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Resenha - Divine Intervention - Slayer

Por Felipe Cipriani Ávila
Postado em 13 de maio de 2014

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

É incontestável a importância do Slayer não apenas para o Thrash Metal, mas para o Heavy Metal como um todo, por se tratar de uma banda ímpar, que influenciou uma gama de outras e continua a influenciar. Há pouco mais de um ano, no dia 2 de maio de 2013, fomos devastados pela perda de um dos guitarristas mais importantes do gênero, o sisudo e genial Jeff Hanneman. Apesar da tragédia, a banda permaneceu viva, com Gary Holt (Exodus) o substituindo (desde 2011, quando Jeff Hanneman descobriu estar com fasciite necrosante), de forma efetiva, tendo, inclusive, lançado há pouco tempo uma nova música, "Implode". O baterista Dave Lombardo saiu outra vez, em 2013, de uma forma pouco amigável, como é sabido por todos, sendo substituído por outro que já passou pelo conjunto e é um velho conhecido, Paul Bostaph.

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Voltemos um pouco ao tempo, há quase vinte, mais precisamente no dia 27 de setembro de 1994, época de lançamento do álbum "Divine Intervention", sexto álbum de estúdio da banda, que contou com a entrada de Paul Bostaph, substituindo Dave Lombardo. Desde a bela e sombria arte de capa, desenhada por Wes Benscoter, até a pancadaria sonora e as letras violentas e contestatórias, temos aqui um trabalho que possui todos os elementos que fizeram o Slayer se tornar o que se tornou, uma verdadeira instituição de respeito da música pesada.

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Em 1992, Dave Lombardo saiu pela segunda vez da banda (já que a primeira foi em 1986, pois na época ele estava insatisfeito com a falta de retorno financeiro e com o fato da banda não deixar a sua esposa acompanhá-lo na turnê), devido à exaustão causada turnê após turnê, levando-se em consideração que executar a bateria do modo que ele o faz exige não apenas muita técnica e destreza, mas também muito preparo físico. Há várias razões para explicar a sua saída, desde a já citada exaustão, até a relação conturbada com os outros membros e o fato de que provavelmente ele estivesse querendo experimentar outros ares musicais, por ser um músico muito diversificado. Razões à parte, Paul Bostaph o substituiu, tendo um grande desafio pela frente, como já era de se imaginar.

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É sabido que a década de noventa já começou complicada para o Heavy Metal, com o surgimento do grunge e do britpop. Dentre as bandas "colegas" do Slayer, o Metallica se tornou gigante em termos de popularidade após o lançamento do álbum "Metallica" (vulgo "Black Album") no dia 12 de agosto de 1991. No mesmo ano, semanas depois, foi lançado o álbum "Nevermind", do Nirvana, que contribuiu ainda mais para este "novo direcionamento" da indústria musical, fazendo com que várias bandas de Heavy Metal e Hard Rock caíssem no ostracismo. Ou seja, o contexto para as bandas que surgiram e viveram a época áurea da década de oitenta estava complicado, dado o surgimento de novos segmentos musicais que pareciam mais "atuais" e "frescos". Para salientar tal afirmação é necessário mencionar o fato de que no mesmo ano que foi lançado o disco em análise nesta matéria, "Divine Intervention", foi lançado também o autointitulado da banda Korn, tendo sido um dos álbuns que marcaram o surgimento do chamado New Metal, que logo se tornou muito popular.

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E como o Slayer conseguiu sobreviver a todas estas mudanças, lançando um disco da estirpe e classe de "Divine Intervention"? Ora, sendo fiel às suas raízes, à sua integridade musical e aos seus fãs, que sempre estiveram ao seu lado. Após o lançamento de "Seasons In The Abyss" e do ao vivo "Decade Of Aggression", de 1990 e 1991, respectivamente, o Slayer tinha o desafio de continuar sendo uma banda relevante mesmo diante de tantas mudanças na indústria musical, permanecendo uma banda que nunca decepcionava os seus seguidores, sempre os surpreendendo. Tudo isto adicionado à saída de Dave Lombardo, que deixou os mesmos, de um modo geral, muito abalados, dado a qualidade técnica deste, tornava tudo ainda mais complicado, para se dizer o mínimo. No entanto, o Slayer não decepcionou os fãs, compondo um material surpreendente!

