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Dorsal Atlântica: "A pandemia fez as pessoas se mostrarem como realmente são"

Por Alexandre Bury
Fonte: Monophono
Postado em 05 de dezembro de 2021

Pandemia, disco conceitual, quase uma ópera-rock sobre o período imediatamente recente que nos arremessou às trevas do horror (em todos os sentidos possíveis), mostra que as preocupações de Carlos Lopes, líder da Dorsal Atlântica, permanecem amplas - artísticas, estéticas, sociais e políticas. Mas uma conversa com o guitarrista/vocalista atesta que elas são apenas o começo: ainda há muito a se desenvolver, a pensar e a refletir através das proposições do álbum, um contundente ponto de partida para estabelecer posturas e provocar um racha na consciência de todos nós. Mas ele tem bastante mais a pontuar.

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Monophono: O mundo é doente, ou o mundo está doente?

Carlos Lopes: Auspicioso início, hein (risos)? Levando em consideração a história de toda a humanidade, a primeira opção.

Monophono: Por falar em estética, você atualmente sente existir uma necessidade de maior agressividade para passar a mensagem pretendida? O heavy metal seria a única forma de supri-la?

Lopes: Tanto o nível quanto o conteúdo da mensagem dependem sempre do emissor e do receptor. Uma pessoa bem sucedida, que é ouvida, seguida por um determinado público, também pode estar mentindo. Todos podem estar equivocados, mas, se são parte de uma bolha, de um nicho, se fortalecem, assim como ocorre no metal, em grupos extremistas e nas Igrejas neopentecostais. Em uma sociedade capitalista, só importa o sucesso financeiro, não o humano. A maioria adora uma celebridade, de qualquer segmento, e ninguém quer saber se tal "famoso" ascendeu graças à mentira, ao tráfico de drogas, armas e almas. Por isso, a política e as religiões são as maiores culpadas. Aqui mesmo, perto de casa, em Brasília, na semana passada, uma cantora foi ofendida por um cliente, chamada de "macaca", e uma menina tirando dinheiro de um caixa de shopping próximo foi ultrajada por uma senhora atrás dela com termos do mesmo nível. O heavy metal é um repositório de clichês de fala, comportamentais e pretensamente musicais – ou seja, nada de diferente do mundo externo. E ainda insistem em chamar de contracultura... Desde que ajudei a fundar o movimento no país, vi, e acompanhei muito bem, o monstro crescer do berço até se corromper, se transformar no que supostamente combatia. Venho denunciando tudo isso há décadas, pelo menos desde os anos 1990, e literalmente cansei. Teve que rolar o caso da Prevent Senior em 2021 para a sujeira enfim vir à tona.

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Monophono: A raiva é um ingrediente em seu processo criativo? O quanto a música ajuda a domá-la?

Lopes: Raiva não... Mais indignação mesmo. Havia decidido parar de gravar com a Dorsal quando lançamos Canudos, em 2017. Ali estavam (e estão) as marcas e sugestões para um novo estilo de rock pesado brasileiro que sonhava há décadas, mas que somente nesse álbum consegui concretizar. Ficaria encantado se houvessem mais bandas desejosas de desenvolver uma cultura nacionalista/regional ao invés de sonhar com globalizações que somente descaracterizam os povos. Mas aí, após o Canudos, fui tratar da vida, e o Bozo, aquele mesmo, foi eleito. Até aí, fiquei indignado, mas tinha mais o que fazer. E veio a pandemia, em março de 2020. O cenário de terror, de negacionismo, se alastrou. O Brasil se revelando. As pessoas se mostraram como são de verdade. Minha indignação me cobrou: faça algo! O disco surgiu: letras, conceito, composições. Perguntei-me várias vezes se era uma viagem minha ou se poderia ser um álbum realmente relevante e revelador. Deixei que o público mais uma vez julgasse, através de campanha de financiamento – e me foi dado o sim.

