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Kiss: Se Bruce Kulick fosse um personagem, seria o cachorro

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Fonte: Daniel Tavares
Postado em 04 de março de 2016

Bruce Kulick, ex-guitarrista do KISS, está no Brasil esta semana para quatro shows em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. O músico se apresenta ao lado da banda PARASITE tocando os maiores sucessos da sua época com o KISS, de 1984 a 96, uma época em que a banda não usava as suas características máscaras e rendeu álbuns como "Hot In The Shade" e "Revenge", além dos álbuns ao vivo "Alive III" e "MTV Unplugged". Conversei com Bruce sobre vários assuntos (claro que, indo e voltando, falávamos sobre o KISS) em uma entrevista que você confere logo abaixo.

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Daniel Tavares: Oi, Bruce. Você pode nos dar alguma dica de como vão ser esses shows?

Bruce Kulick: Bem, sabe, é muito difícil pra mim planejar viagens, na verdade, porque eu toco regularmente com o GRAND FUNK RAILROAD, mas há um pequeno intervalo se aproximando na agenda da banda e eu consegui encaixar com um convite para vir ao Brasil com algumas pessoas que já tocaram com o Vinny Appice antes. Então, eles estavam tentando me trazer aí e fazer alguns workshops, shows, alguma coisa. Infelizmente eu só poderia me comprometer com quatro shows devido a quantidade de tempo que tínhamos para planejar. E então nós percebemos que, pra mim, fazer algo como workshops, com uma trilha de fundo... seria mais interessante para as pessoas que eu tivesse uma banda... Eu não tenho uma banda nos Estados Unidos, então eles me sugeriram que existe aí uma banda cover incrível do KISS, chamada Parasite, que poderia ser minha banda de apoio e eu concordei com isso. Eu vou me encontrar com os caras quando chegar ao Brasil e vou fazer os quatro shows com eles. Usualmente é muito divertido. Eles aprendem um pouco mais de mim que a maioria das bandas tributo sem mim, se é que você me entende, porque eu sou capaz de passar as canções de uma forma bem específica com eles. E quanto aos fãs, eles vão realmente gostar de me ver sentado ali tocando canções da minha época. O KISS significa tanto no Brasil. Sempre foi muito notável pra mim o quão popular a banda é.

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Daniel Tavares: Você já viu fãs mais malucos que os da América do Sul?

Bruce Kulick: Provavelmente não. Eu sei que na época que viemos ao Brasil quando eu estava no KISS, quando fizemos o Monsters of Rock em São Paulo, foi muito, muito memorável. Eu realmente gostei. E apenas acho que os fãs são super-super-apaixonados.

Daniel Tavares: Você e o Mark St. John são os dois únicos integrantes do KISS que nunca usaram maquiagem. Eu gostaria de saber se você sentiu falta disso. E se você por acaso fosse usar, o que seria, como seria? Seria o Spaceman ou alguma outra coisa.

Bruce Kulick: Bem, eu sempre faço brincadeiras por causa disso. Fico um tanto orgulhoso. Você tem que lembrar que a banda não usou maquiagem por 12 anos. E eu estava lá na maior parte deste tempo, sabe. Desde o "Lick It Up", nas seções de fotos do "Animalize", eu toquei um pouco de guitarra nele. Eu costumava brincar que, se eu precisasse de um personagem, como eles já tem um gato, eu seria o cachorro. Isto é tudo. [risos] Mas, o que dá pra perceber é que, uma vez que atingimos um certo ponto, e Tommy e Eric foram convidados para estar na banda, sabe, ficou muito óbvio para Gene e Paul que eles deveriam usar as maquiagens dos personagens originais.

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Daniel Tavares: Você acha que este período na história do KISS é subestimado de alguma forma? Você concorda com quem fala que a musicalidade e o compromisso dos quatro membros da banda nunca foram tão altos quanto naquele tempo? E também que a competição com os virtuoses daquele tempo, como Eddie Van Halen e Malmsteen, contribuíram para tudo isso?

Bruce Kulick: Eu realmente acho que minha era com o KISS foi, antes de tudo, de muito sucesso. Nós sempre tivemos consistentemente discos de ouro e de platina, as turnês, algumas são maiores que as outras, mas todas elas foram bem recebidas onde quer que estivéssemos. Parecia que nós éramos muito populares. Não vou negar que haviam outras bandas que eram, às vezes, até maiores que o KISS, sabe. Isto é justo dizer. Bandas como o VAN HALEN eram uma delas. E até o BON JOVI se tornou super-super-popular. Mas quando você pensa na longevidade do KISS e pensa na minha era com a banda, nós consistentemente tínhamos aqueles discos de ouro e platina e todos os vídeos que apareceram. E em todas as turnês fomos bem recebidos. Eu realmente não diminuo a importância de forma alguma da era sem maquiagem. Eles não fazem a maioria daquelas canções hoje porque, da era sem maquiagem pra cá, muitas delas não encaixam mais no que eles fazem, algumas são difíceis para eles. Mas eu acho que aquele material é muito importante para a história da banda e extremamente popular.