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A música de abertura do álbum, "Killing Fields", já dá mostras da competência e da técnica de Paul Bostaph, que já nas primeiras passagens surpreende pelo complexo arranjo de bateria. A letra, que foi escrita pelo contrabaixista/vocalista chileno Tom Araya, aborda temas que já foram explorados pelo mesmo, como em "Dead Skin Mask", do álbum de estúdio anterior, "Seasons In The Abyss", como assassinatos e mortes. O andamento, agressividade e atmosfera sombria da faixa combinaram muito bem com os temas em questão, como se estivéssemos ouvindo uma trilha sonora de um thriller. Excelente modo de se abrir o trabalho, com uma música que, de antemão e com segurança, pode ser citada como um dos maiores destaques do mesmo e da carreira da banda, de um modo geral.

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A faixa seguinte, "Sex. Murder. Art" é uma pancadaria sonora, muito rápida e pesada até mesmo na letra, que aborda as agressões relacionadas ao sadomasoquismo. Outra pérola, que embora seja curta, tendo menos de dois minutos de duração, é repleta de momentos nos quais o baterista Paul Bostaph impressiona e trabalha muito, principalmente na maneira rápida de tocar o pedal duplo!

Em "Fictional Reality", Kerry King faz reflexões acerca da sociedade, de forma ácida e bem crítica. O trabalho instrumental está excelente, com passagens mais intrincadas, mostrando o quanto a banda evoluiu tecnicamente no decorrer dos anos.

A próxima música, "Dittohead", é pesada, furiosa, rápida, calcada na velha escola do Thrash Metal que a própria banda ajudou a criar e moldar. Outro momento soberbo de Paul Bostaph, que mostra, até para os mais céticos e descrentes em relação ao futuro do Slayer sem Dave Lombardo, como ele foi uma excelente escolha!

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As seis faixas seguintes mantêm o peso e a agressividade em alta, brindando o ouvinte com temas instrumentais e linhas vocais inspiradas. A faixa-título, que tem pela primeira vez a contribuição dos quatro membros na parte lírica, é épica e pesada, com ótimas e diversificadas linhas vocais de Tom Araya. Aliás, o desempenho dele no álbum como um todo está excelente. A dupla King/Hanneman nos brinda com excelentes solos na faixa em questão! A próxima música, "Circle Of Beliefs", que foi composta por Kerry King, segue o padrão de qualidade das suas criações, sendo um verdadeiro petardo, dotado de muita fúria e velocidade! A letra, que também foi escrita pelo mesmo, ataca o conformismo religioso, mostrando o quão prejudicial este pode ser para o indivíduo, podendo cegá-lo, a ponto de deixar tudo distorcido ao seu redor. Há riffs de guitarra excelentes que combinam peso e técnica com solos soberbos, que complementam e deixam a mensagem contida na letra ainda mais explícita e intensa. A sétima faixa do álbum, "SS-3", já possui uma atmosfera mais sombria, com uma letra muito instigante escrita por Jeff Hanneman, que mostra bem o interesse que ele tinha pelo período do nazismo, porém não de um modo a cultuá-lo, mas sim com a finalidade de analisá-lo de modo crítico. A letra aborda a vida do chefe de segurança do Terceiro Reich, Reinhard Heydrich, também conhecido como "A Besta Loura", "O Açougueiro de Praga" e "O Carrasco da Europa", por ser um sádico torturador, que instituiu um reino de terror em nome de Adolf Hitler, antes do seu assassinato aos trinta e oito anos. Ele foi assassinado em um carro cuja placa era "SS-3", o que explica bem o porquê da música ter sido nomeada de tal modo. A faixa seguinte, "Serenity In Murder", é também mais sombria, sendo mais experimental. A atmosfera da mesma é muito pesada, e o riff de guitarra principal é muito poderoso e complexo. Há um efeito de vocais duplos sobrepostos, que deixa tudo ainda mais perturbador e agonizante. Na penúltima faixa do trabalho, "213", Tom Araya volta a abordar a vida de assassinos em série, tanto que o nome da mesma se refere ao número do apartamento onde morava o assassino americano Jeffrey Dahmer, que assassinou dezessete homens e garotos entre os anos de 1978 e 1991. A faixa de encerramento, "Mind Control", é furiosa e rápida do início ao fim, não dando tempo do ouvinte sequer respirar, diante da catarse sonora impressionante!

