Decibel: impecável, livro imortaliza 25 grandes obras do metal
Por Mário Pescada
Postado em 17 de fevereiro de 2021
Os fãs de rock já perceberam como que o mercado editorial brasileiro, depois de muito atraso, enfim abriu de vez suas portas para os títulos dedicados ao universo do rock em todas as suas vertentes, diga-se. Hoje, temos a disposição vasto material das nossas bandas/artistas favoritos por bons preços e em português (antes, além de serem poucos títulos, eram importados, caros e em inglês).
Coube a Editora Metalosfera, grata revelação gaúcha, presentear no final de 2020 os fãs de metal com o excelente "Precious Metal: Uma Antologia do Hall da Fama da Revista Decibel vol. 1", livro que entrou para a minha coleção como "item obrigatório".
Para quem não conhece, a Decibel Magazine foi fundada em 2004 e se tornou a revista dedicada ao metal mais lida no mundo, tendo crescido ao ponto de ter seu próprio festival itinerante pelos EUA, sua própria editora e o seu famoso Hall da Fama, imortalizando a cada mês, um disco histórico para o estilo.
A entrada no Hall da Fama deve seguir os seguintes parâmetros: o autor e editor-chefe, Albert Mudrian, junto com sua equipe, escolhem um disco que tenha sido lançado há pelo menos cinco anos e que tenha tido impacto relevante na carreira e no estilo da banda. A partir daí, vem a parte mais difícil: conseguir entrevistar TODOS os membros que tocaram no disco escolhido para saber o que aconteceu na época: como foi a produção, composição, qual o impacto dele na carreira do grupo e de outros, os bastidores, problemas encontrados, como era a cena da época, a relação com gravadora, imprensa e entre os membros, etc.
E porque essa parte de juntar todos os membros é tão complicada? Por três motivos: primeiro, passados 10, 15 anos ou até mais, alguns músicos simplesmente não querem falar sobre tais obras, como Jim Martin, ex-guitarrista do FAITH NO MORE que prefere cuidar de suas abóboras a falar sobre "Angel Dust" (1992), John Stanier, ex-baterista do HELMET que não comenta absolutamente nada sobre "Meantime" (1992), Henry Rollins que, ao contrário de seus ex-colegas de banda, se recusa a falar sobre o influente BLACK FLAG ou Glenn Danzig (esse era até esperado) que prefere manter-se em silêncio hoje sobre o ótimo "Danzig" (1988). Segundo, os convites recusados em fazer parte do Hall da Fama, como o NEUROSIS e a lenda do death metal britânico, BOLT THROWER. E terceiro, esse impossível de ser desfeito, os casos de músicos que se partiram, logo, não poderiam opinar mais sobre suas grandes obras, como Cliff Burton (METALLICA), Chuck Schuldiner (DEATH) e dos irmãos Dimebag Darrell e Vinnie Paul (PANTERA). Por essas que, infelizmente, apesar de terem lançados discos essenciais, algumas bandas não entram no Hall da Fama da revista.
O que esse volume fez (há mais dois publicados) foi pinçar 25 discos desse Hall da Fama, ou seja, compilar "o melhor do melhor". Ou alguém se atreve a dizer que "Reign In Blood" (1986) do SLAYER não se tornou sinônimo de thrash metal? Ou que "Altars Of Madness" (1989) do MORBID ANGEL não levou o death metal a um patamar de técnica e velocidade inéditos? Não vibrar com "Heaven And Hell" (1980) que ajudou a ressuscitar, com o talento do saudoso Ronnie James Dio, o BLACK SABBATH? Não reconhecer a influência de "Gothic" (1991), do PARADISE LOST, sobre dezenas de bandas a seguirem o caminho da melancolia com peso? Deixar de valorizar o que os nossos brazucas (únicos citados) do SARCÓFAGO fizeram ao levar todo extremismo pessoal e musical ao limite em "I.N.R.I." (1987)? Relegar o impacto sonoro e visual que "Tomb Of The Mutilated" (1992) do CANNIBAL CORPSE, que deixou muita banda de metal parecendo banda de coral de igreja? Ou desmerecer o que o doentio REPULSION fez com seu único disco "Horrified" (1989) ao parir o grindcore?
