A música do Anthrax que aborda a saúde mental de pessoas sem-teto
Por João Renato Alves
Postado em 07 de janeiro de 2025
Quarto álbum de estúdio do Anthrax, "State of Euphoria" (1988) trazia o Anthrax se aprofundado em temas líricos mais sérios, abordando questões políticas e sociais, além de criticar a exploração através da fé. Entre os destaques está a faixa "Who Cares Wins", que enfatiza a saúde mental de pessoas sem-teto.
Na letra, Joey Belladonna canta da perspectiva de um homem que se viu na rua e se sentia invisível para aqueles ao seu redor. Em uma entrevista de 2017 ao SongFacts, o baterista Charlie Benante elaborou sobre o conceito por trás da obra. Ele disse:
"Naquela época, estávamos começando a nos conscientizar sobre a situação dos moradores de rua na América. Lembro-me de ir tocar em Portland e, geralmente, nos dias de folga, eu ia a lojas de brinquedos ou lojas de discos, só para sair e explorar, ver o que poderia encontrar. E muitas vezes, eu via toneladas de moradores de rua. Em todos os lugares. E naquela época, você realmente nunca se aprofundava em toda a questão da doença mental que também estava acontecendo, ou o vício em drogas, ou como esses eram veteranos que foram basicamente jogados de lado. Agora eram apenas parte da sociedade e não estávamos cuidando deles.
Sei que esse problema ainda existe, porque acabei de ir a Portland e vi de novo em primeira mão. Não sei por que estou pegando no pé de Portland, só acontece de estar na minha mente porque acabei de voltar de lá. Estávamos em Los Angeles, e eu estava nesta área onde fica o Teatro Wiltern. Há uma enorme seção de moradores de rua. É difícil para mim descobrir hoje em dia como nós ainda temos um problema enorme com isso - a economia, o abuso de drogas, a doença mental. Falamos sobre isso, mas acho que nunca realmente consertamos. É um problema contínuo e acho que provavelmente sempre estará aqui."
Apesar de não ter sido lançada como single, "Who Cares Wins" ganhou um videoclipe. A obra foi dirigida por Paul Rachman e mostra imagens de moradores de rua na cidade de Nova York. Inicialmente, a MTV não quis exibi-lo. Mas quando Phil Collins lançou um vídeo forte para "Another Day in Paradise" com imagens semelhantes de moradores de rua, veio a mudança de ideia.
Disse Rachman ao SongFacts: "Essa foi uma ideia nova. Eu estava gravando um vídeo do Method of Destruction - era um pequeno vídeo ao vivo. Eles estavam na mesma gravadora, Megaforce, pela Island Records. Tinham o mesmo empresário, Johnny Z. Os caras do Anthrax estavam lá. Eles já tinham decidido me contratar para 'Who Cares Wins', queriam trabalhar comigo.
A ideia do conceito foi da banda. A situação dos sem-teto está terrível agora de novo, mas nos anos 80 era ainda pior. Eles estavam em todo lugar, era intenso. Nova York não tinha se recuperado totalmente da crise fiscal e do crime do final dos anos 70. Ainda estava emergindo lentamente disso. Os tumultos da Tompkins Square aconteceram naquela época. A Union Square foi fechada porque havia se tornado uma cidade sem-teto. Eles cercaram a Union Square com uma cerca gigante de arame e a fecharam com tábuas só para manter as pessoas fora até que pudessem renovar o local. A gentrificação estava começando e realmente espremendo os sem-teto. Em "Who Cares Wins", o Anthrax realmente queria mostrar o problema."
Esse foi um vídeo difícil, porque não é uma história fácil de contar. É uma história triste - não é como feliz, legal, vamos agitar. É um problema sério, é uma música séria, e eu tratou dessa forma. Então, tinha um coração sombrio, aquele vídeo, em vez de talvez um coração esperançoso."
Além das faixas autorais, o tracklist de "State of Euphoria" contava com uma versão em inglês para "Antisocial", da banda francesa Trust. Lançada como single, se tornou o principal sucesso do disco.
Também há duas referências respectivamente literárias e cinematográficas: "Misery Loves Company" é baseada em "Angústia", de Stephen King. Já "Now It’s Dark" busca inspiração em "Veludo Azul", de David Lynch.
Chegou ao 30º lugar no The Billboard 200, principal parada americana, ganhando disco de ouro. Apesar do resultado, os próprios integrantes da banda já declararam considerá-lo um trabalho "feito às pressas", para surfar na onda do sucesso de seu antecessor, "Among the Living" (1987).
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps