, dentro do qual você poderia se comportar como uma pessoa de verdade, que segue o seu coração.
Isso não tem nada a ver com o metal. O metal é solitário, ameaçador, sacana e, sobretudo, honesto. Heavy metal é sobre ser tão autêntico e humano possível quanto a sua raiva e infelicidade possibilitem. Onde o punk diz "Foda-se!", o metal fala "Foda-se, somos o oposto do que você está fazendo, levado ao extremo mais distante". É sobre a besta que ronda a humanidade, e esse demônio não é ter vergonha de seus fetiches estranhos, de achar Satanás mais interessante que Jesus ou fumar ervas daninhas todas as horas do dia. É sobre a compreensão do quanto fodido, louco e estranho você pode ser, e que, apesar disso, você não está machucando ninguém. Que você só quer ficar sozinho aterrorizando os demônios de sua mente com solos de guitarra que convocam nuvens de morcegos sombrios.
Você poderia argumentar que, em alguns aspectos, Trump é a própria besta. A coisa horrível que está fora da zona de conforto de várias nações e que quer ser como Satanás e Darth Vader, o que soa bastante metal em sua superfície. Mas a questão aqui é o contexto. Trump gabava-se de agarrar mulheres contra a sua vontade, porque ele era o famoso o bastante para poder fazer isso. E, quando vieram as lógicas reações negativas a esse comportamento, expressou um burro pedido de desculpas público sobre o assunto - aliás, nunca tinha visto alguém tão irritado em dizer que estava arrependido. Mentir para si mesmo e para o público é a postura menos metal que existe.
O pior de tudo, o que a resposta ao elenco de Hamilton nos ensinou, é que o contigente de Trump vê com bons olhos seu ataque maldoso, e se ampara na honestidade brutal dele para justificar o fato de Trump sempre ser um alvo. Alguns fãs de metal podem aprovar algumas atitudes de Donald Trump, mas seu mundo limpo e brilhante é baseado em aparência, onde você é bom apenas na quantia que o seu bolso é capaz de comprar. E, uma vez que você decidir confrontar ou discordar de qualquer opinião de Trump, ele irá considerá-lo automaticamente seu inimigo. Usar uma cruz invertida ou uma camiseta com um logotipo ilegível será considerado um ato pouco americano, e o metal acabará se transformando no fato novo contra o qual essa turma que quer fazer a América grande novamente lutará. É o que pessoal dos bons e velhos tempos pensa.
Naturalmente, a América de Trump está bem servida de astros do rock, caras como Meat Loaf e Gene Simmons, que vão vender a ideia de um período interessante e atraente como recompensa por levar uma boa vida cotidiana - um modo de pensar parecido com o de qualquer religião, diga-se de passagem. Para Trump, esses caras são a prova de que mesmo os rebeldes sabem que uma hora precisam entrar na linha, e que a busca pelo estereotipado sonho americano - uma casa grande, vários carros, um bom chuveiro - é a única razão pela qual se deve lutar. Mas todos sabemos que isso não é metal. Metal é estar com o volume no máximo mesmo quando não há ninguém por perto para ouvi-lo. É sobre lançar o seu melhor disco em anos, mesmo depois de todas as gravadoras fecharam as portas pra você.
É importante frisar que esse editorial não é um endosso a Hillary Clinton. Ela é um monte de coisas, e o metal não é uma delas. A questão com a América de Clinton é que ela veria a inconveniente honestidade do heavy metal como ofensiva e - mergulhada em uma psicologia tendenciosa -, ao analisar ideias e imagens como Baphomet mordendo a garganta de um padre e cercado por dançarinos nus, afirmaria que você está promovendo de maneira ativa e consciente pensamentos ofensivos que perturbam os outros. Não seriam os bons e velhos tempos, mas sim um mundo novo onde o metal continuaria sendo uma afronta, porque o metal sempre será uma ofensa a qualquer sociedade que se julga preciosa e equilibrada.
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
A diferença, no entanto, é que, enquanto a América de Hillary Clinton pode, de maneira presunçosa e a plenos pulmões, fazer cara torta para o metal, sua resposta provavelmente não iria além disso. A equipe de Donald Trump, entretanto, quer agir. Eles falam sobre forçar as pessoas a protegerem sua religião com o apoio do governo, construir um muro e revogar leis que protegem os indivíduos de perseguição e violência. Estão se esforçando pra fazer merda. Tudo isso pode ser apenas um monte de conversas para ganhar a eleição, mas mesmo assim não deixa de ser um inferno de uma mensagem maldosa, e sua ironia parece ter se perdido na maioria de seus simpatizantes.
Muitos de nossos leitores parecem zangados por termos falado tanto desta eleição, mas aqueles que não conhecem sua própria história estão condenados a se darem mal justamente por isso mais tarde - e este é um momento histórico para os metalheads. O metal sempre esteve distante do que é convencional, obediente e facilmente engolido, e essas são três virtudes sagradas da América de Donald Trump. Não se deixe enganar pensando que esta será uma nova era incrível para o metal, estimulada por alguém que todos estão loucos para odiar. No momento em que esse sujeito se sentir ameaçado por pessoas como a gente, ele encontrará uma maneira de nos prejudicar.
Editorial publicado pelo Metal Sucks, um dos maiores sites especializados em heavy metal dos Estados Unidos.
Tradução de Ricardo Seelig
Eleição de Donald Trump - As reações no mundo do Rock e Heavy Metal
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A única banda de rock progressivo que The Edge, do U2, diz que curtia
Não é "Stairway" o hino que define o "Led Zeppelin IV", segundo Robert Plant
O guitarrista do rock nacional que é vidrado no Steve Howe: "Ele é medalha de ouro"
10 guitarristas impossíveis de serem copiados, conforme o Metal Injection
Quem são os músicos que estão na formação do AC/DC que vem ao Brasil
Esposa e filho homenageiam David Coverdale após anúncio de aposentadoria
A "guerra musical" dentro do Guns N' Roses que fez a banda se desmanchar
O pior disco do Led Zeppelin, de acordo com o Ultimate Classic Rock
Quando Duane Allman ficou irritado com Robert Plant no palco; "vou lá e arrebento esse cara"
Sharon Osbourne revela o valor real arrecadado pelo Back to the Beginning
Apoio de Fred Durst à Rússia faz Limp Bizkit ter show cancelado na Estônia
Glenn Hughes passa mal e precisa encerrar show mais cedo em Belo Horizonte
As duas músicas que Bruce Dickinson usa para explicar o que é rock and roll
O músico que Jimmy Page disse que mudou o mundo; "gênio visionário"
Sebastian Bach fala sobre o chilique que o fez ser demitido do Skid Row
O que significa a frase "Tira essa bermuda que eu quero ver você sério" de "Como Eu Quero"?
A respeitosa opinião de Max Cavalera sobre The Edge, guitarrista do U2
Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, cita Donald Trump durante show em New York
Lars Ulrich, do Metallica, diz que vai embora do país se Donald Trump ganhar
Marilyn Manson: decapitando Donald Trump em novo clipe
Donald Trump: os roqueiros que apoiam o presidente eleito
Donald Trump: Yoko Ono resume tudo em um único tweet
AC/DC: Donald Trump e "Amante para o Natal"
Guns N' Roses faz uma "homenagem" a Donald Trump no show do México
Nergal (Behemoth) coloca Trump em coleira de Putin no Instagram


