Sepultura: 25 anos de um eterno clássico do Metal Extremo Mundial
Resenha - Beneath The Remains - Sepultura
Por David Torres
Postado em 09 de setembro de 2014
É realmente impressionante como existem álbuns que realmente parecem soar ainda melhores com o passar dos anos. Hoje, 5 de setembro, é o aniversário de 25 anos de um grande lançamento do Death/Thrash Metal que fez e ainda faz a cabeça de muitos fãs e admiradores do Metal Extremo como um todo. Lançado no distante ano de 1989 pela gravadora Roadrunner Records (que na época ainda se chamava "Roadracer"), "Beneath the Remains" é o terceiro álbum de estúdio do Sepultura. Após terem lançado materiais crus e viscerais como o histórico "Split" "Bestial Devastation", de 1985 e o "full length" de estreia "Morbid Visions", de 1986 e o mais técnico e trabalhado "Schizophrenia", de 1987, o Sepultura decidiu investir em um trabalho ainda mais maduro e que se diferenciava dos registros que haviam realizado anteriormente, marcando assim uma nova etapa para a banda.
Produzido pelo experiente produtor de Metal Extremo Scott Burns (Napalm Death, Terrorizer, Cannibal Corpse, Obituary, Morbid Angel e Death), "Beneath the Remains" foi gravado no Rio de Janeiro, no estúdio Nas Nuves, em dezembro de 1988 e mixado no Morrisound Recording, em Tampa, na Flórida e até hoje é referência para as mais diversas bandas de Death e Thrash Metal espalhadas pelo mundo. Esse é o segundo álbum da banda produzido pela Roadrunner e o segundo a contar com Andreas Kisser na guitarra solo. Há um fato bastante curioso a respeito da capa do álbum. Desenvolvida pelo artista Michael R. Whelan (que mais tarde trabalharia novamente com a banda em "Arise", de 1991 e "Chaos A.D.", de 1993), a arte original não era a mesma que foi utilizada no álbum. A arte original acabou sendo entregue para o Obituary e foi utilizada em seu segundo álbum de estúdio, "Cause of Death", de 1990. Ainda assim, devo dizer que a arte que acabou sendo utilizada pode não ser a arte mais original do mundo, mas certamente é bela e combina muito bem com o seu conteúdo.
Abrindo com uma linda introdução melódica, a pancadaria logo estoura os autofalantes na faixa de abertura do álbum, a explosiva faixa-título "Beneath the Remains". Logo de cara podemos observar um grande amadurecimento do quarteto formado por Max Cavalera (vocal e guitarra rítmica), Andreas Kisser (guitarra solo), Paulo Jr. (baixo) e Igor Cavalera (bateria). Em "Schizophrenia", de 1987, tanto as letras como a sonoridade do grupo já eram mais maduras e técnicas e nesse terceiro disco, a evolução da banda continuou de forma bem sucedida, com uma sonoridade ainda mais trabalhada e com temáticas voltadas para temas mais inteligentes e engajados, como causas sociais e política. Sucintamente, a faixa de abertura é um clássico absoluto, com "riffs" cortantes, solos dementes e alucinantes, além de levadas ferozes de bateria. E a segunda faixa é nada mais, nada menos do que um eterno clássico da carreira do Sepultura, o hino "Inner Self". Aqui nós temos o Sepultura em sua melhor forma, executando um som pesadíssimo e recheado de mudanças bem construídas de compasso e andamento, palhetadas sujas e precisas, vocais rasgadíssimos e um solo de guitarra repleto de "feeling" e criatividade. Também foi a primeira música gravada pelo grupo a ganhar um videoclipe. Um tremendo clássico com um refrão poderosíssimo e grudento:
"Blame and lies
Contradictions arise!
Blame and lies
Contradictions arise!
Non-conformity in my Inner Self
Only I guide my Inner Self!"
