Como os punks fizeram Pete Townshend compreender que ele estava enganado
Por Bruce William
Postado em 29 de junho de 2025
Nos anos 1960, Pete Townshend escreveu a frase que marcaria o espírito rebelde do rock: "I hope I die before I get old" ("espero morrer antes de envelhecer"). Anos depois, já com mais de trinta, viu essa máxima virar um peso. Em plena ascensão do punk, percebeu que havia criado sem querer uma espécie de armadilha geracional, e que agora ele mesmo era o alvo.
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Townshend admite que o impacto do punk foi direto. "A coisa sobre o punk é que eu senti que eles tinham roubado meu maldito manifesto." Não se trata apenas da sonoridade crua ou da atitude agressiva: era o sentimento de estar por fora daquilo tudo. Apesar disso, ele se dava bem com alguns nomes da cena. "Conversei com o John Lydon recentemente e ele só teve coisas boas pra dizer. E ele está certo: o único problema que eu tive com o punk foi não poder me envolver com ele como me envolvi com o mod."
Faltou tempo - e talvez timing. Pete tentou produzir bandas do pós-punk e da era New Romantic, como Steve Strange, mas não funcionou. Ainda assim, guarda respeito por muitos dos envolvidos, inclusive Lydon, conforme revelou em conversa com a Classic Rock. "Gosto muito dele. Pessoalmente, é bem melhor do que às vezes parece, e muito claro nas ideias." E quando fala sobre a morte de Nora, esposa de Lydon por 44 anos, o tom é comovente: "Ele é um típico inglês que encontrou o amor da vida dele. E de repente ela se foi. E ele ainda tem muitos anos pela frente."

Questionado se ficou surpreso ao ver o abismo geracional se abrir em 1976, Townshend foi direto: "Fui um dos que contribuíram pra isso, sem querer, com aquele verso 'I hope I die before I get old'." A frase, imortalizada em "My Generation", virou ironia pronta quando os novos garotos começaram a olhar para os veteranos como dinossauros fora de lugar.
Ele também reconhece que, até aquele ponto, ninguém sabia o que esperar de uma carreira no rock. "Alguns dos artistas que a gente amava, especialmente do blues e do jazz, ainda estavam em turnê nos cinquenta, sessenta anos. Era tanto sobre o público quanto sobre as bandas." Mas com o punk, o público rompeu de vez com o sistema da música pop, e isso mudou tudo.

Apesar da rebeldia que se pregava, Townshend viu no punk uma contradição curiosa: os músicos de verdade estavam nos bastidores. "Os jovens músicos só queriam fazer música, ficar famosos e ganhar a vida. É simples. Alguns queriam mais, e quando conseguiam percebiam que não era o que pensavam." Sobre o The Damned, banda pioneira do punk britânico, ele lembra: "Usavam meu estúdio em Isleworth. Fiquei surpreso de como eram bons músicos, porque se supunha que não deveriam ser."
No fim, Townshend conclui que o movimento nasceu mais do público e da indústria do que dos próprios artistas. E que o espírito de rebeldia às vezes vinha de um lugar estreito, concentrado em poucos rostos da King’s Road, que insistiram em manter o controle "até a morte, em alguns casos". Ele também refletiu sobre o envelhecimento no meio artístico, citando seu amigo Mick Jagger: "Fico me perguntando se ele realmente se importa de ter um terreno em Mustique pra passar o Natal, ou se preferiria jantar com os amigos em Londres. Porque eu sei o que eu quero. Eu quero estar aqui."

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