Citei apenas algumas bandas e seus marcos sonoros cobertos no livro, mas ele ainda traz feitos de DIAMOND HEAD, CELTIC FROST, NAPALM DEATH, OBITUARY, ENTOMBED, CARCASS, EYEHATEGOD, DARKTHRONE, KYUSS, MESHUGGAH, MONSTER MAGNET, AT THE GATES, OPETH, DOWN, EMPEROR, SLEEP, THE DILLINGER ESCAPE PLAN e CONVERGE. Le crème de la crème, meus amigos!
As entrevistas são versões estendidas da época da sua publicação, portanto, turbinadas com trechos inéditos que, ao final, se tornaram um calhamaço de 444 páginas com cada disco ocupando um capítulo. Como não seguiram um roteiro padrão de perguntas, cada entrevista trata determinado disco de forma única, coerente com sua singularidade. São tantos episódios que cercam cada registro, que seria uma injustiça citar algum por aqui, mas posso garantir que cada capítulo vale a pena ser lido, mesmo se você não é necessariamente fã de determinado grupo - acredite.
Enfim, um livro obrigatório, de fácil leitura e que serve inclusive como material de consulta futura, praticamente uma enciclopédia, que fica melhor ainda ao ter cada capítulo devorado ao som do seu respectivo disco, para melhor absorção do que ele afinal representou.
Segundo a Editora Metalosfera, há possibilidade de que os volumes II e III sejam traduzidos por aqui, trazendo mais pérolas até nós. Oremos!
Esse material primoroso pode ser adquirido no site da Editora Metalosfera ou na Amazon Brasil.
Abaixo, as bandas e discos analisados em cada capítulo:
Cap. 01 - Black Sabbath - "Heaven And Hell" (1980)
Cap. 02 - Diamond Head - "Lightning To The Nations" (1980)
Cap. 03 - Celtic Frost - "Morbid Tales" (1984)
Cap. 04 - Slayer - "Reign In Blood" (1986)
Cap. 05 - Napalm Death - "Scum" (1987)
Cap. 06 - Sarcófago - "I.N.R.I." (1987)
Cap. 07 - Repulsion - "Horrified" (1989)
Cap. 08 - Morbid Angel - "Altars Of Madness" (1989)
Cap. 09 - Obituary - "Cause Of Death" (1990)
Cap. 10 - Entombed - "Left Hand Path" (1990)
Cap. 11 - Paradise Lost - "Gothic" (1991)
Cap. 12 - Carcass - "Necroticism - Descanting The Insalubrious" (1991)
Cap. 13 - Cannibal Corpse - "Tomb Of The Mutilated" (1992)
Cap. 14 - Eyehategod - "Take As Needed For Pain" (1993)
Cap. 15 - Darkthrone - "Transilvanian Hunger" (1994)
Cap. 16 - Kyuss - "Welcome To Sky Valley" (1994)
Cap. 17 - Meshuggah - "Destroy, Erase, Improve" (1995)
Cap. 18 - Monster Magnet - "Dopes To Infinity" (1995)
Cap. 19 - At The Gates - "Slaughter Of The Soul" (1995)
Cap. 20 - Opeth - "Orchid" (1995)
Cap. 21 - Down - "NOLA" (1995)
Cap. 22 - Emperor - "In The Nightside Eclipse" (1995)
Cap. 23 - Sleep - "Jerusalem" (1999)
Cap. 24 - The Dillinger Escape Plan - "Calculating Infinity" (1999)
Cap. 25 - Converge - "Jane Doe" (2001)
Ficha:
- Título: Precious Metal: Uma Antologia do Hall da Fama da Revista Decibel vol. 1 (Título original: Precious Metal: Decibel Presents the Stories Behind 25 Extreme Metal Masterpieces)
- Autor: Albert Mudrian / Tradução: Tiago Cattani
- Ano: 2020
- Idioma: Português
- Conteúdo: 426 páginas
- Editora: Metalosfera
Nota: 10
FONTE: Editora Metalosfera
https://metalosfera.com.br/
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