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Daniel Tavares: Ok. Você agora está no GRAND FUNK RAILROAD. A banda também lançou grandes álbuns nos anos 70. Ela vai algum dia gravar alguma coisa nova?

Bruce Kulick: Eu gosto de pensar que iremos. E infelizmente, sabe, para o Don e para o Mel, eles realmente gostam do fato de que todos os nossos shows vão bem, nós esgotamos os ingressos em todos os lugares em que tocamos, a banda tem sido ótima. É o meu décimo-sétimo ano com eles. É realmente decisão deles se nós gravamos um DVD, se lançamos alguma coisa. Houve tempos em que discutimos sobre isso, mas não foi para lugar algum, mas, eu sei que seria ótimo, mas é realmente decisão deles.

Daniel Tavares: Eu sei que seus últimos álbuns "BK3" e "KKB", que você resgatou do seu passado, todos eles foram lançados a uns cinco anos. Você tem planos de lançar algo novo seu num futuro próximo?

Bruce Kulick: Sim, eu tenho falado com algumas pessoas com quem eu gostaria de trabalhar com músicas este ano. Eu sei que tem sido um longo tempo. Acredite em mim, eu tenho plena ciência disso. Sabe, devido às mudanças no negócio de música, eu sempre estou fazendo shows e trabalhando, não dá pra ficar sentado por aí buscando inspiração. Eu estou muito ocupado. Tem sido um problema encontrar o comprometimento exato, que direção eu iria abordar um novo álbum. É um desafio. Toda vez que eu tento fazer algo, que tenha o meu nome no título do disco, ou do projeto, existem muitas coisas envolvidas. Em tudo que eu ponho meu nome eu tenho cuidado. Eu não simplesmente avanço em alguma coisa apenas para ter algo lançado. Mas estou pensando nisso. Esteja certo disso.

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Daniel Tavares: Você participou do último álbum do AVANTASIA, "Ghostlights", e eles vão estar aqui no Brasil em abril. Eu tive a chance de falar com o Tobias [Sammet] semana passada. Você vai voltar ao Brasil com eles em abril?

Bruce Kulick: Sabe, eu nunca fiz um show ao vivo com ele. É tão engraçado que eu, sabe, eu estava olhando no Twitter e o DEE SNIDER é uma das pessoas que eu sigo e ele me segue e eu o vi fazendo um comentário: "eu não sabia que eu iria estar lá com o AVANTASIA. Onde é que diz isso?". E ele participa do álbum também. Eu acho que o que acontece é que a Nuclear Blast, que é o selo que ajuda a promover o AVANTASIA, desde que o AVANTASIA é um projeto, mesmo que, certamente, todo mundo saiba que é realmente uma coisa do Tobias Sammet, eu acho que as pessoas ficam confusas com quem pode ir nas turnês e quem aparece nos discos. Porque logo que começamos a discutir o álbum eu estava sendo perguntado pelos meus fãs: " então você está vindo?" E eu: "Nããão. Eu vou estar na mesma época fazendo shows com o GRAND FUNK. Sabe, eu sinto muito, eu não vou estar aí em abril. Eu adoraria fazer um show com o Tobias, eu acho que ele é incrivelmente talentoso, eu sei que ele tem uma grande banda, que não sai em turnê com nada embaraçoso, são pessoas realmente incríveis. Mas eu acho que é difícil para ele sair em turnê com alguns dos convidados especiais que ele consegue para os seus discos. Então, você não é o único a ficar confuso. Muitas pessoas ficam. Você não é o único. [Risos] Eu me sinto realmente orgulhoso que ele tenha me convidado pra fazer todos esses álbuns foi realmente muito bom fazer os três últimos tocando guitarra em algumas faixas.

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Daniel Tavares: Ok. Vamos voltar para o KISS. Eu vou fazer uma questão difícil. A voz do Paul Stanley não é a mesma hoje. Você acha que é hora para ele ter algum descanso, ou, talvez, em alguns anos, porque ele mesmo já afirmou que um dia chegará em que ele e o Gene terão que ser substituidos, como o Ace já foi, por exemplo, para manter o KISS vivo? Você acha que isso é possível?

