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Doe Sangue ao Som do Rock

Resenha - Pillow of Stone - Blood Chip

Por Rodrigo Contrera
Postado em 17 de junho de 2017

Escrever para o Whiplash torna o nosso nome interessante para bandas ou grupos, especialmente de jovens, que querem ver o seu trabalho resenhado. Assim foi com esta banda, Blood Chip (segundo eles, chipe de sangue), de Brasília, que existe desde 2009, mas que, após ter sofrido uns reveses bem tristes (como o falecimento, em 2013, do seu baixista original), somente agora, em março de 2017, lançou este trabalho, "Pillow of Stone". Não sei como eles encontraram meus emails, mas abri o trabalho há um mês, mais ou menos, e acabei gostando. Eles me mandaram bastante material, com o qual pretendo ilustrar a resenha. É a minha segunda, de uma banda que eu não conhecia. Noto que eu só resenho aquilo de que gosto.

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O Blood Chip, capitaneado pelo Barão, tem uma demo (Taste the Danger), foi campeã no Festival Caça Bandas 2011/2012, teve uma faixa inédita lançada em CD-Coletânea, e gravou um vídeoclipe que eu já postei anteriormente. Foi vencedora da seletiva regional do Porão do Rock 2012. Pronto, acabou o release.

Faixa após faixa:

As faixas do EP lançado em março deste ano destoam bastante da pegada entre si. O release comenta que a banda bebe do rock, gótico, punk, blues e rockabilly. Não discordo, mas não gosto de me ater a estilos. Digo apenas o que sinto. De forma geral, sinto-me ao ouvi-los. Não me sinto deprimido - como com outras bandas -, nem falsamente alegre, nem agitado sem motivação aparente. É um som que nos acompanha, que a gente cantarola mentalmente nos minutos seguintes, sem necessariamente ser algo pegajoso e de mau gosto.

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Bones

Tudo começa com Bones. Um vocal bastante agradável entoa uma melodia bastante simples. Uma batera forte, e uma guitarra bastante eficiente, num clima meio rockabilly rejuvenescido. Quando a ouvi pela primeira vez, a faixa não me agradou muito. Achei meio básica demais. Mas quando notei a proposta, e a pegada do teclado, senti que havia algo ali. Algo na linha do tempo voltou às referências. A letra da música, como de várias das outras, gira em torno de mulher, relacionamento, prisão, desafio, o desejo de que ela venha, etc. Um clima bem jovem, convidando a uma chegada, a dela. Um convite à vida, sem usar de lugares comuns (mas também sem filosofar). A faixa apenas convida, porém. O solo da guitarra é bem feito, e um pouco maluco (lembrando-me de alguma forma o Stray Cats), mas tudo indica que o EP está apenas começando.

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Letra

BONES

The moon enters through the window bars
Scribbling a prison on your walls
The voices challenge you to jump
And are about to triumph

If you really want to come, come
If you really want to stay, just say
If you really want to hide, die
If you really want to

Die choking on the bones
Die any way you want
It’s useless to regret
When the time has come

The ground is full of scared bones
Returning to the ashes
The night smells like gasoline
Broken hearts and drunkenness

So come with a smile
With no reason to doubt
Die with this smile
Imprinted on your skull
(Barão)

Monster

Aqui algo me remete a uma visão clássica de rock dos anos 60. Uma batida simples, harmonia tranquila após uma entrada bastante interessante, com um timbre bem atual, sem grito de guitarra, um baixo que não sobressai e a voz do Barão, que se estende por segundos a fio, no refrão, passando uma certa impressão de delicadeza, de súplica e ao mesmo tempo de cafajestagem. Claro que o monstro da letra é ela, a mulher de sempre, a garota, e que tudo gira em torno dela. Nós somos uns meros mortais diante dessa monstra. Não que evitamos isso, claro. Um excurso pessoal: há um ano e meio, eu me sentia assim. Como um mero joguete nas pernas de uma garota que quase me pirou de vez. Aliás, a segunda delas. Mas a música é também engraçada, passa uma impressão de bobo da corte, e isso é bastante cativante. Bem gravada, me dá vontade de ouvi-la alto, mas não tenho o CD (rs), só posso ouvir no meu Mac.

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Letra

MONSTER




Darling, get up off your knees

Please, don’t make me feel so down

Darling, your knees are gonna bleed

Get yourself up off the ground



Darling you’re a monster

Darling you’re a monster

They were wrong when they convinced you

You were beautiful

Cause that’s when I found out you were not

And you became a monster


That’s what you became



Darling, the mirror is a liar

Stop fooling yourself

Darling, poison’s running through your veins

And your heart is full of hate



Darling, I gotta get out

Tell me where you hid the key
I gotta get out

I gotta get out
I gotta get out

I gotta get out

Darling you’re a monster


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Darling you’re a monster

They were wrong when they convinced you

You were perfect

Cause that’s when I found out you were not

And you became a monster

That’s what you’ve become
(Barão)

In Memory

Balada calma, "In Memory" surgiu como homenagem ao baixista da banda, morto em 2013. Mas é uma balada de certa forma desesperada. Porque ela começa calma e cria um clima lúgubre logo a seguir, várias vezes. Mais um excurso pessoal. Lembro-me claramente quando eu, no meu Corsinha Classic 2004, ouvia Motörhead a todo volume, e a impressão que "Dead and Gone", em Snake Bite Love, me causava. Exatamente a mesma que esta faixa. Uma espécie de dor presa na garganta, mas que precisa sair de alguma forma. O Lemmy e trupe faziam com suas dores aquilo, bastante mais distorcido e contorcido do que esta faixa. Mas o clima, repito, é bastante similar. Quase o mesmo. Uma bela faixa de homenagem, que a gente curte com vagar e respeito.