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Monophono: Já que tocou-se no assunto, vou aproveitar: como você encontrou enfim um meio particular de expressar-se através do Heavy Metal, com ênfase em melodia/brasilidade?

Lopes: A Dorsal estava fadada a acabar na época do show no festival Monsters of Rock em São Paulo (1998). Nesse período, escrevi a biografia da banda - e da cena -, e gravamos o nosso único disco ao vivo oficial. Por querer continuar a compor, fundei duas novas bandas, a Usina Le Blond, focada em rock, MPB e soul, e também dei início à Mustang, mescla de música popular brasileira com pré-punk. Isso me aproximou mais e mais do Brasil e do rock que ainda me interessava. Já não escutava som pesado desde 1995, pelo menos. E ouvia MC-5, Turbonegro, Bowie, música africana, Cartola e Carmen Miranda. Então, em 2012, recebi um convite da produção do festival M.O.A. no Maranhão para fechar o evento, tendo como bandas de abertura o Exodus e o Anthrax. Negaram-se a pagar o cachê para voltarmos após 11 anos, então eu recusei. Mas o convite me chamou a atenção para um possível retorno, desde que não envolvesse shows. E uma vizinha, que havia acabado de fechar as portas de sua agência de publicidade, me falou sobre financiamento coletivo no exterior... Como eu já havia me arriscado, vamos dizer assim, em pedir apoio ao público para tocarmos no Monsters of Rock, acreditei que pudesse fazer parte de uma nova forma de interação artística no país, e dei as caras. Foi desafiador, mas deu muito certo e voltamos a gravar. Contudo, a Dorsal só poderia retornar renovada, cada vez mais brasileira, com todas as lições aprendidas com a Usina Le Blond e o Mustang. E assim, disco após disco (2012, Imperium, Canudos e Pandemia), o projeto de contribuir para o desenvolvimento de uma nova estética, desapegada do que ocorre no exterior, foi empreendido e bem-sucedido. E em 2022 comemoramos uma década deste retorno.

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Monophono: Historiografou-se primeiramente o passado (Imperium, Canudos), e agora, com Pandemia, o presente imediato. Qual a diferença para ambos os processos? A intensidade de estar no olho do furacão, ou a riqueza de dados de algo já documentado?

Lopes: Em 1981 quando prestei o vestibular, tive que escolher entre ser historiador, ilustrador, músico ou jornalista, e o jornalismo me pareceu mais fácil, porque eu queria mesmo era tocar, e a faculdade era uma desculpa para ter um diploma (minha mãe fazia questão do "canudo" para eu "não ser preso em uma cela comum"). Mas nunca abandonei o amor pela história do Brasil, pois, além de amar o país e sua cultura, sempre quis entendê-lo para me entender, para nos entendermos. O Brasil (vide o bozonarismo) é uma nação que pouco aprendeu com a própria história, permanece até hoje aliado a nazistas e escravocratas. É um país que poderia ser enorme, mas que se apequena em sua orgulhosa mediocridade. Os quarenta anos de carreira me ajudaram no quesito composição e produção a não seguir cartilha de ninguém. Discos como 2012 foram feitos rapidamente, entre duas semanas e um mês. Os dos anos 80 e 90 levavam anos para serem escritos. Mas isso não quer dizer que os trabalhos atuais sejam inferiores ou menos criativos do que o material composto no período dos shows ao vivo. É exatamente o contrário: os álbuns do retorno são independentes do mercado, e mais inventivos do que todos os que compus antes, sem tirar os méritos musicais e históricos de obras como Dividir e Conquistar e Searching for the Light.

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Confira a primeira parte completa desse bate-papo:
https://www.monophono.com.br/2021/11/29/pandemia-e-as-doencas-do-mundo-uma-conversa-com-carlos-lopes-guitarrista-vocalista-do-dorsal-atlantica/

FONTE: Monophono

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