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Resenha - Gates of Fire - Manilla Road

Por Diogo Muniz
Postado em 07 de dezembro de 2020

Tem um ditado que diz que "se está fácil tá errado", e esse ditado se aplica bem para algumas bandas, pois manter uma banda nunca é tarefa fácil. Mark Shelton sabia disso muito bem, e mesmo com todos os percalços ele se manteve impávido à frente do Manilla Road. Desde que a banda retomou as atividades no inicio dos anos 2000, as coisas pareciam estar fluindo bem com a banda reestruturada como um quarteto, mas nos bastidores haviam problemas pessoais de Mark Shelton (sobretudo o seu divorcio na época) que acabaram por interferir negativamente no bom funcionamento das coisas. Isso tudo ocasionou na saída de Mark Anderson e Scott Peters (baixo e bateria respectivamente) da banda. Felizmente essa situação não durou muito tempo e logo foram recrutados para a cozinha Harvey Patrick e Cory Christner. Harvey Patrick além de baixista é o irmão do vocalista Bryan Patrick, e ele já havia tocado esporádica e não oficialmente com o Manilla Road no inicio dos anos 2000, e isso tudo ajudou no entrosamento do grupo. O jovem Cory Christner (na época com vinte anos de idade) assumiu as baquetas de maneira muito competente, um baterista digno para ingressar no Manilla Road. Agora com sangue novo, não tardou para a banda entrar novamente em estúdio, e dessa vez eles saíram com o brilhante "Gates of Fire", uma verdadeira obra de arte conceitual cuja proposta já é apresentada logo na capa. Três triângulos de fogo ilustram os três conceitos históricos/mitológicos trabalhados no disco – sim, caro leitor, o disco trabalha como um todo essa ideia de trilogias, uma sacada muito inteligente de Mark Shelton e Cia.

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A primeira trilogia do disco se chama "The Frost Giant´s Daughter", e aborda a historia de um guerreiro nórdico que se apaixona pela filha de um gigante do gelo. Tendo essa primeira temática apresentada o disco abre com "Riddle of Steel", que já começa como uma pedrada na cara do ouvinte, mostrando que a banda está afiada e sedenta por fazer música pesada de qualidade. Aqui temos os vocais de Bryan Patrick e Mark Shelton bem divididos. É interessante notar que a voz de Mark Shelton deu uma envelhecida, dando um contraste interessante com a voz de Bryan Patrick que alterna vocais guturais e agudos. Uma excelente faixa de abertura.

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"Behind the Veil" é uma balada entoada inteiramente por Mark Shelton que com seu canto e violão tenta desvendar a figura da filha do gigante de gelo que se esconde por trás do véu de mistérios. Uma belíssima canção.

Com riffs cortantes temos "When Giants Fall", que tem um refrão bem para cima, ainda continuando a saga do eu lírico em busca de sua amada. A música é dessas que empolga e que não deixa o ouvinte parado. Vale a pena destacar os versos finais que são uma repetição (muito bem sacada) do ultimo verso de "Flaming Metal System" (música do disco "Crystal Logic" de 1983). O que poderia ser um tiro no pé se transforma em uma boa ideia, pois é algo que estabelece uma ligação com o passado da banda e pega o ouvinte de surpresa de maneira cativante.

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A épica "The Fall of Illiam" introduz a segunda trilogia de narrativas, entitulada "Out of the Ashes". Dessa vez temos como tema as historias da mitologia Greco-romana. "The Fall of Illiam" é literalmente uma canção épica, pois narra ao longo de seus quatorze minutos a historia da guerra de Troia. Por ser a música mais longa do disco, é por consequência uma das mais trabalhadas, possuindo dois refrões entoados de maneira visceral por Mark Shelton.

Em "Imperious Rise" temos uma música pesada cuja narrativa é a criação de Roma. Nessa música é Mark Shelton que assume os vocais, com interpretações épicas e agressivas de acordo com o que as variações da música pede.

"Rome" é a canção que encerra o ciclo Greco-romano do disco. Um pouco mais cadenciada, mas ainda assim mantendo a agressividade e o peso. Nessa música os vocais de Mark Shelton e Bryan Patrick se dividem de maneira bem balanceada. Essa é outra canção longa e de estrutura mais complexa. Vale a pena destacar também que um dos refrões de "The Fall of Illiam" se repete aqui, estabelecendo uma relação de continuidade existente não só entre as músicas em si mas também das culturas entre os povos helenos e romanos.

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"Stand of the Spartans" já nos entrega logo em seu título a temática da terceira trilogia do disco – a lendária história dos trezentos guerreiros espartanos contra as hordas persas lideradas por Xerxes; e essa trilogia leva o titulo do disco. Aqui temos uma música mais direta e com uma estrutura de verso e refrão mais simples, mas nem por isso deixa de ser uma música boa de se ouvir.

Com uma introdução violenta de bateria temos "Betrayal", uma música mais arrastada cuja sonoridade se aproxima de um doom metal muito bem feito. Essa levada mais arrastada combina com a letra, pois é como a sensação de pesar e amargura que o eu lírico da canção sente ao ser traído por um de seus supostos aliados. Do ponto de vista técnico é muito bem executada, com todos os músicos entregando peso e técnica ao longo da canção.

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Para encerrar a última trilogia (e o disco) temos a belíssima balada "Epitaph to the King". Essa música possui poucos versos, priorizando a parte instrumental que é essencialmente acústica. Uma canção com um clima bastante contemplativo, e deliciosa de se ouvir. No meio da canção Mark Shelton nos entrega de bandeja um inspirado e emocionante solo de guitarra. Vale a pena mencionar que a música encerra com um dos riffs mais emblemáticos da banda sendo tocado no violão, o que inevitavelmente causa arrepios.

Como dito anteriormente, "Gates of Fire" é uma verdadeira obra de arte em toda a sua essência, e facilmente um grande destaque dentro da extensa discografia da banda. Apesar de ser o primeiro (e único) disco com essa formação – Mark Shelton, Bryan Patrick, Harvey Patrick e Cory Christner – o entrosamento entre os músicos foi imediato e nítido. Todos os músicos entregaram performances incríveis tanto em conjunto como individualmente, nos remetendo facilmente à fase de ouro da banda. Outro detalhe importante a se mencionar é que em "Gates of Fire" os vocais de Mark Shelton e Bryan Patrick estão divididos de maneira mais balanceada, e assim podemos conhecer melhor o trabalho e as habilidades do já não tão novato Bryan Patrick. A produção mais uma vez ajudou a dar mais brilho a esse verdadeiro diamante do heavy metal, pois tudo soa nítido e perfeitamente no lugar.

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Mesmo com uma formação que durou apenas um disco, "Gates of Fire" possui um lineup memorável, com um tracklist igualmente marcante. Esse é facilmente um disco que dá vontade de ouvir várias vezes seguidas, e eu tenho certeza que você irá correndo ouvir esse disco assim que terminar de ler essa resenha.

Tracklist:

(part 1: The Frost Giant´s Daughter)
Riddle of Steel
Behind the Veil
When Giants Fall

(part 2: Out of the Ashes)
The Fall of Illiam
Imperious Rise
Rome

(part 3: Gates of Fire)
Stand of the Spartans
Betrayal
Epitaph to the King

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