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Letra (original e traduzida pela banda)

IN MEMORY - (Barão)

All the fears that you could not hide
Todos os medos que você não pôde esconder
All the fears that you kept inside
Todos os medos que você manteve ocultos
Even those fears you’d never known
Até mesmo aqueles que você nunca chegou a conhecer
Now everything, everything is gone
Agora tudo, tudo se foi

I walk these lonely streets
Eu caminho por estas ruas solitárias
That tell me old stories
Que me contam velhas histórias
That time did not teach me to forget
Que o tempo não me ensinou a esquecer

I know we’ll meet again
Eu sei que nos encontraremos de novo
I know we’ll meet again
Eu sei que iremos nos encontrar novamente
Somehow we’ll meet my friend
De algum modo nos encontraremos de novo, meu amigo
I know we’ll meet again
Eu sei que nos encontraremos novamente

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All the tears that seemed to have no end
Todas as lágrimas que pareciam não ter fim
All the tears that fell down in vain
Todas as lágrimas que caíram em vão
Even those tears you shed alone
Até mesmo aquelas que você derramou sozinho
Now everything, everything is gone
Agora tudo, tudo se foi

Your smile still shines lost in time
Seu sorriso ainda brilha perdido no tempo
The chords keep on rambling through my mind
Os acordes continuam perambulando pela minha mente
They don’t lie in the silence of cold graves
Eles não jazem no silencio de túmulos frios
This light will never waste away
Essa luz jamais definhará

I see the same old sidewalks passing by my dirty boots every day
Eu vejo as mesmas velhas calçadas passando pelas minhas botas sujas todos os dias
I see the same old houses creeping slowly out of the corner of my eyes
Eu vejo as mesmas casas velhas rastejando lentamente pelo canto dos meus olhos
We used to walk these streets together
Nós costumávamos andar juntos por essas ruas
Now you walk on mysterious trails
Agora você caminha por trilhas misteriosas
But I know that we’ll meet again, my friend
Mas eu sei que nos encontraremos de novo, meu amigo

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Walking Dead

É curioso como o Blood Chip me traz reminiscências algo doloridas. Neste caso, de Walking Dead, muito embora o rock mostrado seja diferente de minha referência, ele me lembra Wake the Dead, também do Motörhead, mas em We Are Motörhead. Os motivos são vários: a música parece uma mensagem a algo que envolve a morte no mundo em que vivemos. Também parece se remeter a andar no mundo, como mortos, pedindo que algo nos faça reviver. Mas o clima também é parecido. Já o rock, é mais tradicional. Uma pegada mais consolidada num rock que, se combina com a voz do Barão, leva a outras direções. Tem algo de uma mensagem mais ampla, inclusive. Não me cativou, a faixa, mas como todas as outras, é competente e seu refrão permanece em nossa mente.

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Letra

WALKING DEAD

Hey, old man
Why don’t you care about lost love?
Why don’t you care about anything?
Why don’t you give a damn?

Tell me what really keeps you walking
Keeps you walking dead
Tell me what really keeps you walking
And where you have been

Hey, old man
Where did your old rags lick that dust?
Why did you follow the path of scraps?
How can you live like this?

Tell me what really keeps you walking
Keeps you walking dead
Tell me what really keeps you walking
And where you have been

Walking, walking, walking dead, keep on walking dead
Walking, walking, walking dead, keep on walking

He did not speak but his eyes said:
"With each and every bitter word
With each and every furious sunrise
I remain silent and then I go on walking dead"

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(Barão)

Misery

A galera do Blood Chip sabe, contudo, o que está fazendo. Rock. E sabe que rock é algo para ser vivenciado em grupo, com os amigos, sempre que possível dançando e gritando a plenos pulmões. Esta faixa, "Misery", mais suave, sincopada, bem simpática e leve, convida-nos simplesmente a isso: a dançar. Mais curta que as outras (apenas pouco mais de 3 min), serve com perfeição para terminar o EP, que nos deixa diversas impressões, sempre com muita competência. O solo é típico de encerra festa, reacendendo a algo festivo, quase country até. Já o Barão comanda a trupe, mas sem tanto protagonismo, mais como um animador de festa. Muito simpático. Permaneço muito tempo com a energia da faixa na mente. A letra é aquilo que vemos todas as noites. Só isso.

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Letra

MISERY

Girl, take a look at me
Try to understand
Yes, I’m whining again
See how I am in misery

Your eyes challenge my courage
Your smile tortures like bright mornings
In Misery

Girl, take a look at me
Try to understand
I’m delirious again
See how I am in misery

Your eyes challenge my courage
Your smile tortures like white mornings
In Misery

Listen, it’s my desperate guitar
Listen, yes, I’m still alive
Come on and listen to my profane guitar

Girl, take a look at me
Hear my desolate yells
Yes, I´m drunk again
See how I am down in misery
(Barão)

Avaliação final

O EP do Blood Chip me surpreendeu, e não uma só vez. Tão logo eu o ouvi, vi que era legal. Depois, vi que ele tinha densidade. E que me remetia a momentos importantes na vida, mas no geral à vida da noite (que não frequento tanto mais). Não entro nos méritos técnicos do EP. A banda funciona. É gostosa de ouvir, nada pretensiosa, e o tom de voz do Barão, sempre muito agradável. A guitarra se transmuta a depender da pegada mas não fica chata, o baixo permanece em sua posição, altaneiro, sem interferir demais, e a bateria é eficiente. A gente fica com a música, que convence. Eu daria 9,0, porque 10,0 é sempre demais. Mas vão atrás, vale a pena.

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
Mais matérias de Rodrigo Contrera.

 
 
 
 

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