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Sonata Arctica: Muito além de uma volta às raízes

Resenha - Pariah's Child - Sonata Arctica

Por Gustavo Maiato
Postado em 29 de março de 2014

Os finlandeses do Sonata Arctica fizeram questão de dizer que o oitavo álbum de estúdio da banda Pariah’s Child seria uma volta às origens. Até passaram a usar o logo antigo e colocaram a imagem do lobo na capa, velho mascote. Durante as dez faixas, porém, vemos um disco que vai muito além dessa proposta do oldschool e acaba passeando pelas diversas fases da banda e trazendo coisas novas. Algumas músicas mais rápidas e grudentas lembram trabalhos antigos como Ecliptica e Silence, mas vemos faixas orquestradas que poderiam estar no The Days of Grays e outras mais experimentais com a cara do Unia.

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A primeira música The Wolves Die Young foi também o primeiro single e clipe. É uma música mid tempo que começa com um riff de guitarra bem melódico. A melodia do verso é uma das mais interessantes do disco, entrando na cabeça logo de cara. Vai funcionar muito bem ao vivo. A letra é inspirada no velho conto da rainha que usa uma roupa que supostamente só os inteligentes podem ver, mas na verdade ela está nua. Uma característica marcante desse álbum é o fato de algumas letras serem pequenas histórias, como pequenos contos. A banda já costumava fazer isso, como em White Pearl, Black Oceans e Caleb.

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Para quem estava ansioso pela tão esperada volta às origens, Running Lights agradou. A música bebeu da mesma fonte de Ecliptica e principalmente do Silence. O baterista Tommy Portimo havia declarado que gostava muito de tocar esse estilo mais rápido característico do power metal, então essa música provavelmente foi a que ele mais gostou de executar. A canção começa com uma pequena virada de bateria seguida do som de um motor de carro. A letra traz reflexões sobre a passagem do tempo e a evolução humana: "Once upon the future we´re gonna blame the evolution". Logo em seguida, entra um riff melódico com a bateria rápida bem oldschool, lembrando clássicos como Victoria´s Secret, My Selence e San Sebastian. Para os amantes da escola Helloween de power metal, a música é um dos pontos altos do disco.

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Take one breath começa com o som do metrônomo marcando o tempo da música e então o piano de Henrik Klingenberg soa uma escala bem bonita. A bateria entra com tons e surdos em uma levada mais cadenciada. Nesse álbum, Tony Kakko precisou exercitar muito seu lado ator, uma vez que o quesito interpretação foi bastante utilizado. Seja narrando, fazendo voz engraçada, rasgada, mudando de timbre... Tony mostrou muita versatilidade. Pelo experimentalismo e cadência, essa música lembra um pouco os trabalhos do Unia.

O segundo single Cloud Factory é a música a seguir. Ela já começa no verso, com uma bela melodia e refrão grudento (até demais!). O refrão é grande e repete sempre a mesma melodia o que pode causar uma sensação de repetição e ficar meio enjoativa. Henrik está buscando novos sons e nesse álbum ele usa muito o órgão, como nessa música. A estrutura da canção é padrão e o ponto mais diferenciado é na hora do solo que é acompanhado por um coral meio folk lembrando uma festa pirata. Tony brinca mais uma vez com seu timbre, produzindo sons engraçados e agudos.

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O álbum possui momentos em que soa parecido com trilhas sonoras. Bem grandioso. A quinta música é a Blood que poderia fazer parte de um filme de suspense. O começo já arrepia com o som de um uivo ao longe e um piano pontuando. A música vai crescendo com os strings e a voz de Tony aparece no verso, dessa vez alterada para parecer falada ao autofalante. É uma música sobre o medo, lobos e pessoas (a palavra "fear" aparece 13 vezes na letra).

Nesse álbum o guitarrista Elias Viljanen está bem apagado. Quase não se vê riffs de guitarra que se destaquem. Quando a guitarra aparece na introdução, está sempre sendo co-protagonista junto com o teclado. Os timbres também foram pouco explorados (90% é guitarra distorcida). Os solos foram o ponto alto, bem inspirados, principalmente os mais lentos. O novato baixista Pasi Kauppinen elevou o uso de seu instrumento na banda a um nível completamente diferente. Antes o baixo era mais tímido no conjunto geral, agora há até mesmo um riff de baixo na The Wolves Die Young.

