Sepultura: Guerra e Religião na análise da música "Arise"
Por Rodrigo Lourenço Costa
Fonte: Blog HM - História e Metal
Postado em 05 de janeiro de 2014
Como dito anteriormente, o Sepultura escreve sobre o tema "Guerra Religiosa" em duas canções entre o fim dos anos 80 e início dos 90. Já comentamos sobre "Mass Hypnosis" e agora falaremos de "Arise", faixa do disco homônimo de 1991, que elevou a banda a um patamar de excelência nunca antes alcançado por uma banda brasileira no cenário da música (para muito além do gênero Rock/Metal) mundial. (JANOTTI JR, 2004, p.42).
Arise
Sepultura – Album: Arise (1991)
Obscured by the Sun
Apocalyptic Clash
Cities fall in ruin
Why must we die?
Obliteration of mankind
Under a pale grey Sky
We shall arise
I did nothing, saw nothing
Terrorist confrontation
Waiting for the end
Wartime conspiracy
I see the world, old
I see the world, dead
Victims of war, seeking some salvation
Last wish, fatality
I've no land, I'm from nowhere
Ashes to ashes, dust to dust
Face the enemy
Manic thoughts
Religious intervention
Problems remain
Surgir
Obscurecido pelo Sol
Estrondo apocalíptico
Cidades virando ruínas
Por que temos que morrer?
Obliteração da raça humana
Debaixo de um céu cinzento
Nos vamos surgir
Eu não fiz nada, não vi nada
Confronto entre terroristas
Esperando pelo final
Tempos de guerra, conspiração
Eu vejo o mundo velho
Eu vejo o mundo morto
Vitimas da guerra, buscando uma salvação
Último desejo, fatalidade
Eu não tenho terra, eu sou de lugar nenhum
Das cinzas as cinzas, do pó ao pó
Encare o inimigo
Pensamentos maníacos
Intervenção religiosa
Problemas continuam
Max Cavalera, vocalista e principal letrista da banda na época, definiu o mote geral da canção da seguinte maneira em entrevista à revista holandesa Aardschok / Metal Hammer em Abril de 1991: As letras de 'Arise' são realmente up-to-date, porque é sobre como as pessoas estão prontas para matar outras pessoas só porque eles acreditam em um tipo diferente de Deus. acho que a minha voz soa especialmente agressiva nessa música, muito como em nossos álbuns mais antigos. (fonte: site Song Facts, 2008)
A definição realmente não poderia ser mais apropriada.
A primeira linha leva o ouvinte a experimentar um sentimento de confusão, através do uso da antítese contida em "Obscured by the Sun", e a imagem mais próxima que podemos fazer está nos desertos do oriente médio, onde o sol reflete tão fortemente na areia que queima os olhos e obscurece a visão. Este início cria o cenário onde se desenvolverá a narração.
A música segue, descrevendo uma terra arrasada em "Cities fall in ruin / Why must we die?", e também oferece ao ouvinte o relato de pessoas que estão no meio do conflito, e provalmente, estão tentando fugir.
O refrão, entretanto, busca a esperança e racionalidade em meio ao desespero da guerra: "Obliteration of mankind / Under a pale grey sky / We shall arise". O uso de uma palavra incomum "obliteração", está ligada, não só ao ritmo que as sílabas provome à parte melódica, mas também à uma ideia que é uma operação de pensada para cegar a a humanidade por dogmas.
A estrofe "I did nothing, saw nothing / Terrorist confrontation / Waiting for the end / Wartime conspiracy" traz mais clara a imagem do eu poético, que fala que não fez nada, não disse nada, mas está em meio ao confronto de terroristas e suas ideologias. E exemplifica muito bem o que as pessoas viam nos noticiários da época, e de como o medo dos ataques terroristas substituem o medo da Guerra Nuclear na mente do homem comum, após o fracasso do Comunismo e Capitalismo a todo custo. (HOBSBAWN, 1995, p.538-542)
Como uma das características mais marcantes das melodias do Sepultura nesse período, nós temos um bridge onde há uma quebra brutal no andamento da música, e há um destaque para a vocalização das palavras, com entonação destacada para a última em cada frase: "I see the world, old / "I see the world, dead". Esse recurso aumenta a dramaticidade do tema, e coloca o ouvinte em contato direto com a psique do eu poético, e seu desespero diante do mundo tomado pelo conflito.
A questão do problema dos refugiados da guerra religiosa se cristaliza em "Victims of war, seeking some salvation / last wish, fatality / I've no land, I'm from nowhere /Ashes to ashes, dust to dust", escancarado quando diz "não tenho terra, sou de lugar nenhum", e logo podemos fazer qualquer paralelo de conflitos que se multiplicaram principalmente entre islâmicos radicais, judeus e minorias (como os curdos) nas mais diversas partes do mundo. E o final da estrofe trás uma referência religiosa, mostrando ainda a crença do eu poético, pois vê de ele não é nada, pois do pó veio e ao pó retornará.
A canção termina com os versos "Face the enemy /Manic thoughts /Religious intervention /Problems remain", em que se percebe que a questão religiosa tem aflorado uma série de conflitos que não se resolvem, principalmente no dito "Terceiro Mundo", onde a violência e a intolerância explodem de maneira extrema, que foram ocultadas pela imposição da força das potências durante o período da Guerra Fria (HOBSBAWN, 1995, p. 421-446). A frase "problemas continuam" é a conclusão perfeita
A música tem sua introdução, com um barulho estranho e tambores, que passam a sensação de alucinações. As guitarras,a bateria e o baixo entram todos numa avalanche sonora, num ritmo frenético, com a predominância dos riffs rápidos e secos junto com o som das batidas rápidas da caixa da bateria. A vocalização gutural arremata o clima raivoso da música. Há uma rápida quebra no andamento para o bridge, mas a música retorna ao seu andamento até o final.
Como nota importante, a ideia reforçada pelo vídeo clipe da canção, que mostra um Jesus crucificado usando uma máscara contra ataques de bombas de gás.
Para finalizar esta análise, o última frase da canção resume, define e projeta uma situação acerca das guerras religiosas: os problemas contiuam.
Referências:
ARIÓSTEGUI, Júlio. A pesquisa histórica: teoria e método. Bauru(SP): Edusc,2006.
CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx,2010.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995
JANOTTI JÚNIOR, Jeder. Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização. Rio de Janeiro: E-papers, 2004
NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2005.
http://www.songfacts.com/detail.php?id=20008
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