Como Beethoven influenciou no nascimento de Ziggy Stardust
Por Emanuel Rossetto Silva
Postado em 05 de junho de 2025
David Bowie incorporou muitos aspectos e referências de Beethoven na criação de Ziggy Stardust: a personalidade forte, a atitude desafiadora e, principalmente, o amor por astronomia e música unindo, assim, duas personalidades de forma notável. Bowie era um grande admirador de Beethoven; não por acaso fez essa homenagem. Em 1973, num espetáculo no Hammersmith Odeon, Bowie "mata" Ziggy no palco e encerra esse ciclo. Assim, o reflexo de Bowie, Ziggy Stardust, é definitivamente aposentado.
"The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars" é considerado, sem sombra de dúvidas, uma obra-prima da música. Nesse álbum, David Bowie provou que não é apenas um cantor, e sim um artista completo. A criação e a encarnação da persona Ziggy Stardust foram essenciais para a catarse mundial que estava por vir na década de 70, deixando um legado que permanece influente até os dias de hoje.


Ziggy Stardust, um alter ego, metade alienígena e metade humano, um rockstar andrógino vindo para a Terra com o objetivo de salvar a música, vivenciando o fim do mundo e a ascensão e decadência que a fama pode proporcionar.
Para a criação de Ziggy, Bowie reuniu diversos elementos que ajudaram a compor a personalidade desejada, atribuindo referências da astronomia, da literatura e da cultura pop. Personalidades como Lou Reed, Iggy Pop, H. G. Wells e Johannes Kepler foram de suma importância. Grande parte da estética visual de Ziggy foi influenciada pela cultura kabuki japonesa, que teve um papel fundamental na construção dos figurinos e do estilo performático adotado por Bowie, ajudando a dar vida ao personagem. Contudo, o que muitos não sabem é que a música erudita também esteve presente nesse espetáculo, em especial Ludwig van Beethoven.

Considerado um dos maiores músicos clássicos, Beethoven teve sua vida marcada por uma atitude "rock n’ roll". Desde sua criação problemática com seu pai bêbado, criou uma personalidade única, um cara antipático, maltrapilho e obcecado, um dos primeiros artistas a usar a música não só para entretenimento, mas também para transmitir emoções e estados de espírito. Aos 27 anos, assumiu sua surdez ao mundo, mas não parou por aí; sua paixão pela música era tão significativa que pôde mostrar para todos novamente que ele não era um músico qualquer: Beethoven era um gênio.
J. W. N. Sullivan, renomado escritor de ficção científica e autor de um estudo sobre Beethoven, refletia profundamente sobre o vínculo do compositor com temas espaciais: "desespero alienígena… uma angústia remota e gelada lamentando sobre um destino implacável […] como uma memória de uma antiga noite da alma, um céu sem estrelas". Beethoven parecia ter uma conexão extraplanar, como se estivesse no mundo com um propósito superior.

Já com mais de 50 anos de idade, atormentado por preocupações financeiras e mentais, Beethoven aceitou, por 50 libras, retornar à Inglaterra e transcrever, em forma de música, o poema alemão escrito por Friedrich Schiller, "An die Freude" (Ode à Alegria), que expressava ideais de liberdade e irmandade universal, dando origem à sua célebre Nona Sinfonia. Esses temas coincidem com características de Ziggy, cuja Nona foi utilizada como tema de entrada no palco.
A ideia de um mundo à beira do colapso ecoa a mesma tensão épica que Beethoven capturava em suas obras, especialmente nas sinfonias mais dramáticas, que revelam tanto sua filosofia quanto sua personalidade.
FONTE:
Livro David Bowie - A Construção de Ziggy Stardust

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