O dia em que Steve Vai descobriu, estarrecido, por que Allan Holdsworth era "de outro planeta"
Por Bruce William
Postado em 07 de setembro de 2025
Steve Vai foge da miséria ao usar adjetivos quando fala de Allan Holdsworth. Para o guitarrista, a genialidade do colega britânico era tamanha que nem ele mesmo conseguia explicar ou transcrever direito o que fazia. Em conversa com Billy Corgan, com transcrição do Ultimate Guitar, Vai recordou a ocasião em que foi chamado para ajudar Holdsworth a organizar suas ideias em um livro.


Segundo Vai, o britânico possuía uma linguagem musical completamente própria, sem se preocupar com as regras tradicionais. "Allan não conhecia a música tradicional. Ele tinha seu próprio vocabulário, sua forma de construir acordes e de entender como eles se encaixavam no braço da guitarra", explicou. O trabalho de transcrição, em vez de ser apenas técnico, acabou sendo um mergulho na mente de alguém que pensava diferente de todos os outros músicos.

O norte-americano lembrou que Holdsworth sequer sabia como passar suas ideias para a notação musical. "Ele não entendia como traduzir aquilo para o papel. Eu ajudava, mas, no processo, reconheci alguém que parecia viver em outra lógica. Era como deixar pessoas em uma ilha deserta com algumas ferramentas, e os realmente brilhantes constroem coisas. Foi isso que Allan fez", afirmou.
A experiência deixou Vai convencido de que Holdsworth não poderia ser comparado a outros guitarristas de sua época. Enquanto muitos nomes do jazz e da fusão se apoiavam em fórmulas prontas, Holdsworth explorava caminhos próprios, ainda que sua música soasse estranha para ouvidos pouco atentos. "Pra muita gente, parecia um monte de notas aleatórias. Mas, para quem conectava os pontos da teoria e da melodia, fazia todo o sentido", explicou.

Vai aproveitou para criticar o que chamou de "jazz formulaico": músicos que conhecem escalas e arpejos, mas tocam de forma automática, sem alma. "O resultado são arpejos rápidos, mas sem vida. Tudo mental, nada vindo de um lugar realmente inspirado", disse. Para ele, Holdsworth representava exatamente o oposto disso: ele era alguém que conseguia criar algo único, intenso e espiritual.
As frases e acordes de Holdsworth criavam atmosferas quase etéreas, que marcaram profundamente guitarristas de jazz, mas também deixaram rastros no rock e no metal progressivo. Sua forma única de pensar harmonia e melodia abriu horizontes para músicos de diferentes estilos.
Não por acaso, nomes como Eddie Van Halen, Alex Lifeson, Kiko Loureiro e até o próprio Vai sempre fizeram questão de reconhecer a importância do britânico. Para Steve, ajudar Allan a colocar suas ideias no papel foi mais do que um trabalho: foi uma aula de como a genialidade pode se manifestar fora de qualquer manual.

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