Secos e Molhados: O princípio da psicodelia brasileira
Resenha - Secos e Molhados - Secos e Molhados
Por João Pedro Andrade
Postado em 21 de novembro de 2015
Nota: 9
Você já ouviu o primeiro disco dos Secos e Molhados (1973)? Então pega o fone.
Apesar do auge da psicodelia no rock ter acontecido nos EUA e no Reino Unido no fim da década de 60, com os 'Sgt. Peppers...', dos Beatles, e o 'Are You Experienced?', do Jimmi Hendrix (ambos de 1967), no Brasil, que estava vivendo o auge da ditadura militar, com fronteiras e cabeças fechadas, essa psicodelia toda só chegou em 1973 – e quem trouxe foram os Secos e Molhados com seu disco de estréia.
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Eles vieram para chocar, para confundir. A começar pela voz de Ney Matogrosso, que confundia as pessoas pela sua androgenía e pelas sua apresentações cheias de requebrado e pouca roupa. Além disso, eles se apresentavam de caras pintadas, dançando e fazendo diversas referências ao folclore português e brasileiro (pirilampos, sacis, fadas e lobisomens, em ritmo de fado). A capa do disco também chocava as pessoas, expondo as cabeças dos integrantes expostas em bandejas e servidas em uma mesa cheias de pães, linguiças, vinho, cebola e feijão (produtos de armazém, ou, como se dizia na época, secos e molhados) e fazia um contraponto com as melodias suaves, cheias de poesia que ele trazia. Aliás, poesia é o ponto forte do álbum. Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, João Apolinário (jornalista e pai de João Ricardo, idealizador do grupo). A coisa toda misturada era bonita. Estranha, mas bonita!
Na parte musical, a mistura vai longe também. Rock, MPB, baião, jazz e folk (evidente na música "O Patrão Nosso de Cada Dia", em que a voz suave de Ney é acompanhado só pelo violão e pela flauta) juntos, muitas vezes, numa massa corrida de guitarra hendrixiana. As letras, além de trazerem os elementos de poesia já citados, eram também contestadoras para época, falando de guerra, desigualdade e sexualidade. De acordo com João Ricardo, eles foram amplamente influenciados pelos Beatles e pela Tropicália, principalmente pelos trabalhos de Caetano e Gil, que tentavam quebrar antigos tabus "na música e em uma porção de coisas."
O disco é tido como um dos mais inovadores da música brasileira (5° melhor disco brasileiro de todos os tempos de acordo com a revista Rolling Stone). Suas letras e seus poemas garantem a riqueza lírica do trabalho e fizeram com que o disco, em uma época de controle e censura, conseguisse ser criativo, crítico e experimental. Suas músicas reinventaram o pop brasileiro e, bebendo na fonte dos tropicalistas, abriram caminho para o rock nacional que tomaria conta na década de 80.
"Rompi tratados, traí os ritos, quebrei a lança, lancei no espaço, um grito um desabafo, e que me importa é não estar vencido"
1. Sangue Latino
2. O Vira
3. O Patrão Nosso de Cada Dia
4. Amor
5. Primavera nos Dentes
6. Assim Assado
7. Mulher Barriguda
8. El Rey
9. Rosa de Hiroshima
10. Prece Cósmica
11. Rondó do Capitão
12. As Andorinhas
13. Fala
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