Machine Head: a catarse criativa em um álbum confuso e sem foco
Resenha - Catharsis - Machine Head
Por Ricardo Seelig
Postado em 09 de julho de 2019
Nono álbum do Machine Head, "Catharsis" apresenta uma mudança em relação aos quatro últimos discos da banda norte-americana. A retomada da sonoridade thrash em "Through the Ashes of Empires" (2003), a consolidação de uma nova fase no estupendo "The Blackening" (2007), o fantástico exercício de composição de "Unto the Locust" (2011) e sua continuação em "Bloodstone & Diamonds" (2014) têm os seus reflexos obviamente, mas eles não são os únicos elementos a ditar o caminho do novo trabalho da banda liderada pelo vocalista e guitarrista Robb Flynn.
O que ouvimos no álbum é um passeio por todas as fases da carreira do Machine Head, abrangendo todos os discos lançados pelo quarteto desde "Burn My Eyes" (1994) até "Bloodstone & Diamonds", o que inclui no pacote os experimentos com o nu metal nos controversos "The Burning Red" (1999) e "Supercharger" (2001). Isso é ruim? Não necessariamente. Flynn utiliza todo o seu cartel de opções e constrói um álbum que indiscutivelmente atira para várias direções, errando alguns desses balaços e acertando outros bem no alvo.
A urgente "Volatile", composta e gravada no dia dos confrontos de Charlottesville, abre o álbum de maneira agressiva. A marcha promovida pela supremacia branca norte-americana expôs o ódio racial e o neonazismo presentes no país e serviu de inspiração para Flynn derramar baldes de raiva logo de saída, chegando a lembrar Max Cavalera em alguns momentos. Porém, a trilha dos álbuns mais recentes é retomada na faixa-título, que alia groove e melodia da maneira que só o Machine Head sabe fazer.
Essa oscilação entre caminhos sonoros diversos é uma constante. Longo, o disco vem com quinze faixas que apresentam personalidades distintas. A sensação é de que há uma falta de foco, ausência de um objetivo definido e de uma direção artística clara. Essa inconstância é refletida nas canções, que ora soam fortes e convincentes, ora apenas fracas e desnecessárias. "California Bleeding", por exemplo, é uma viagem sem sentido à segunda metade dos anos 1990. Ao lado de "Triple Beam" é onde o nu metal surge mais forte, tanto para o bem quanto para o mal.
Aventureira e experimental como sempre, a banda explora novos caminhos em "Bastards", que traz influências do Dropkick Murphys, vocais falados, sutis influências irlandesas e uma letra que pode gerar controvérsia se mal entendida. No entanto, mesmo nesses momentos Flynn consegue manter o toque de ourives para criar melodias bonitas e marcantes. Outra canção singular é "Behind the Mask", onde o Machine Head invade o mesmo universo do Opeth atual em uma faixa acústica de cair o queixo e que é um dos pontos mais brilhantes do disco. Essa música também evidencia a grande participação do baixista Jared MacEachern nos backing vocals, função que ele faz com perfeição durante todo o álbum.
O groove segue onipresente na interação entre MacEachern e o baterista Dave McClain, enquanto Phil Demmel, ainda que não brilhe tanto como nos discos mais recentes, segue entregando bons solos e belas harmonias de guitarra ao lado de Flynn.
Talvez a melhor faixa de "Catharsis" seja "Heavy Lies the Crown", um épico thrash com quase nove minutos de duração que mostra o quanto o Machine Head segue sendo uma banda diferenciada em relação à maioria. A letra fala sobre Louis XI, monarca francês que governou entre 1461 e 1483 e ficou conhecido como o Rei Aranha devido à intensa diplomacia e ao gosto pela intriga que marcaram seu reinado. A canção traz o melhor do Machine Head, com melodias emocionantes, mudanças de andamento em momentos-chave, instrumentação marcante e todos os demais ingredientes da sonoridade da banda norte-americana.
Outro momento que merece menção é "Razorblade Smile", onde Flynn e companhia pagam um tributo ao finado Lemmy Kilmister e também (provavelmente de forma não tão proposital e consciente) ao Metallica.
Inferior aos álbuns mais recentes da banda, "Catharsis" mesmo assim não é um disco fraco. A falta de foco tira o trabalho dos trilhos em alguns momentos, mas quando a banda consegue acertar a mão o faz com a costumeira eficiência. No fim das contas, a conclusão é que o álbum soa como uma catarse necessária para Robb Flynn, uma purificação pessoal do músico através da exteriorização não apenas de suas diversas personalidades musicais, mas também de seus medos, anseios e críticas ao mundo atual. Ainda que um tanto difuso, o espírito rebelde e criativo do Machine Head segue vivo e forte.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O primeiro tecladista estrela do rock nacional: "A Gloria Pires ficou encantada"
A banda desconhecida que influenciou o metal moderno e só lançou dois discos
Axl Rose é criticado por sua voz após Guns N' Roses homenagear Ozzy com cover no Brasil
O álbum "esquecido" do Iron Maiden nascido de um período sombrio de Steve Harris
Documentário de Paul McCartney, "Man on the Run" estreia no streaming em breve
A melhor música dos Beatles, segundo o Ultimate Classic Rock
Bryan Adams fará shows no Brasil em março de 2026; confira datas, locais e preços
Organização confirma data do Monsters of Rock Brasil 2026
Regis Tadeu toma partido na briga entre Iron Maiden e Lobão: "Cafona para muitos"
Regis Tadeu explica por que não vai ao show do AC/DC no Brasil: "Eu estou fora"
"Um cantor muito bom"; o vocalista grunge que James Hetfield queria emular
O convite era só para Slash e Duff, mas virou uma homenagem do Guns N' Roses ao Sabbath e Ozzy
Nicko McBrain revela se vai tocar bateria no próximo álbum do Iron Maiden
Os tipos de canções do Guns N' Roses que Axl afirma terem sido as "mais difíceis" de compor


Com algumas mudanças e mais direto, Machine Head agrada em "Unatøned"
5 discos lançados em 1994 que todo fã de heavy metal deveria ouvir ao menos uma vez na vida
5 discos dos anos 2010 que todo fã de heavy metal deveria ouvir ao menos uma vez na vida
De 1970 a 2025: uma música de cada ano gravada por bandas de heavy metal
10 bandas que prestaram tributo ao Black Sabbath com covers marcantes
Pink Floyd: O álbum que revolucionou a música ocidental