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What did you do in the war, dad? é talvez a música mais interessante do álbum. Ela é estruturada em um diálogo entre um filho e um pai onde o filho reflete que o pai não sorri e anda sempre triste. O pai explica que viu coisas horríveis na guerra e que o filho é muito jovem para entender. É a melhor melodia do álbum, muito tocante e profunda, passando todo o peso e sofrimento que a letra pede. Em seguida um pequeno coro estilo Danny Elfman começa, reforçando o aspecto sombrio da música. Essa passagem é muito original se observarmos a discografia do Sonata. A música vai crescendo e alternando com passagens mais calmas, solos e riffs. A introdução lembra um pouco a Unopened ou a Revontulet, do Ecliptica e Silence respectivamente.

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A próxima é a Half a Marathon Man. A introdução é bem interessante, com um violão e vários sons de teclado criando uma atmosfera e o baixo bem marcante brincando na escala. Um timbre bastante recorrente durante o Pariah’s Child é o órgão, que já foi utilizado, por exemplo, no clássico Don´t say a word, do Reckoning Night. Nessa música, o uso do órgão aliado ao solo "Stevemorsiano" de Elias faz surgir uma sonoridade meio hard rock. Dessa vez é a palavra "beautiful" que repete muito: 35 vezes.

O álbum é ousado de certa forma. Muitas experimentações principalmente com a voz de Tony; Uso de sons externos como o motor em Running Lights, o rosnado de lobo na The Wolves Die Young, sons de fábrica na Cloud Factory e o uivo na Blood. Não foi uma transgressão completa como na passagem de Reckoning Night para Unia, mas não se pode dizer que a banda ficou na mesmice do antecessor Stones Grow Her Name.

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X Marks the Spot é uma música com certa dose de humor. Não sei se a proposta é levar tão a sério essa faixa, já que ela é uma história cômica narrada por Tony, com um conjunto de falas e passagens realmente melódicas e musicais no meio. Não é uma faixa ruim, mas também não acrescenta muito ao disco. No final, Tony dá uma de Jack Black em Escola do Rock conduzindo um coro infantil. Love é a balada que não pode faltar em um álbum do Sonata. Ela cumpre bem o seu papel. Se for tocada ao vivo, irá emocionar a plateia principalmente com seu refrão. É covardia comparar com baladas antigas como Tallulah e Last Drop Falls, mas é uma típica música lenta com padrão Sonata de qualidade.

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Larger than life foi o maior desafio em termos de composição, como é um desafio toda música de 10 minutos. Ela começa com orquestrações, tímpanos, violinos e instrumentos de sopro trazidos dos melhores momentos do The Days of Gray. Em seguida ela vai ganhando peso e crescendo, trazendo citações de peças de Shakespeare na letra: "Hemlet in Lapland, King Lear died in Vienna; Venice and Othello, Madrid I am Henry the 8th...". Ela é toda muito teatral, até mesmo operesca. Tony abusa das interpretações e as passagens Danny Elfman aparecem mais uma vez. Enfim, tem tudo que uma música de dez minutos tem a oferecer, embora careça de uma melodia mais marcante.

Pariah’s Child é um disco bom que mostra a mente fértil de Tony Kakko trabalhando a todo vapor. Não é uma volta às raízes como prometido na propaganda do álbum. Mais do que isso, ele passeia pelos álbuns anteriores, trazendo influências. O caminho que a banda está escolhendo para trilhar ultimamente é imprevisível, pois nenhum álbum desde o Unia parece ser uma sequência óbvia do outro. Talvez com o tempo surja um novo padrão para a sonoridade da banda, mas hoje em dia cada álbum é uma caixinha de surpresas. Felizmente, boas surpresas.

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Sobre Gustavo Maiato

Jornalista, fotógrafo de shows, youtuber e escritor. Ama todos os subgêneros do rock e do heavy metal na mesma medida que ama escrever sobre isso.
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