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O leitor pode se perguntar se há algum ponto negativo em "Divine Intervention", mesmo diante de tantos elogios tecidos às composições do mesmo. Há sim um ponto negativo, contudo, para este que vos escreve, não compromete muito a excelência da obra com um todo. Este ponto negativo é a mixagem do álbum, que é estranha, fazendo com que a bateria e os solos de guitarra se sobressaiam em detrimento da guitarra base e do contrabaixo. O próprio guitarrista Kerry King já afirmou em entrevistas que odiou a mixagem, já que, de acordo com ele, ela prejudicou e muito a audição do trabalho, fazendo com que o material soe ruim, com uma qualidade bem abaixo do esperado. Outro que não gostou muito do resultado e do trabalho como um todo, pasmem, é o baterista Paul Bostaph, que em uma entrevista afirmou não ver consistência no álbum. Como pode ser observado diante de tal informação, "Divine Intervention" não é um disco menosprezado apenas por uma parcela dos fãs, mas até mesmo por um membro da banda. Atualmente, excetuando-se a faixa "Dittohead", que já é mais executada, quase nenhuma música do álbum aparece no repertório ao vivo da banda, o que reforça essa afirmação. Eis um fato muito triste, já que todas as composições contidas no mesmo são fortes, intensas e pesadas, e não merecem ser menosprezadas deste modo.

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Embora haja o já citado problema da mixagem, "Divine Intervention" é um álbum impecável, dotado de um poder sonoro incontestável. Há riffs e solos de guitarras maravilhosos, linhas vocais excelentes de Tom Araya, combinado a letras com temas muito interessantes. Na humilde opinião deste que vos escreve trata-se de um clássico, um álbum para ser ouvido na íntegra, tamanha a sua singularidade e qualidade musical. Aos que já são fãs de longa data da banda, peguem o seu CD na estante e redescubram este grande trabalho. E aos que ainda não o conhecem, corram atrás, pois temos aqui um dos discos mais importantes e emblemáticos da discografia do Slayer e da música pesada, de uma forma geral! Item indispensável na coleção de qualquer headbanger que se preze!

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Formação da banda à época:
Tom Araya: Vocal/Contrabaixo
Kerry King – Guitarra
Jeff Hanneman – Guitarra
Paul Bostaph – Bateria

Faixas:
1 – Killing Fields
2 – Sex. Murder. Art
3 – Fictional Reality
4 – Dittohead
5 – Divine Intervention
6 – Circle Of Beliefs
7 – SS-3
8 – Serenity In Murder
9 – 213
10 – Mind Control


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Sobre Felipe Cipriani Ávila

Headbanger convicto e fanático, jornalista (graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas), colecionador compulsivo de discos, não vive, de modo algum, sem música. Procura, sempre, se aprofundar no melhor gênero de música do mundo, o Heavy Metal, assim como no Rock'n'Roll, de um modo geral, passando pelo clássico, pelo progressivo, pelo Hard setentista e oitentista, e não se esquecendo do Blues. Play It Loud!
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