Bruce Kulick: Sabe, a respeito do que eles podem fazer, se eles podem apenas licenciar o nome, e nenhum membro original estar na banda, eu sei que eles já falaram sobre isso. Eu não sei como isso poderia acontecer realmente, mas eu sei que, às vezes, eles pensam na banda como algo maior que as pessoas. É uma marca, você entende o que eu digo? E muitos grupos sofrem com isso, o KISS, os STONES, com ter que ser capazes de cantar como eles faziam nos seus tempos mais jovens, mas, esta é mais uma das razões porque eu acho que o KISS se distancia da minha era. Eu acho que alguns dos vocais eram mais desafiadores. Em canções como "Forever" e algumas outras, os vocais eram muito, muito altos. Mas eu não sei qual o melhor caminho para eles. Eu não acho que eles devam parar se eles ainda tem a motivação, se os fãs ainda quiserem vê-los. Sobre o que o futuro reserva para eles, eu não posso predizer. Eu realmente não posso.

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Daniel Tavares: Um amigo meu, Nacho Belgrande, me contou que o "Unplugged" de 1995 está disponível por aí como um bootleg em um disco duplo, com muito material que não saiu no CD ou no VHS. Você tem alguma ideia se esse material vai algum dia ser mixado e masterizado e posto à venda regularmente?

Bruce Kulick: [Risos] Bem, provavelmente não. Eu quero dizer, o que quer que provavelmente saiu nos vídeos da "Kissology"...eu acho... eu sei que os outtakes saíram na forma de bootlegs, em versões malucas, com Gene esquecendo algumas letras, conosco fazendo algumas versões country malucas de alguma canção..."War Machine" ou "God of Thunder", eu não consigo me lembrar. Mas eu não acho que a banda vai necessariamente lançar isso. Eu também nem estou realmente certo de que isso seja propriedade apenas do KISS ou seja propriedade da MTV também. Eu também não estou bem certo de como o negócio por trás daquele produto possa ser manejado de alguma forma, mas, os fãs parecem ter suas formas de encontrar isso de todo jeito. Vá ao Youtube. Você provavelmente vai encontrar isso lá.

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Daniel Tavares: Nós estamos chegando ao final desta entrevista. Esta é uma questão que eu faço para todos os meus entrevistados. Existe algum artista brasileiro que você goste ou que tenha tido alguma influência na sua música ou no seu estilo de tocar?

Bruce Kulick: Eu tenho muito respeito por Andreas, do SEPULTURA. Eu me encontrei com ele algumas vezes. Ele é um cara muito legal. Ele, na verdade, até fez um jam comigo uma vez em São Paulo e é um grande fã do KISS. Pra ser bem honesto, além disso eu sei que vi muitos músicos talentosos do Brasil. Em Los Angeles tem uns anúncios falando das Olimpíadas de verão no Brasil, sabe. E a trilha sonora daquele comercial na TV dos Estados Unidos é realmente muito percussiva, mais incrivelmente percussiva que qualquer coisa. Os brasileiros tem muito habilidade musical e eu sei disso, mas, além da minha relação com o Andreas eu não estou familiarizado com qualquer outro artista brasileiro pra te dizer, oh, essa banda. Eu sinto muito.

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Daniel Tavares: Ok. Sem problema. Você gostaria de deixar uma mensagem para os fãs no Brasil, especialmente para aqueles que vão ouvir você na Metal Militia ou ler estar esta entrevista e principalmente para aqueles que vão comparecer a algum dos quatro shows?

Bruce Kulick: Oh, eu quero que eles saibam que, primeiro de tudo, eu realmente sempre apreciei o entusiasmo que todos eles tem, a excitação que eles tem com minha música, com minha guitarra, com o fato de que aquele breve período que eu estive no Brasil com o KISS tenha significado tanto para tanta gente. E que a lenda, tipo, se perpetua, porque em minhas outras viagens para o Brasil eu encontrava fãs muito jovens, que não tinham nem nascido quando eu estava no KISS, e eles estavam tão excitados para me encontrar que eu realmente não consigo te dizer o quanto isso significa pra mim, como pessoa que ama a música e toca guitarra, que eles reconheçam algo sobre a minha carreira de um tempo em que eles nem tinham nascido... É muito tocante para mim. Então, eu quero agradecê-los e espero encontrar muitos dos meus amigos no Brasil também. Eu fiz muitos amigos aí e sei que vou vê-los, mas os fãs são a razão de eu ser capaz de voltar, então eu realmente quero me apresentar para eles e gostaria de agradecê-los agora, por toda a excitação que eu tenho lido online e eu não posso esperar para encontrar todos eles pessoalmente muito em breve.

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Confira o serviço completo para os quatro shows na matéria abaixo.

Agradecimentos: Nacho Belgrande, pela consultoria na elaboração da pauta.

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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