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El Efecto: candidato a constar entre os melhores do ano

Resenha - Memórias do Fogo - El Efecto

Por Victor de Andrade Lopes
Postado em 28 de março de 2018

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

Desde 2012, quando o El Efecto lançou o ótimo Pedras e Sonhos, o Brasil vem passando por turbulências políticas e sociais como há muito não se via. Para uma das bandas mais politizadas do rock nacional recente (e uma banda que, diferente da grande maioria das outras desse tipo, não se furta a dar nome aos bois em suas críticas, vide "Cabrais"), surpreende que Memórias do Fogo, lançado este mês e disponível para download no site do grupo, seja tão sóbrio e atemporal.

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Em vez de músicas sobre o golpe de 2016, os protestos de 2013 ou o tenebroso cenário político que se desenha para outubro deste ano, temos faixas que poderiam ter sido escritas 10, 20 anos atrás. Temas como racismo, capitalismo e a ditadura militar preenchem do começo ao fim o disco que marca a estreia dos guitarristas e vocalistas Tomás Tróia e Cristine Ariel, sendo esta última a primeira integrante feminina do agora sexteto.

E por que um conjunto de apenas sete canções está sendo chamado de disco, e não de EP? Porque o El Efecto criou sete universos, cada qual bastante particular em si mesmo e dono de uma mensagem forte, tanto na letra quanto no instrumental. É uma mistura da criatividade do Pink Floyd com a variedade da música brasileira, como se isso fosse possível. As guitarras pesadas se alternam com batucadas sinistras de um jeito que levaria Caetano Veloso a ser linchado, e não apenas vaiado no TUCA em 1968. Podemos então dedicar um parágrafo a cada faixa.

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A abertura "Café", se é que podemos chamar de "abertura" um trabalho de mais de oito minutos, já é um bom exemplo do que falamos no parágrafo anterior, com suas mudanças abruptas de andamento, camadas de sopros e variações de intensidades, com destaque para os acordes de cavaquinho ao final, que parecem imitar o movimento de um cafeicultor peneirando grãos.

"O Drama da Humana Manada" mergulha mais fundo nessa mistura de sons, alternando riffagens heavy metal com passagens de samba e outros ritmos nacionais a ponto de deixar talvez até o Angra admirado. Ela faz uma (necessária) crítica à glorificação desenfreada do trabalho e à falácia do "quem luta, alcança". Céus, eu poderia fazer um post inteiro só sobre isso.

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"O Monge e o Executivo" é uma daquelas faixas épicas que o grupo carioca costuma fazer, desta vez narrando a jornada dum personagem não muito raro no folclore corporativo: o executivo "zen", que busca a paz interior enquanto lucra com a exploração dos outros. Convenientemente, a banda opta aqui por um instrumental essencialmente sereno, com frases típicas orientais para ambientação, ao mesmo tempo em que recorre ao rap da convidada Helen Nzinga para tecer suas críticas sociais de forma mais direta.

"Trovoada" é, talvez, uma das mais marcantes do disco. Seguindo com a mistura de ritmos, revela-se uma das mais progressivas, com direito a andamentos intrincados e tudo. Na letra, temas como o racismo e a escravidão brotam nesse terreno musicalmente fértil.

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Além dessas quatro "épicas", temos três curtas: "Carlos e Tereza", uma mistura de carimbó, samba e rock em homenagem aos irmãos Marighella, expoentes da luta contra a ditadura militar; "Chama Negra", que destoa um tanto do resto do disco, por ser toda acústica e relativamente simples, embora tal fato possivelmente se explique na força de sua letra, expressa na penetrante voz da convidada Rachel Barros; e o enceramento "Incêndios", que acelera as coisas com aromas de punk, rockabilly e, de novo, rock progressivo.

Não chega a ser uma novidade o El Efecto criar canções tão ricas em suas individualidades, mas Memórias do Fogo leva isso a um patamar novo. E isso se deve em grande parte ao sem-número de músicos de apoio que ajudaram a engrandecer a densidade musical do disco.

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Temos aqui, senhoras e senhores, um forte candidato a constar nas listas de melhores do ano, embora 2018 talvez não chegue a terminar, como diria Zuenir Ventura a respeito de 1968.

Abaixo, o vídeo de "O Drama da Humana Manada":

Assistir vídeo no YouTube

Track-list:
1. "Café"
2. "O Drama da Humana Manada"
3. "Carlos e Teresa"
4. "O Monge e o Executivo"
5. "Chama Negra"
6. "Trovoada"
7. "Incêndios"

Fonte: Sinfonia de Ideias
http://bit.ly/memoriasdofogo

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Sobre Victor de Andrade Lopes

Victor de Andrade Lopes é jornalista (Mtb 77507/SP) formado pela PUC-SP com extensões em Introdução à História da Música e Arte Como Interpretação do Brasil, ambas pela FESPSP, e estudante de Sistemas para Internet na FATEC de Carapicuíba, onde mora. É também membro do Grupo de Usuários Wikimedia no Brasil e responsável pelo blog Sinfonia de Ideias. Apaixonado por livros, ciências, cultura pop, games, viagens, ufologia, e, é claro, música: rock, metal, pop, dance, folk, erudito e todos os derivados e misturas. Toca piano e teclado nas horas livres.
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