Funarte: Regina Duarte demite presidente que diz que rock leva a aborto e satanismo
Por Igor Miranda
Fonte: O Globo
Postado em 04 de março de 2020
Regina Duarte, nova secretária de Cultura do governo federal, exonerou seis presidentes de órgãos culturais brasileiros nesta quarta-feira (4), conforme publicado no Diário Oficial da União. Entre eles, está Dante Mantovani, maestro graduado em música e presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) efetivado no fim de 2019.
Mantovani gerou polêmica, ainda em 2019, ao falar sobre o rock em vídeo no YouTube. Na filmagem, publicada no fim de outubro e retirada do ar posteriormente, ele busca fazer uma relação entre os Beatles e a Escola de Frankfurt, vertente de teoria social e filosófica que tinha Theodor Adorno e Max Horkeimer como principais referências.
O agora ex-presidente da Funarte afirma que os Beatles exerceram as ideias da Escola de Frankfurt, que, de acordo com ele, buscava destruir a cultura ocidental. O foco principal era acabar com as famílias tradicionais, tidas como "base" do capitalismo. Ele declarou, ainda, que agentes comunistas infiltrados na Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) distribuíram a droga LSD para o público do festival Woodstock. O evento, realizado em 1969, ficou marcado como o auge da contracultura hippie.
"Existe toda uma infiltração de serviços de inteligência dentro da indústria fonográfica norte-americana que se não levarmos em conta, não vamos entender nada. A União Soviética mandou agentes infiltrados para os Estados Unidos para realizar experimentos com certos discos realizados para crianças. Esses agentes iam, se infiltravam e iam mudando, inserindo certos elementos para fazer engenharia social com crianças. Daí passaram para música para adolescentes", disse ele, em trecho transcrito pelo site do jornal O Globo.
Ao mencionar Woodstock, Dante Mantovani pontuou a teoria dos agentes infiltrados da CIA. "Mas como (a distribuição de drogas era feita) pela CIA? Tinha infiltrados do serviço soviético lá. [...] O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo", afirmou.
Além de Dante Mantovani, foram demitidos Camilo Calandrelli, da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura; Reynaldo Pereira, da Secretaria da Economia Criativa; Marcos Azevedo, Secretário de Direitos Autorais e Propriedade Intelectual; e Rodrigo Junqueira, Secretário de Difusão e Infraestrutura Cultural. Outro nome dispensado foi Paulo Cesar Brasil, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
De acordo com o jornal 'O Globo', todos os gestores foram exonerados a pedido de Regina Duarte, que busca reaproximação da secretaria da Cultura e do governo federal com a classe artística brasileira. Os substitutos não foram anunciados. A atriz, ex-Globo, tomará posse ainda nesta quarta-feira.
Ainda segundo a publicação, todos - ou quase todos - os gestores demitidos correspondem a uma espécie de ala "olavista" da secretaria da Cultura, em referência aos alunos do filósofo Olavo de Carvalho. O ideólogo chegou a dizer, em filmagem que viralizou recentemente, que Adorno foi o responsável por criar as músicas dos Beatles, que, segundo ele, eram "semianalfabetos em música".
Outros nomes que geraram polêmica recentemente não foram dispensados de suas funções. O filósofo Rafael Nogueira, que continua como presidente da Biblioteca Nacional, também é aluno de Olavo de Carvalho e já chegou a dizer: "Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto". Por outro lado, ele já declarou ser fã de bandas como Angra e Shaman.
Gestor da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que chamou atenção por relativizar temas como racismo e escravidão no Brasil, também foi mantido. Antes de ser nomeado para o cargo, ele deu declarações como "racismo real existe nos Estados Unidos, a negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", "a escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes" e que o feriado Dia da Consciência Negra "precisa ser abolido nacionalmente por decreto presidencial, pois causa ncalculáveis perdas à economia do país, em nome de um falso herói dos negros (Zumbi dos Palmares, que escravizava negros) e de uma agenda política que alimenta o revanchismo histórico e doutrina o negro no vitimismo".
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