As guitarras de Andreas Kisser e Max Cavalera rasgam os autofalantes mais uma vez na mítica "Stronger than Hate", faixa que provavelmente é a minha predileta do álbum. O que temos aqui é um verdadeiro Death/Thrash. Sujo, trabalhado e melodicamente destrutivo. Um legítimo arrasa quarteirão perfeito para bater cabeça até o pescoço quebrar. Nessa faixa há a participações de alguns convidados especiais fazendo "backing vocals", urrando o nome da canção no refrão: John Tardy (Obituary), Scott Latour e Francis Howard (Incubus) e Kelly Schaeffer (Atteist, Stones of Madness), que é também o autor da letra. Sem jamais esfriar o disco, os ouvintes são presenteados com outra grande faixa que figura entre as minhas prediletas do disco e da banda, "Mass Hypnosis". Abrindo com "riffs" afiados, somos metralhados com uma pancada direta nos tímpanos, que se inicia de forma veloz e brutal, abre caminho para um momento cadenciado e para um magnífico solo de guitarra de Andreas Kisser (um dos melhores já gravados por ele) e em seguida retorna para o andamento brutal do início da música. Um clássico eterno!
Uma levada progressiva de bateria introduz aos ouvintes a feroz "Sarcastic Existence", que é mais uma ótima faixa que cumpre o seu papel com seus "riffs" esmagadores e passagens criativas e interessantes. A excelente "Slaves of Pain" vem logo em seguida e convida a todos para "banguearem" ininterruptamente. Novamente, a banda esbanja peso, sujeira e "feeling" em pouco mais de quatro minutos de duração. Vale comentar que essa faixa é uma regravação de uma música composta por Andreas Kisser quando ele tocava em um trio de Thrash Metal chamada Pestilence. "Slaves of Pain" é também o nome da demo lançada pela banda em 1987. "Lobotomy" é outra porrada certeira que atinge impiedosamente o ouvinte mais uma vez. Uma nova sucessão de "riffs" e levadas frenéticas de bateria pode ser conferida aqui, além de belos solos de guitarra.
O disco vai chegando ao fim e em seguida é a vez de "Hungry", que é mais uma boa faixa com elementos das anteriores, ou seja, "riffs" imundos e certeiros, mantendo a fórmula do álbum e nunca desapontando o ouvinte. Para fechar com chave de ouro, nada melhor do que mais uma porrada incrívelmente destruidora que atende pelo nome de "Primitive Future". Essa faixa foi a música de abertura na polêmica turnê do álbum e expressa exatamente o que o disco representa: uma destruição metálica completamente desgovernada e altamente impiedosa. Como se pode ver, uma tremenda forma de encerrar esse grande trabalho, não?!
No relançamento de 1997, foram incluídas mais três faixas, sendo elas versões instrumentais de "Mass Hypnosis" e "Inner Self) e um cover no mínimo inusitada de Os Mutantes, "A Hora e a Vez do Cabelo Nascer). Como disse anteriormente, a turnê de "Beneath the Remains" é muito lembrada até os dias de hoje graças a um conflito da banda com os Thrashers alemães do Sodom. Na época, o Sodom promovia o igualmente grandioso "Agent Orange" e ambas as bandas excursionaram juntos, o que culminou em um conflito que é sempre comentado pela banda e pelos fãs até os dias de hoje. Outra polêmica sórdida que ronda o álbum são os boatos de que Paulo Jr. não teria conseguido gravar o baixo no disco. Andreas Kisser já revelou anteriormente que partes do baixo usadas no álbum devido a problemas que dificultavam Paulo de tocar o seu instrumento normalmente. Ele chegou até a mencionar que Paulo ficou muito nervoso por não ter conseguido dar 100% de si nas gravações desse registro. Polêmicas a parte, o fato é que não há como negar a importância desse soberbo terceiro trabalho de estúdio do Sepultura. Trabalho que, para muitos, é o melhor da banda. Pessoalmente, meus álbuns prediletos são esse e "Arise", entretanto, independente de qual disco é o melhor e qual é o pior, não há como passar indiferente perante a uma obra prima da música extrema como essa aqui.
01. Beneath the Remains
02. Inner Self
03. Stronger Than Hate
04. Mass Hypnosis
05. Sarcastic Existence
06. Slaves of Pain
07. Lobotomy
08. Hungry
09. Primitive Future
10. A Hora e a Vez do Cabelo Nascer (cover dos Mutantes)
Faixas da edição de relançamento de 1997:
11. Inner Self (Drums track)
12. Mass Hypnosis (Drums track)
Max Cavalera (Vocal / Guitarra Rítmica)
Andreas Kisser (Guitarra Solo)
Paulo Jr. (Baixo)
Igor Cavalera (Bateria)
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